Confiança do Consumidor e da Indústria ao redor do mundo
Diante da primeira pandemia do século XXI, os agentes econômicos precisaram aprender a lidar com medidas restritivas de isolamento social afetando suas vidas e a economia como um todo. Nesse novo cenário, houve piora das condições econômicas e elevação do nível de incerteza em relação ao curto prazo, gerando quedas sem precedentes dos níveis de confiança, tanto por parte das famílias quanto dos empresários. Em abril, Índice de Confiança da Indústria (ICI) e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), ambos calculados pela Fundação Getulio Vargas, registraram perdas recordes de 39,3 pontos e 22,0 pontos, respectivamente, atingindo valores mínimos históricos, e o resultados de maio e a prévia de junho mostram uma tendência de recuperação advinda pelas expectativas principalmente empresariais.
Para comparar os resultados do Brasil com o resto do mundo, foram selecionados países cuja comparação fosse possível considerando três critérios: ter índice de confiança disponível para o país (e com correção sazonal), relevância na economia mundial e países que podem ser comparáveis economicamente com o caso brasileiro. Todos os dados foram padronizados com média 100 e desvio padrão 10 no período entre janeiro de 2006 e dezembro de 2013, que compreende o início da série para todos os países e excluindo o período recessivo de 2014 a 2016 brasileiro, o que dificultaria a análise.
A confiança dos consumidores vinha apresentando um comportamento de recuperação gradual após a grande recessão que o país enfrentou entre os anos de 2014 e 2016, mas mesmo antes da pandemia, os consumidores já apresentavam uma postura mais cautelosa dada a grande dificuldade de recuperação do mercado de trabalho e alto nível de incerteza fazendo com que na comparação com os demais países, Brasil descolasse completamente não apenas dos países emergentes, mas também dos desenvolvidos desde 2014.
Ainda que no grupo de países emergentes, a China tivesse grande participação nos bons resultados da confiança dos consumidores nos últimos anos, o nível de 130 pontos foi ultrapassado apenas no ano de 2019, enquanto, os países desenvolvidos se mantiveram em torno do patamar de 120 pontos desde meados de 2014. A comparação usa dados até maio, quando os efeitos decorrentes da pandemia já são mais disseminados no mundo, mas é importante ressaltar que nem todos os países têm dado disponível no período. Observando os dados, a queda no Brasil foi bem mais intensa que os outros dois grupos, apesar de alguns países importantes economicamente já terem sido afetados intensamente pelos efeitos do vírus em seus países como é o caso de Itália, Espanha e China.
Na tabela abaixo, apresentamos a situação de cada país no final de 2019, considerando ser um período anterior à pandemia. Além disso, também são expostos quanto (e quando) cada país perdeu nesse período de pandemia, e o quanto já recuperou. Vale lembrar que alguns países ainda não divulgaram os dados de maio. É possível notar que o Brasil foi o país que apresentou maior queda nesse período, mas que já apresentou algum tipo de recuperação (em junho a recuperação foi maior). Países como Argentina, China, Colômbia e México não perderam tantos pontos de confiança quanto o Brasil, mas ainda não divulgaram o dado de maio, então não é possível saber se abril foi o fundo do poço.
É importante ressaltar que o nível de confiança no Brasil apresentado no final de 2019 já era um dos mais baixos, distante da média dos países desenvolvidos e de importantes emergentes como China, por exemplo. Além do Brasil, Argentina e Colômbia também estavam com confiança baixa, mas não perderam tanto nesse momento de pandemia.
Confiança da Indústria
Observando o lado dos empresários industriais, é possível notar comportamentos divergentes do observado no consumidor. O ponto de consenso é a piora expressiva dos dados brasileiros como foi mostrado no início. Porém, os efeitos da pandemia são mais claros ao redor do mundo, com resultados bem mais negativos.
Primeiramente, comparando emergentes e desenvolvidos, nota-se que nos últimos anos, os países desenvolvidos se mantêm com a confiança mais elevada do que os demais. No caso brasileiro, mais uma vez a última grande recessão colocou a confiança da indústria em patamares muito abaixo dos dois grupos. A partir de 2018 há uma convergência na tendência de queda dos dois grupos corroborando a desaceleração global observada no período. Já no início de 2020, o impacto nos países emergentes é muito mais forte, por grande influência da China, que teve sua atividade paralisada primeiro por ter sido o país com os primeiros casos de coronavírus registrados. Outro ponto que vale destacar, é a velocidade da recuperação da indústria chinesa.
Analisando pontualmente, é possível notar que a queda da confiança da indústria foi muito mais generalizada do que do consumidor. Grande parte dos países registrou grandes quedas, inclusive com mais de 40 pontos abaixo. Considerando perdas globais, a indústria brasileira foi uma das que mais sofreu nesse período, justo com China, Colômbia e Turquia. Um ponto que liga o sinal de alerta é que o Brasil foi um dos países (com dados até maio) que menos recuperou até o momento. Apenas Espanha recuperou menos, mas também não registrou queda tão intensa quanto no Brasil.
Ainda é cedo para prever como e em que velocidade será feita a recuperação dos índices de confiança no país. Depois de uma grande recessão, os indicadores vinham se aproximando dos patamares de outros países importantes ou similares, porém essa nova crise gerada pela pandemia de coronavírus trouxe uma instabilidade para o país.
Uma crise sem precedentes na história recente do país, atrelada ao elevado nível de incerteza (que se mantém resiliente próximo ao máximo histórico) e a deterioração do mercado de trabalho contribuem para imaginar que a recuperação no país pode ser mais lenta que a grande maioria observada.
Apêndice
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