Cenários

Completou-se a recuperação pós-pandemia

14 set 2022

PIB e PO já estão acima do nível pré-pandemia, com reabertura econômica e expansão fiscal eleitoral. Em 2023, com pleno emprego e inflação bem acima da meta, será preciso contração fiscal para que em 2024 inflação vá para meta.

No início de setembro, o IBGE divulgou o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre de 2022. A equipe de economia aplicada do FGV Ibre esperava crescimento de 1% ante o primeiro trimestre de 2022 e de 2,9% ante o segundo trimestre de 2021. Os resultados divulgados foram um pouco melhores, respectivamente 1,2% e 3,2%.

Há sinais de que praticamente se completou o processo de recuperação da economia em seguida ao tombo do segundo trimestre de 2020, de 9%. No segundo trimestre de 2022, a economia rodou 3% acima do nível anterior à epidemia, isto é, do quarto trimestre de 2019. Mas o sinal mais claro de que se completou a recuperação é o dado dos ‘outros serviços’, o segmento mais afetado pela crise e de recuperação mais lenta. Outros serviços respondem por aproximadamente 15% da economia, mas por 34% do emprego. No segundo trimestre deste ano, o segmento apresentou forte recuperação, rodando 4,4% acima do quarto trimestre de 2019, 3,3% acima do primeiro trimestre de 2022 e 13,6% acima do segundo trimestre de 2021.

A figura apresenta a trajetória da economia brasileira em bases trimestrais, com ajuste sazonal, desde 2007. A base 100 está no quarto trimestre de 2022. A tendência para o período posterior à grande crise brasileira de 2014 a 2017 foi calculada considerando como base o período do primeiro trimestre de 2017 até o quarto trimestre de 2019. A tendência de crescimento nesse triênio foi de 1,3% ao ano. Com a última divulgação do IBGE, a economia situou-se, no segundo trimestre de 2022, 0,29% abaixo da tendência prévia.

Além de boas notícias na atividade econômica, temos tido ótimas notícias no desempenho do mercado de trabalho. A tabela abaixo apresenta uma fotografia do mercado de trabalho no segundo trimestre de 2022. Cada linha da tabela representa a taxa de variação em relação a três bases diferentes de comparação. Na primeira coluna da tabela estão as taxas de crescimento para a população ocupada (PO) e, na segunda coluna, para a massa salarial, o resultado da multiplicação da PO pelo rendimento médio.

BASE

POPULAÇÃO OCUPADA

MASSA SALARIAL

1º TRI 2022

2,0

4,1

2º TRI 2021

11,1

4,8

4º TRI 2019

6,2

-2,2

 
A PO cresceu 2% ante o primeiro trimestre de 2022, 11,1% ante o segundo trimestre de 2021 e rodou, no segundo trimestre de 2022, 6,2% acima do nível anterior à pandemia. Como comparação, na economia americana, que tem se recuperado muito rapidamente, a PO encontra-se somente 1% acima do nível pré-crise.
 

 

PIB

Consumo das Famílias

Consumo do Governo

Formação Bruta de Capital Fixo

Exportação

Importação

 

Brasil

EUA

Brasil

EUA

Brasil

EUA

Brasil

EUA

Brasil

EUA

Brasil

EUA

2019.IV

100

100

100

100

100

100

100

100

100

100

100

100

2020.I

98

99

99

98

100

101

104

99

96

96

99

97

2020.II

89

90

88

89

92

102

88

91

96

76

88

80

2020.III

96

97

94

97

95

101

98

96

97

85

82

94

2020.IV

99

98

97

98

97

101

113

100

96

89

97

100

2021.I

100

99

97

100

96

102

122

104

99

89

108

103

2021.II

100

101

97

103

98

102

117

104

109

90

105

104

2021.III

100

101

98

104

98

102

117

104

101

89

99

106

2021.IV

101

103

99

104

99

101

117

105

101

94

100

110

2022.I

102

103

99

105

99

101

113

107

106

92

96

115

2022.II

103

103

102

105

98

100

119

106

104

96

103

116

 

A tabela acima apresenta a comparação da trajetória de recuperação da economia brasileira e da americana em seguida à crise causada pela epidemia, para o produto interno bruto (PIB) e para os principais componentes da demanda agregada. Em todas as séries considerei nível 100 para o quarto trimestre de 2019. Tanto a economia brasileira quanto a americana encontram-se 3% acima do nível anterior à pandemia. Há diferenças de composição na recuperação. No Brasil, o investimento voltou muito mais forte, fruto também do nível muito deprimido que vigorava antes da crise. E a retomada do consumo foi mais intensa para a economia americana. De qualquer forma, há grande paralelismo entre as trajetórias de recuperação das duas economias.

O que esperar para o segundo semestre de 2022? A surpresa positiva no primeiro semestre deste ano teve dois motores. Primeiro, as forças da reabertura da economia. Como vimos, o principal motor dessa recuperação, o segmento de outros serviços, já se normalizou. O segundo motor do desempenho melhor foi a expansão fiscal em ano eleitoral, em função do ciclo político da despesa pública. Este motor ainda estará conosco no segundo trimestre. Finalmente, há um terceiro motor que deve manter desempenho ligeiramente positivo neste segundo semestre. No segundo trimestre de 2022, a massa salarial real, como ilustrado pela tabela, cresceu 4,1% em relação ao primeiro trimestre e 4,8% em bases interanuais.

