Macroeconomia

A construção digital

19 abr 2018

No Boletim Macro de março, a projeção do FGV IBRE aponta um crescimento de 1,1% para o PIB da Construção em 2018, sinalizando que 2017 encerrou definitivamente o ciclo de quatro anos que deixou o PIB setorial 20% menor. No entanto, se mantiver esse ritmo de crescimento, o setor levará quase 20 anos para recuperar o patamar alcançado em 2013.

De fato, a retomada não parece robusta, mas os indícios são consistentes: na edição de março, a Sondagem da Construção, calculada pelo FGV IBRE, mostrou que o Índice da Situação Atual (ISA), que registra a percepção em relação à situação corrente dos negócios do empresariado, estava dez pontos acima do patamar mínimo, alcançado em maio de 2016.

Com tantos gargalos a serem resolvidos na infraestrutura e habitação, por exemplo, parece indiscutível e necessidade de o país aumentar a velocidade de crescimento do setor.  Mas o ciclo de 2007 a 2013, quando a taxa média de crescimento alcançou 7,1%, trouxe à tona as limitações de um setor ainda essencialmente artesanal e com uma produtividade bastante baixa: houve falta de mão de obra qualificada, ocasionando a elevação dos custos acima da produtividade.

Em contrapartida, o “apagão” de mão de obra do período determinou o início de algumas mudanças: preocupadas com a baixa produtividade, algumas empresas começaram a investir em novos processos construtivos e em inovação.

Uma dessas inovações que vem ganhando força é o Building Information Modeling (BIM), uma ferramenta que cria a construção virtual, integrando as informações relativas à obra, desde a fase de projeto até a execução, chegando também à manutenção predial pós-obra.

Os modelos digitais de obras possibilitam acesso a uma grande quantidade de informações, que são disponibilizadas de forma precisa e padronizada, contribuindo para direcionar a fabricação e a aquisição de componentes por meio dos quais a construção é realizada.

Segundo Carvalho (2016),[1] essa é uma inovação que pode aumentar substancialmente a produtividade do setor,  pois possibilita que arquitetos, engenheiros, mestres de obra e gestores trabalhem em conjunto, facilitando tarefas de compatibilização e detecção de erros ainda nas fases iniciais de projeto. A integração deve se dar também com os fornecedores da obra, que precisam criar bibliotecas BIM de seus produtos, ou seja, transformar a nomenclatura dos produtos em um padrão que possa ser utilizado pelo modelo.

Por isso, o BIM é entendido como uma questão que diz respeito à toda a cadeia da construção, exigindo uma grande mudança na cultura organizacional e disponibilização de informação e de gestão do processo construtivo. Com tantos entes envolvidos, sua implantação não é simples, especialmente, porque exige uma qualificação adicional de todas as partes.

Os benefícios já têm sido amplamente mensurados em vários países que já adotam a ferramenta, como EUA, Reino Unido e Singapura, entre outros, onde a disseminação do BIM está bastante avançada. Em muitos países, como o Reino Unido, por exemplo, a utilização do BIM em projetos de infraestrutura já é mandatória.

Na América Latina, o processo de implantação está se iniciando no Chile e no Peru.

É importante observar que especialmente para os projetos de infraestrutura, a sinalização do Estado é parte fundamental de uma estratégia de disseminação dessa ferramenta.

No Brasil, o BIM já é utilizado por várias empresas de todos os segmentos. No ano passado, por meio de decreto presidencial, criou-se o Comitê Estratégico de Implementação do BIM, constituído por vários Ministérios, em conjunto com entidades privadas do setor. O objetivo é fazer o lançamento da Estratégia Nacional de Disseminação do BIM, em julho de 2018.

Para verificar o grau de utilização e conhecimento da ferramenta no país, em março, a Sondagem da Construção incluiu algumas questões relativas ao tema. O resultado mostrou que ainda é baixa a participação das empresas no uso do BIM: apenas 9,2% utilizam esta ferramenta. Em termos de segmento, o BIM está mais disseminado entre as empresas de Edificações Residenciais (13,9%).

O desafio que o setor tem para tornar o BIM mais disseminado mostra-se na pesquisa: além do baixo percentual que reporta usar esta ferramenta, há uma elevada sinalização de empresas que informaram que não sabem se usa esta ferramenta, o que é um indicativo de desconhecimento. Outro ponto negativo é o fato de que nenhuma empresa do segmento de Obras de Acabamento reportou o uso do BIM, o que ratifica que essa ferramenta não está disseminada em todo processo produtivo. Este segmento é notoriamente de mais baixa produtividade em relação aos demais.  Vale observar também que o percentual de utilização entre as empresas de infraestrutura é inferior à média do setor.

Enfim, há um longo caminho a percorrer, mas já foi dada a partida, o que é bastante promissor.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.


[1] Carvalho, Pedro Manuel Paiva (2014) – Análise Estatística do Estado de Implementação da Tecnologia BIM no Setor da Construção em Portugal.

 

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Bianca
Júlio Calsinski

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