Política e Governo

A crise do PSDB

29 jun 2022

Crise do PSDB desde maio de 2017, com envolvimento de Aécio no escândalo da JBS, foi agravada pelo apoio tucano a Bolsonaro. Um partido que se quer democrático não se junta à extrema-direita autoritária sem arriscar o suicídio.

A implosão da candidatura presidencial de João Doria tornou mais aguda ainda a grave crise pela qual vem passando o PSDB desde maio de 2017, quando da eclosão do escândalo envolvendo Aécio Neves – ex-governador de Minas, ex-presidente da Câmara dos Deputados e candidato do partido ao Palácio do Planalto em 2014 – com o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS.

O início da crise em 2017 é um dado irônico porque, em 2016, os tucanos estavam em ascensão. Afinal, haviam voltado a ocupar ministérios importantes com a posse de Temer na presidência, vindo também a ser um dos grandes vencedores das eleições municipais naquele ano.

A partir do escândalo, uma série de fiascos e passos surpreendentes tornaram-se a tônica do PSDB. É fundamental rememorá-los para que se tenha a devida dimensão dos erros cometidos pelos líderes da agremiação e de como seu declínio parece irreversível.

Em primeiro lugar, em 2018, pela primeira vez desde 1994, o PSDB não foi um dos dois principais partidos a disputar as eleições presidenciais, tendo perdido o lugar para Bolsonaro. De maneira surpreendente, algumas das mais relevantes seções estaduais da sigla e seus respectivos líderes se associaram explicitamente a Bolsonaro, a começar por João Doria em São Paulo e Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Ou seja, um partido que havia nascido com orientação social-democrática – e que, depois, se tornara a nau capitânia da direita democrática – aceitou apoiar e ir a reboque de um político de extrema-direita e defensor ardente de ditaduras.

Ato contínuo, no primeiro ano da presidência de Bolsonaro, em 2019, os parlamentares, governadores e prefeitos tucanos ou apoiaram explicitamente o ex-capitão do Exército ou foram ambíguos e tépidos nas críticas que lhe dirigiram. Não se registram críticas dignas de nota do PSDB à extensa militarização do governo e politização das Forças Armadas sob Bolsonaro. Nota bene: foi sob o governo de um dos fundadores do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, que se criou o Ministério da Defesa (em 1999), o qual tinha por objetivo fundamental submeter a caserna à autoridade de políticos democraticamente eleitos. Tal qual acontecera com as privatizações e o fator previdenciário, os tucanos jamais se esforçaram para defender, de maneira crível, um dos grandes legados dos dois mandatos de FHC.

Apenas em 2020, com a pandemia e o negacionismo de Bolsonaro, alguns – repita-se, alguns – próceres do PSDB, finalmente, se levantaram para fazer real oposição a um presidente que ameaçava permanentemente as instituições e a Constituição Federal. Destaque-se aqui o então governador João Doria.

Todavia, em agosto de 2021, nada menos do que 44% dos deputados federais do PSDB em plenário votaram a favor do projeto de emenda constitucional em prol do voto impresso, proposta política central do bolsonarismo. À época, apenas os cegos não viram a enorme incoerência que o vultoso respaldo do tucanato ao bolsonarismo criara para os então pré-candidatos da sigla ao Planalto, Eduardo Leite e João Doria.

Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro de junho/2022.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.


[1] Ver “Após dizer que ‘PSDB acabou’, Lula muda o tom e afirma que país era feliz quando PT e tucanos rivalizavam”, O Globo, 01/06/2022, disponível em https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/06/apos-dizer-que-psdb-acabou-lula-muda-o-tom-e-afirma-que-pais-era-feliz-quando-pt-e-tucanos-rivalizavam.ghtml.

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