Assim, é possível que os fatores listados no parágrafo anterior continuem compensando a contração monetária e o ano termine com crescimento entre 2,5% e 3% e com a taxa de desemprego na casa de 8,5%. O(a) novo(a) presidente, ou o atual, se reeleito, ao se sentar na cadeira no Palácio do Planalto, olhará 2023 e verá uma economia a pleno emprego com inflação bem acima da meta. O ciclo político na despesa falará mais alto. Em 2023 teremos contração fiscal. Caso contrário, será muito difícil para o Banco Central entregar inflação na meta em 2024.


Esta é a coluna Ponto de Vista da Conjuntura Econômica de setembro de 2022.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Comentários

José Luis Oreiro
https://jlcoreiro.wordpress.com/2022/09/19/e-possivel-falar-em-taxa-de-desemprego-no-brasil-algumas-consideracoes-a-partir-da-macroeconomia-estruturalista-do-desenvolvimento/
Chico Sena
O cenário de 2023 já é outro, mesmo a inflação longe da meta, houve queda na prévia do mês de março, a arrecadação aumentou, mas os investimentos ainda estão abaixo, com isso o PIB tende ficar abaixo de 2022, a demora na apresentação do novo arcabouço fiscal também atrapalha a confiança do mercado, enfim ainda vivemos grande incerteza econômica para 2023 e 2024.
Gabriel cardoso luis
No cenario que estamos hoje, mesmo pos pandemia , ainda o crescimento ocilando, no meio da pandemia governo tentou manter a economia girando por meios de auxilios , liberação do saque do fundo de garantia, taxa de desemprego subiu um pouco, como aumentou um pouco nivel de empregos , governo não esta dando alguns beneficios a empresa , como tem muitas indo embora do pais , exemplos grandes montadoras, e espera que o PIB cresça para os proximos anos
Fernanda Ueno
Como podemos ver os gastos políticos sempre foram os grandes problemas da economia na história. Sendo somente esses cortes um ótimo salto para uma melhora significativa e investir na população para um giro no mercado. Para 2024 teremos um mercado frágil pela mínima expectativa pós melhora da pandemia. Porém os números são poucos significativos, se tivermos mais gastos do que o previsto o PIB pode diminuir assim trazendo muita instabilidade para a inflação em 2024/2025. Recuperação pode ser lenta e trazer grandes reflexos para economia atual e futura.
JOSE KLEVERTON ...
Segundo a Macroeconomia, o papel do governo é fundamental e consistiria em manter uma boa política monetária a fim de promover a estabilidade econômica. Igualmente, caberia ao governo evitar que se gaste mais recursos que o arrecadado, distribuir a riqueza de maneira a corrigir desigualdades e auxiliar as empresas a manter em marcha a economia.
Jonatas Da Silv...
Embora tivemos uma melhora na economia pós pandemia e o mercando reagindo, ainda temos muita dificuldades para 2023 e 2024 pois temos o combustível subindo e muitas mercadorias com preços elevados no mercado afetando a população , fazendo com que a economia seje afetada de forma negativa, mesmo com o novo governo mantendo os auxilias do antigo governo e criando novos ,não esta sendo suficiente para batemos a meta de 2024 O valor do IPCA hoje está em +0,12%, de acordo com dados divulgados em 11 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao mês de julho de 2023, após a primeira queda de 2023 em junho. A inflação ficou acima do previsto, puxada por forte alta nos preços dos combustíveis, revertendo a influência do mês anterior. O IPCA foi mais alto que em julho de 2022, mês que havia fechado com alta de -0,68%. Com isso, a inflação acumulada nos sete meses de 2023 foi de 2,99%.
Marcele
A economia brasileira se saiu bem na pandemia, quando o nivel do PIB ao fim de 2022 È comparado com o nivel na mesma data, caso crescimento da covid 19.
Leonardo Marinh...
Apesar da pandemia, o país tem conseguido manter sua economia a pleno vapor. De acordo com um levantamento feito pela agencia de classificação de risco Austin Rating á pedido da CNN, o Brasil conseguiu encerrar um ciclo de três anos de pandemia tendo o 21º lugar na recuperação mais rapida, numa lista de 40 países. Isso se deve a diversos fatores e medidas que foram tomadas neste período, como por exemplo os auxílios que foram ofertados a população como medidas emergenciais, e também á pluralidade de inovações que foram criadas, para que os serviços continuassem sendo realizados de casa, entre outras medidas. o desafio agora é manter o crescimento desses números.
Joab Pires
Embora a emconomia do paìs viver em uma instabilidade a décadas, em 2019 surge a pandemia afetando a enconomia global trasendo crise gerou impactos dramáticos na pobreza e na desigualdade global. A pobreza global aumentou pela primeira vez em uma geração, e as perdas desproporcionais de renda entre as populações desfavorecidas levaram a um aumento drástico da desigualdade entre os países e dentro deles. com tudo isso em 2021 economia brasileira já demonstrou crescimento com as exportações brasileiras respondendo positivamente e fechando o ano batendo recordes. O ano de 2021 foi marcado pela aceleração na digitalização. Desde 2019, 1,5 mil novos serviços públicos migraram para o ambiente virtual e, durante a pandemia, 68 milhões de brasileiros foram inseridos pelo governo no mundo digital. Essa aceleração na digitalização ajudou a população, com acesso fácil e digital a soluções como Auxílio Emergencial, Pix, seguro-desemprego e carteiras digitais de trânsito e de trabalho. O Brasil termina o ano reconhecido como o sétimo principal GovTech do mundo (entre 198 economias analisadas) e o primeiro das Américas.

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