Macroeconomia

A crise política e o caminho da taxa de juros

24 mai 2017

A atual crise política poderá ter consequências importantes para a condução da política monetária. A curto prazo, o ritmo de flexibilização monetária poderá ser alterado, comparativamente ao anteriormente previsto. A prazo mais longo, o ponto final do atual ciclo de baixa do juro básico também poderá ser distinto do imaginado antes da crise. 

Na última sinalização relevante emitida antes da deflagração da crise, o presidente do BC afirmou que os integrantes do Copom ainda não se haviam decidido entre manter o atual ritmo de flexibilização e uma “intensificação adicional moderada”. Traduzindo em números, o comentário indicava dúvida entre reduzir a Selic em 100 ou 125 pontos. “A decisão ocorrerá apenas na próxima reunião do Copom”, completou o presidente.

Como se sabe, de imediato, a crise produziu elevação da percepção de risco e acentuada depreciação cambial. E trouxe também a perspectiva de enfraquecimento adicional da atividade econômica e de novos entraves ao andamento das reformas, com implicações para o ajuste fiscal de longo prazo.

De modo geral, depreciação da moeda nacional tem impacto direto sobre as expectativas de inflação e sobre o próprio ritmo de crescimento dos preços. Por certo, para que tais efeitos se concretizem, é indispensável que a depreciação cambial seja expressiva. A despeito de até agora isto não ter ocorrido, o BC não pode ignorar tal possibilidade, razão pela qual é possível afirmar que a hipótese de 125 pontos de queda da Selic na próxima reunião do Copom está descartada.

Por outro lado, “puxar o freio de mão” com força exagerada também não seria recomendável, motivo pelo qual desconsideramos também uma redução de 50 pontos da Selic, por exemplo. Ficamos então entre 75 e 100 pontos. Qual dessas duas opções prevalecerá dependerá do quadro político dos próximos dias.

Quanto maior a probabilidade de uma solução rápida para a crise, maior a chance de ajuste de 100 pontos, desde, evidentemente, que tal solução esteja associada a boas perspectivas de progresso no campo das reformas. Na hipótese de impasse grave e estresse elevado, o BC provavelmente ficaria com 75 pontos. De qualquer modo, independentemente da opção que será adotada, é razoável esperar que a sinalização a ser dada logo após o próximo encontro do Copom tenderá a ser neutra, ou seja, deixará a porta aberta para diferentes possibilidades. Diante da perspectiva de a solução da crise estar bem encaminhada nos 45 dias que transcorrerão até a reunião seguinte, em pouco tempo será viável resgatar a prática de sinalização mais objetiva.

Quanto à questão de mais longo prazo, cabe lembrar que a possibilidade de as reformas terem ficado comprometidas é motivo suficientemente forte para que seja ajustada para cima a expectativa que se tem hoje acerca do chamado “ponto terminal” do atual ciclo de baixa dos juros. Na verdade, os próprios participantes de mercado já reajustaram suas expectativas. Os 7,5% esperados por muitos viraram cerca de 9,5%, acarretando grandes prejuízos para carteiras administradas.

O rationale desse ajuste tem a ver com o fato de que dificuldades maiores para as reformas acarretam maior vulnerabilidade das contas públicas no futuro, trazendo dúvida sobre a sustentabilidade da dívida pública. Nesse caso, a percepção de risco se eleva e a taxa real de juros tem de subir, mesmo diante de um quadro recessivo mais severo e prolongado.

 

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