Deixamos de ser global traders?
Após o déficit de US$ 4 bilhões em 2014, a balança comercial foi superavitária em 2015 e 2016. A melhora se deveu a uma queda nas importações, associada a uma retração no nível de atividade, superior ao recuo das exportações. A novidade esse ano é que o superávit resulta de um aumento das exportações (19%) superior ao das importações (7,3%) na comparação entre os períodos de janeiro a junho de 2016 e 2017, o que levou a um saldo comercial positivo de US$36 bilhões no acumulado do ano até junho. Voltamos a um cenário similar ao dos anos de 2010/2011, quando a expansão das exportações foi liderada pelo aumento dos preços das commodities e pelo mercado chinês. A principal diferença, o aumento modesto nos preços das commodities e a maior dependência da China.
Temos que esperar a divulgação dos dados mais detalhados para elaborarmos o Indicador de Comércio Exterior (ICOMEX) divulgado pelo IBRE, o que deverá ocorrer até 18/20 do presente mês. No entanto, algumas observações referentes ao acumulado do ano até maio não devem se alterar.
A primeira se refere à melhora nos termos de troca que aumentaram 15% na comparação janeiro/maio de 2016 e 2017, embora ainda estejamos longe dos resultados de 2011 (Gráfico 1). Essa melhora foi liderada pelo aumento nos preços das commodities, o que deve continuar, porém, a queda observada entre abril e maio de 2017, poderá se acentuar. O índice de preços das commodities exportadas aumentou ente junho 2016/2017, 9,3%, e havia crescido 15,2% entre os meses de maio de 2016/2017.
Gráfico 1: Termos de troca: média móvel trimestral
O gráfico mostra o comportamento do índice dos termos de troca em relação ao 1º trimestre de 2005.
Fonte: SECEX/MDIC
Elaboração FGV/IBRE
A dependência da China é expressa no aumento da sua participação nas exportações brasileiras que passou de 23% para 26% entre janeiro/junho de 2016 e 2017. Os Estados Unidos, o segundo mercado de destino, passou de 11,8% para 12% e a Argentina, o terceiro mercado de 7,2% para 7,7%.
Nos três principais produtos exportados que explicaram 34% do total das vendas externas no acumulado do ano até junho, a participação do mercado chinês foi de 79% (soja), 54% (minério de ferro) e 45% (petróleo), utilizando-se o resultado até maio.
A principal contribuição para o aumento do superávit da balança de US$ 23,7 bilhões para US$ 36,2 bilhões entre o primeiro semestre de 2016 e o de 2017, vem da China, valor de US$ 15,6 bilhões (Gráfico 2).
Gráfico 2: Saldo comercial Brasil-Parceiros em US$ bilhões: janeiro/junho 2016 e 2017
Não deixamos de ser global traders. No entanto, a expansão das exportações no período recente sinaliza a crescente importância do mercado chinês e, logo, da venda de commodities. O debate sobre melhora da competitividade (produtividade) para que as exportações brasileiras de manufaturas ganhem participação no mercado mundial continua na agenda da política comercial. Observa-se que essa participação nunca conseguiu ultrapassar ou igualar 1%.
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