Economia Regional

Desafios para as novas gestões das capitais brasileiras

13 nov 2024

Há significativas desigualdades regionais em Renda, desigualdade, pobreza e mercado de trabalho. As capitais nordestinas destacam-se por altos níveis de desigualdade, mesmo onde a renda domiciliar per capita é mais elevada.

Introdução

Na pesquisa que embasa este artigo realizamos um recorte diferente nos dedicando a analisar indicadores de renda, desigualdade, pobreza e mercado de trabalho para os municípios das capitais. O objetivo é compor um retrato das condições socioeconômicas das capitais brasileiras.

Os dados são referentes ao ano de 2023, da PNAD Contínua do IBGE, em sua versão de divulgação anual de rendimentos de todas as fontes. Foram abordados dois conjuntos de indicadores intimamente relacionados. O primeiro deles faz referência a indicadores de renda média, desigualdade de renda, incidência de pobreza e extrema pobreza, bem como a composição da renda das famílias. O segundo conjunto faz referência ao mercado de trabalho, retratando valores médios e nível de desigualdade dos rendimentos do trabalho, além de indicadores clássicos de participação, ocupação e informalidade.

A análise está organizada em duas partes. A primeira delas tem o objetivo de caracterizar estes indicadores entre as capitais brasileiras, destacando os melhores resultados e os piores, de forma a ter mesmo uma análise relativa destas capitais no contexto nacional. Por fim, a segunda parte faz uma caracterização das capitais da região Nordeste, principal objeto de estudo do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV IBRE. A análise com o recorte regional é um complemento importante aos artigos publicados anteriormente, em que a região Nordeste foi o foco da análise.

PARTE 1: UMA ANÁLISE PARA AS CAPITAIS BRASILEIRAS

Renda e desigualdade de renda

Considerando a medida de renda domiciliar per capita, em âmbito nacional, destacam-se com os valores mais elevados as capitais das regiões Sul e Sudeste. Os três maiores níveis de renda são os de Florianópolis/SC (R$ 4.099), Vitória/ES (R$ 3.701) e Porto Alegre/RS (R$ 3.545). A capital da Paraíba, João Pessoa, apresentou o 10º maior valor neste indicador, e é a capital nordestina mais bem posicionada. Na outra ponta da distribuição do nosso recorte de municípios, destacam-se capitais da região Norte do país: Rio Branco/AC (R$1.319), Manaus/AM (R$ 1.500) e Porto Velho/RO (R$ 1.528). A região Nordeste tem 4 capitais entre as 10 piores posições neste indicador de renda.

Tabela 1. Renda domiciliar per capital: valor médio (em R$),
Índice de Gini e Índice de Palma – capitais brasileiras (2023)

Capital (UF)

Renda domiciliar per capita média

Índice de Gini

(renda domiciliar pc)

Índice de Palma

(razão10/40)

Porto Velho (RO)

1.528

(25º)

0,473

(26º)

2,8

(25º)

Rio Branco (AC)

1.319

(27º)

0,507

(19º)

3,3

(19º)

Manaus (AM)

1.500

(26º)

0,505

(20º)

3,3

(20º)

Boa Vista (RR)

1.620

(22º)

0,530

(13º)

3,8

(13º)

Belém (PA)

2.261

(15º)

0,553

(7º)

4,2

(9º)

Macapá (AP)

1.889

(17º)

0,472

(27º)

2,7

(27º)

Palmas (TO)

2.513

(12º)

0,478

(24º)

2,8

(26º)

São Luís (MA)

1.570

(24º)

0,518

(17º)

3,5

(17º)

Teresina (PI)

2.181

(16º)

0,583

(4º)

5,0

(4º)

Fortaleza (CE)

1.772

(20º)

0,566

(5º)

4,7

(5º)

Natal (RN)

2.315

(13º)

0,583

(3º)

5,0

(3º)

João Pessoa (PB)

2.714

(10º)

0,629

(1º)

6,5

(1º)

Recife (PE)

1.621

(21º)

0,549

(8º)

4,3

(7º)

Maceió (AL)

1.597

(23º)

0,516

(18º)

3,4

(18º)

Aracaju (SE)

1.885

(18º)

0,546

(9º)

4,1

(11º)

Salvador (BA)

1.824

(19º)

0,562

(6º)

4,5

(6º)

Belo Horizonte (MG)

3.115

(8º)

0,537

(12º)

4,0

(12º)

Vitória (ES)

3.701

(2º)

0,528

(14º)

3,7

(15º)

Rio de Janeiro (RJ)

3.385

(4º)

0,539

(11º)

4,1

(10º)

São Paulo (SP)

3.266

(5º)

0,585

(2º)

