Macroeconomia

Crise pode abortar tênue melhora de expectativas sobre o Brasil

7 jun 2017

A América do Sul parece ter eliminado um dos problemas que no passado levaram a processos inflacionários que fugiam do controle: bancos centrais descompromissados com a preservação do valor da moeda. É o que mostra a pesquisa realizada pela Sondagem Econômica da América Latina Ifo-FGV no mês de abril.É o que mostra a pesquisa realizada pela Sondagem Econômica da América Latina Ifo-FGV no mês de abril. Falta de credibilidade em relação à política do banco central não é um problema relevante para os países da América do Sul. Em especial, o indicador para o Brasil é melhor do que o da região. As boas notícias para o Brasil, porém, param por aqui. Na região, a Sondagem mostrou que o país tem os piores indicadores na agenda de problemas a serem enfrentados. Além disso, a comparação desses resultados com o clima de expectativas otimistas que havia no mês de abril já sinalizava a fragilidade da situação atual do país.

A Sondagem Ifo-FGV sobre os principais problemas é uma pesquisa junto a especialistas que atribuem uma pontuação de acordo com a relevância do problema – quanto pior, mais alta é a pontuação. Abaixo de 50 pontos, o problema é pouco relevante, e acima de 50, é relevante .

O Gráfico 1 mostra os resultados para o Brasil e a América do Sul (exclusive Brasil e Venezuela). Os únicos problemas não considerados relevantes no Brasil, em ordem decrescente de importância foram: clima desfavorável para investidores estrangeiros; gerenciamento ineficiente da dívida; barreiras às exportações; e, falta de credibilidade no Banco Central. Esses mesmos problemas não foram relevantes para os países da América do Sul.

Os problemas relevantes para o Brasil, também em ordem decrescente de importância, foram: demanda insuficiente e corrupção (ambos com pontuação máxima de 100); infraestrutura inadequada; instabilidade política; barreiras legais e administrativas para os investidores; falta de competitividade internacional; falta de inovação; aumento na desigualdade de renda; falta de confiança na política do governo; falta de mão de obra qualificada; e, falta de capital.

Entre os problemas citados como relevantes para o Brasil, a América do Sul não compartilhou as questões associadas à instabilidade política e falta de capital. Além disso, nas questões consideradas relevantes, exceto falta de inovação e falta de mão de obra qualificada,  o Brasil registrou pontuação mais elevada do que a região em todas as outras.

Gráfico 1: Principais problemas enfrentados na situação atual pelo país: abril 2017

Fonte: Fonte: Sondagem Econômica da América Latina Ifo-FGV, www.portalibre.fgv.br

No mesmo mês de abril, quando o Brasil apresentava uma agenda com “graves problemas, os indicadores de expectativas da Sondagem Ifo-FGV do país estavam numa zona favorável e haviam melhorado em relação ao mês de janeiro. O Gráfico 2 mostra os indicadores de expectativas (IE) e os da avaliação da situação atual (ISA). Acima de 100 pontos os indicadores estão na zona favorável e quanto maior o indicador, melhor é a avaliação. Abaixo de 100 pontos estão na zona desfavorável e quanto menor, pior é a avaliação. Após a posse do governo interino de Temer, em maio de 2016, depois confirmado em agosto do mesmo ano, o IE do Brasil passou para a zona favorável, mas a avaliação da situação atual não registrou melhora, ficando o indicador com valor zero. Uma reação do ISA começou a ser esboçada em janeiro de 2017 e, na sondagem de abril, o valor do indicador foi de 11 pontos. Um resultado muito inferior ao da média histórica dos últimos dez anos, de 91 pontos, mas que indicava uma possível trajetória de melhora na situação atual.

Gráfico2: Os indicadores Ifo-FGV  de situação atual e de expectativas do Brasil

Fonte: Sondagem Econômica da América Latina Ifo-FGV, www.portalibre.fgv.br

Uma questão que sempre preocupou os que analisavam esse resultado era a enorme distância entre a avaliação da situação atual e as expectativas. Nesse cenário, qualquer turbulência que produzisse fatos negativos no cenário econômico e político poderia abalar as expectativas ancoradas em promessas de reformas ainda a serem cumpridas. Além disso, as avaliações muito desfavoráveis em relação à situação atual apontavam que a economia do país enfrentava problemas para recuperar o crescimento econômico.

As expectativas favoráveis estavam ancoradas, portanto, em “expectativas de mudanças” para que questões como desemprego (demanda insuficiente), infraestrutura inadequada, corrupção, instabilidade política, entre outros, começassem a trilhar uma trajetória mais favorável. A situação corrente (atual) era avaliada como ruim pelo acúmulo de problemas

As turbulências políticas a partir de maio, num cenário, já considerado de elevada instabilidade política, deverão repercutir nas expectativas na próxima Sondagem que será em julho e provavelmente irão interromper a trajetória de melhora nas expectativas, a não ser que surjam eventos positivos inesperados.

Observação: A Sondagem Econômica da América Latina é divulgada nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro e a enquete sobre os principais problemas em maio e novembro. Os relatórios estão disponíveis no portal do IBRE (www.portalibre.br) na seção Tendências Econômicas.

Essa nota é similar a que será publicada na Revista Conjuntura Econômica de junho de 2017.

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