Cenários

Como o PIB do Brasil se saiu na pandemia?

24 abr 2023

Economia brasileira saiu-se bem na pandemia, quando nível do PIB ao fim de 2022 é comparado com nível na mesma data caso tendência de crescimento pré-Covid-19 tivesse sido mantida. Brasil fica na 13º posição entre 47 países.

Esta nota procura avaliar o desempenho da atividade econômica brasileira ao longo da epidemia. Para responder a essa pergunta, utilizamos a base de dados para o volume real do PIB da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para as 47 economias cujo dados estão disponíveis naquela base. A título de comparação, o PIB no 4º trimestre de 2019, trimestre anterior à eclosão da pandemia de covid-19, foi considerado como base 100 e o PIB no 4º trimestre de 2022 foi computado com base nas taxas dessazonalizadas de crescimento trimestral a partir do 1º trimestre de 2020. O PIB do Brasil teve desempenho próximo à mediana da amostra (Figura 1). O Brasil ficou na 27º posição dentre as 47 economias, isto é, 55% dos países tiveram um desempenho superior.

Figura 1: Razão entre o PIB de 2022 com o de 2019 (4º trimestres)

A dificuldade com a comparação da Figura 1 é que diferentes economias, em função do seu processo de desenvolvimento no período anterior à pandemia, apresentam diferentes tendências de crescimento. Assim, faz mais sentido, para avaliar o desempenho das economias na pandemia, comparar o nível de cada uma das economias com o nível que cada uma teria se tivesse crescido nos três anos entre 2020 e 2022 (sempre considerando como base o 4º trimestre de 2019) ao ritmo dado pela tendência prévia.

A dificuldade em determinar a tendência de crescimento de uma economia é que ela varia ao longo do tempo. Nossa abordagem foi considerar a tendência entre a última quebra estrutural da trajetória da economia e o 4º trimestre de 2019. Para cada economia determinamos as quebras estruturais e escolhemos a mais recente. Consequentemente, a tendência foi dada pela taxa de crescimento média entre a última quebra estrutural e o 4º trimestre de 2019.

Para detectar as quebras estruturais nas tendências de crescimento das economias, utilizamos as séries temporais da OCDE para o PIB trimestral real dessazonalizado para as 47 economias, a mesma série empregada na construção da Figura 1. No entanto, concedemos um intervalo de tempo de 30 anos (do 1º trimestre de 1990 e o 4º trimestre de 2019).

Na determinação das quebras da trajetória do crescimento das economias, aplicamos a detecção de mudanças pontuais binárias, computadas pelo algoritmo Binseg da biblioteca ruptures. Essa metodologia, com base em Bai (1997) e Fryzlewicz (2014), é sequencial, em que um ponto de quebra estrutural é detectado e, então, a série é separada ao redor deste ponto. O algoritmo detecta múltiplas quebras estruturais, podendo ser aplicadas mesmo quando o número de quebras estruturais é desconhecido. Isto é, o algoritmo descobre o número de quebras e a data de cada uma delas.

Com base na tendência de crescimento das economias, dada, como vimos, pelo crescimento médio entra a quebra estrutural mais recente (para o período anterior ao 4º trimestre de 2019) e o 4º trimestre de 2019, calculou-se o nível de produto que haveria no 4º trimestre de 2022 se a economia tivesse crescido à taxa dada pela tendência.

A Figura 2 apresenta o resultado. O Brasil teve um desempenho melhor do que a média e a mediana, ocupando a 13º posição dentre as 47 economias. Somente 26%, ou pouco mais de ¼, das economias tiveram desempenho superior ao brasileiro.

Figura 2: Posição no 4º trimestre de 2022 relativa à dada pela tendência de crescimento (base 4º trimestre de 2019)


Literatura

Bai, J. (1997). Estimating multiple breaks one at a time. Econometric Theory, 13(3), 315–352.

Fryzlewicz, P. (2014). Wild binary segmentation for multiple change-point detection. The Annals of Statistics, 42(6), 2243–2281.

Observação: acompanha essa nota o arquivo excel (link). Na aba Dados estão os dados do PIB trimestral de cada um dos países em números índices. Na coluna BE o nível do PIB no 4º trimestre de 2019. Na coluna BG as datas da quebra estrutural mais recente anterior ao 4º trimestre de 2019. Na coluna BI a tendência estimada para cada economia. E na coluna BJ o PIB contrafactual se a economia tivesse crescido entre o 4º trimestre de 2019, a data base, e o 4º trimestre de 2022 à taxa dada pela tendência.

Na aba Gráficos é possível encontrar os dois gráficos do texto.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Comentários

Rocha de Almeid...
Fazia tempo que eu não lia um papel de qualidade. Saudade da FGV...
José Costa de O...
Samuel pessoa
Aline de Souza ...
Boa noite! Estou fazendo um trabalho do TCC, com o tema Covid 19, eu gostaria de receber algumas informações que eu possa utilizar no meu trabalho. Agradeço

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