5,1

(2º)

Curitiba (PR)

3.181

(7º)

0,499

(21º)

3,1

(21º)

Florianópolis (SC)

4.099

(1º)

0,475

(25º)

2,8

(24º)

Porto Alegre (RS)

3.545

(3º)

0,523

(16º)

3,7

(14º)

Campo Grande (MS)

2.285

(14º)

0,488

(23º)

2,9

(23º)

Cuiabá (MT)

2.542

(11º)

0,523

(15º)

3,6

(16º)

Goiânia (GO)

2.846

(9º)

0,495

(22º)

3,0

(22º)

Brasília (DF)

3.213

(6º)

0,544

(10º)

4,2

(8º)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Em relação à desigualdade de renda, as capitais nordestinas se destacam entre as cidades com maior concentração de renda. João Pessoa/PB (Índice de Gini de 0,629) apresenta o maior nível de desigualdade entre todas as capitais do Brasil, enquanto Natal/RN (Índice de Gini 0,583) ocupa a terceira posição. Entre as 10 capitais mais desiguais do país, o Nordeste tem 7 representantes nesse grupo.

O segundo maior índice de Gini foi estimado para a cidade de São Paulo/SP (0,585). Na capital paulista, o Índice de Palma mostra que os 10% mais ricos detinham renda total equivalente a 5 vezes o valor de renda total dos 40% mais pobres.

Entre os menores níveis de desigualdade de renda não se observa um padrão bem desenhado. O menor índice de Gini foi estimado para Macapá/AP (0,472), seguido por Porto Velho/RO (0,473) e Florianópolis/SC (0,475). Por sua vez, a razão dos rendimentos dos 10% mais ricos sobre os 40% de menor renda nestas cidades foi de: 2,7 em Macapá/AP, 2,8 em Porto Velho/RO e Florianópolis/SC.

Entre os menores níveis de desigualdade de renda não se observa um padrão bem desenhado. O menor índice de Gini foi estimado para Macapá/AP (0,472), seguido por Porto Velho/RO (0,473) e Florianópolis/SC (0,475). Por sua vez, a razão dos rendimentos dos 10% mais ricos sobre os 40% de menor renda nestas cidades foi de: 2,7 em Macapá/AP, 2,8 em Porto Velho/RO e Florianópolis/SC.

Obviamente, a combinação desejada entre estes indicadores é de maior nível de renda e menor nível de desigualdade. Nesse sentido o destaque positivo fica por conta de Florianópolis/SC. Por outro lado, as capitais mais populosas da região Nordeste, Recife/PE, Fortaleza/CE e Salvador/BA, são caracterizadas por níveis de renda média relativamente baixos e desigualdade elevada.

Pobreza e extrema pobreza

A indecência de pobreza se apresenta como um reflexo direto do nível de renda, onde predominam maiores proporções da população em situação de pobreza e extrema pobreza nas capitais das regiões Norte e Nordeste.

A indecência de pobreza se apresenta como um reflexo direto do nível de renda, onde predominam maiores proporções da população em situação de pobreza e extrema pobreza nas capitais das regiões Norte e Nordeste. Entre as 10 capitais no país com maior proporção de pobres, o Nordeste tem 7 capitais nessa situação; e 6 das 10 com maiores incidências de extrema pobreza.

As cidades de Rio Branco/AC (42,8%), Recife/PE (37,8%) e São Luís/MA (36,3%) apresentam as maiores incidências de pobreza. Por sua vez, as menores forma estimadas nas cidades de Florianópolis/SC (4,5%), Curitiba/PR (8,7%) e Goiânia/GO (10,9%).

Tabela 2. Incidência de Pobreza e Extrema Pobreza (% da população) - capitais brasileiras (2023)

Capital (UF)

Pobreza (%)

Extrema Pobreza (%)

Porto Velho (RO)

30,5

(11º)

6,7

(4º)

Rio Branco (AC)

42,8

(1º)

9,6

(1º)

Manaus (AM)

36,0

(4º)

4,1

(10º)

Boa Vista (RR)

33,4

(7º)

8,4

(2º)

Belém (PA)

23,3

(14º)

2,8

(15º)

Macapá (AP)

22,4

(15º)

1,4

(25º)

Palmas (TO)

15,4

(21º)

1,7

(22º)

São Luís (MA)

36,3

(3º)

5,7

(8º)

Teresina (PI)

28,1

(13º)

3,2

(12º)

Fortaleza (CE)

35,6

(5º)

6,2

(6º)

Natal (RN)

32,0

(9º)

4,2

(9º)

João Pessoa (PB)

29,5

(12º)

3,0

(14º)

Recife (PE)

37,8

(2º)

