Macroeconomia

Crise do diesel: Democracia brasileira mostra a sua cara

3 jun 2018

A greve dos caminhoneiros começou no início da semana retrasada. A princípio, a impressão que se tinha ao acompanhar o noticiário era a de que seria resolvida sem maiores contratempos. Ao se acompanhar o processo de negociação, observava-se o poder público perdendo terreno. O governo cedia e o movimento resistia. Ao fim e ao cabo, o Planalto se viu forçado a atender o pleito dos grevistas.

De tudo que se viu, tiro algumas conclusões. Em primeiro lugar, chamou a atenção a postura da população. Esperava-se certa indignação com o movimento devido aos prejuízos que a greve causaria no dia-a-dia de todos. No entanto, não foi o que se observou. Segundo pesquisa do Datafolha, 87% dos brasileiros apoiaram a paralisação. O evento parece ter dado materialidade à onda de desânimo que toma conta do país. A solidariedade foi maciça. Creio que uma mensagem importante pode ser tirada daí: embora a inflação esteja baixa, o desalento está em alta.

Levando-se em consideração a larga experiência na gestão política em situações de alta tensão que a equipe do Planalto detém, é difícil acreditar que tenham cometido grandes equívocos na condução da crise. Creio que a impopularidade de Temer falou mais alto. Deixou o governo nas cordas. Sem força para reagir. Por conta disso, não sobrou alternativa à presidência a não ser aceitar as condições estabelecidas pelos caminhoneiros. Assim, ficou acertada: redução do PIS/Confins e da CIDE; congelamento do preço por 60 dias; isenção de pedágio no 3º eixo suspenso; definição de tabela mínima para o frete; e compromisso de não haver reoneração da folha do setor.

Até ser deflagrada a atual crise, chamava a atenção o fato de a baixa aceitação popular do presidente não ter criado sérios problemas na governabilidade. Foi a primeira vez que a impopularidade de Temer cobrou um alto preço para sua gestão. A impressão que se tinha era a de que, na verdade, tínhamos uma politicocracia. Termo utilizado por Phillipe Schmitter ao se referir a um modelo no qual a classe política toma as rédeas do país. Restando à população apenas o papel de eleger seus representantes. Com o posicionamento da população sendo o fiel da balança no processo de negociação da greve nas estradas, a democracia brasileira mostra sua cara. Naturalmente, em um país em que a situação fiscal é dramática, a complexidade do jogo aumenta. E a manutenção da ordem econômica fica ainda mais difícil.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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