7,1

(3º)

Maceió (AL)

33,1

(8º)

3,6

(11º)

Aracaju (SE)

31,4

(10º)

5,9

(7º)

Salvador (BA)

34,4

(6º)

6,4

(5º)

Belo Horizonte (MG)

16,9

(17º)

2,0

(20º)

Vitória (ES)

12,8

(23º)

1,9

(21º)

Rio de Janeiro (RJ)

14,3

(22º)

3,1

(13º)

São Paulo (SP)

17,8

(16º)

2,1

(17º)

Curitiba (PR)

8,7

(26º)

1,5

(23º)

Florianópolis (SC)

4,5

(27º)

0,9

(26º)

Porto Alegre (RS)

12,3

(24º)

2,2

(16º)

Campo Grande (MS)

16,9

(18º)

2,1

(18º)

Cuiabá (MT)

16,2

(20º)

1,5

(24º)

Goiânia (GO)

10,9

(25º)

0,7

(27º)

Brasília (DF)

16,8

(19º)

2,1

(19º)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

No caso do indicador de extrema pobreza, as maiores incidência são em Rio Branco/AC (9,6%), Boa Vista/RR (8,4%) e Recife/PE (7,1%). As menos ocorreram em Goiânia/GO (0,7%), Florianópolis/SC (0,9%) e Macapá/AP (1,4%).

Composição da renda

Rendimento do trabalho representam a principal fonte de renda de todas as capitais, com destaque para Palmas/TO (86,7%), Boa Vista/RR (85,4%) e Macapá/AP (84%), que possuem as maiores participações médias de rendimento do trabalho na composição da renda domiciliar (per capita).

Tabela 3. Composição da renda (participações percentuais, %) - capitais brasileiras (2023)

Capital (UF)

Trabalho

(%)

Aposentadorias

(%)

Programas sociais

(%)

Outras fontes

(%)

Porto Velho (RO)

77,6

(12º)

15,8

(16º)

5,9

(2º)

0,7

(27º)

Rio Branco (AC)

78,1

(10º)

14,2

(21º)

6,0

(1º)

1,7

(25º)

Manaus (AM)

82,4

(4º)

10,8

(25º)

5,0

(5º)

1,8

(24º)

Boa Vista (RR)

85,4

(2º)

9,8

(26º)

2,6

(15º)

2,1

(22º)

Belém (PA)

75,3

(15º)

16,7

(12º)

3,7

(9º)

4,4

(13º)

Macapá (AP)

84,0

(3º)

11,4

(24º)

3,7

(10º)

0,9

(26º)

Palmas (TO)

86,7

(1º)

8,2

(27º)

1,8

(18º)

3,4

(18º)

São Luís (MA)

79,9

(6º)

14,4

(20º)

3,6

(11º)

2,1

(23º)

Teresina (PI)

72,7

(19º)

20,4

(6º)

3,5

(12º)

3,3

(20º)

Fortaleza (CE)

70,5

(24º)

21,0

(5º)

5,1

(4º)

3,3

(19º)

Natal (RN)

66,3

(27º)

28,2

(1º)

2,0

(17º)

3,5

(17º)

João Pessoa (PB)

76,4

(14º)

16,4

(13º)

2,8

(14º)

4,4

(12º)

Recife (PE)

70,7

(23º)

21,5

(3º)

4,5

(6º)

3,3

(21º)

Maceió (AL)

71,0

(22º)

19,5

(9º)

5,3

(3º)

4,2

(14º)

Aracaju (SE)

70,5

(25º)

19,3

(10º)

3,8

(8º)

6,4

(3º)

Salvador (BA)

70,4

(26º)

19,7

(8º)

4,1

(7º)

5,8

(7º)

Belo Horizonte (MG)

76,4

(13º)

16,1

(15º)

1,2

(21º)

6,3

(4º)

Vitória (ES)

72,1

(20º)

21,1

(4º)

1,0

(24º)

5,7

(8º)

Rio de Janeiro (RJ)

74,0

(18º)

20,0

(7º)

1,1

(23º)

4,9

(10º)

São Paulo (SP)

78,9

(8º)

12,8

(22º)

1,4

(20º)

7,0

(2º)

Curitiba (PR)

78,2

(9º)

14,7

(19º)

0,8

(26º)

6,3

(5º)

Florianópolis (SC)

75,0

(17º)

15,2

(17º)

0,4

(27º)

9,3

(1º)

Porto Alegre (RS)

71,4

(21º)

21,7

(2º)

1,0

(25º)

5,8

(6º)

Campo Grande (MS)

79,1

(7º)

14,8

(18º)

2,3

(16º)

3,7

(15º)

Cuiabá (MT)

81,6

(5º)

12,0

(23º)

2,8

(13º)

3,6

(16º)

Goiânia (GO)

75,0

(16º)

18,7

(11º)

1,2

(22º)

5,1

(9º)

Brasília (DF)

77,8

(11º)

16,1

(14º)

1,5

(19º)

4,6

(11º)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Em contraste, as capitais com menor participação média dos rendimentos do trabalho são Natal/RN (66,3%), Recife/PE (70,7%) e Fortaleza/CE (70,5%), sugerindo uma maior dependência de outras fontes de rendimento, como aposentadorias e programas sociais. Das 10 capitais do país com menor participação da renda do trabalho na renda total, 7 são nordestinas.

O Nordeste tem 7 capitais entre as 10 do país com maior participação da renda da aposentadoria. A capital potiguar, por exemplo, possui a maior participação média de rendimentos de aposentadorias, com 28,2%.

A participação de rendimentos provenientes de programas sociais também ganhou destaque pelo aumento recente de sua participação, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. O Nordeste tem 5 capitais entre as 10 com maiores participações dos programas sociais no país.

Os programas sociais, como o Bolsa Família, têm um papel importante em algumas capitais, especialmente em Rio Branco/AC (6%), Porto Velho/ RO (5,9%) e Maceió/AL (5,3%). Já nas capitais da região Sul, a contribuição dos programas sociais é muito baixa. Nas cidades de Florianópolis/SC, Curitiba/PR e Porto Alegre/RS a participação média dos rendimentos de programas sociais foi estimada em 0,4%, 0,8% e 1%, respectivamente.

Mercado de trabalho

Entre as capitais com os maiores valores médios de rendimentos do trabalho predominam as capitais do Sudeste e Sul. Florianópolis/SC (R$ 5.455), Vitória/ES (R$ 5.347) e Rio de Janeiro/RJ (R$ 5.093) registram os maiores rendimentos. As capitais com os menores rendimentos médios são Maceió/AL (R$ 2.482), Recife/PE (R$ 2.643) e Rio Branco/AC (R$ 2.677), destacando um contraste significativo nas condições econômicas entre as regiões.  Das 10 capitais com menores rendimentos, 5 estão no Nordeste.

Tabela 4. Rendimentos do trabalho: valor médio e Índice de Gini - capitais brasileiras (2023)

Capital (UF)

Rendimento médio

do trabalho (R$)

Índice de Gini

(rendimentos do trabalho)

Porto Velho (RO)

2.715

(24º)

0,406

(27º)

Rio Branco (AC)

2.677

(25º)

0,437

(26º)

Manaus (AM)

2.834

(20º)

0,475

(24º)

Boa Vista (RR)

3.016

(18º)

0,488

(19º)

Belém (PA)

3.519

(14º)

0,582

(2º)

Macapá (AP)

3.233

(17º)

0,484

(22º)

Palmas (TO)

3.855

(12º)

0,493

(17º)

São Luís (MA)

2.751

(22º)

0,489

(18º)

Teresina (PI)

3.421

(16º)

0,582

(3º)

Fortaleza (CE)

2.776

(21º)

0,532

(10º)

Natal (RN)

3.795

(13º)

0,566

(4º)

João Pessoa (PB)

4.576

(8º)

0,656

(1º)

Recife (PE)

2.643

(26º)

0,515

(13º)

Maceió (AL)

2.482

(27º)

0,486

(21º)

Aracaju (SE)

2.967

(19º)

0,515

(14º)

Salvador (BA)

2.729

(23º)

0,534

(9º)

Belo Horizonte (MG)

4.468

(9º)

0,526

(11º)

Vitória (ES)

5.347

(2º)

0,537

(8º)

Rio de Janeiro (RJ)

5.093

(3º)

0,537

(7º)

São Paulo (SP)

4.900

(5º)

0,566

(5º)

Curitiba (PR)

4.577

(7º)

0,502

(16º)

Florianópolis (SC)

5.455

(1º)

0,487

(20º)

Porto Alegre (RS)

4.835

(6º)

0,516

(12º)

Campo Grande (MS)

3.505

(15º)

0,468

(25º)

Cuiabá (MT)

4.074

(10º)

0,513

(15º)

Goiânia (GO)

3.868

(11º)

0,476

(23º)

Brasília (DF)

4.944

(4º)

0,540

(6º)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

O Índice de Gini, que mede a desigualdade dos rendimentos, revela uma concentração dos rendimentos do mercado de trabalho nas seguintes capitais: João Pessoa/PB (0,656), seguida por Teresina/PI (0,582) e Belém/PA (0,582). Em oposição, Porto Velho/RO (0,406), Rio Branco/AC (0,437) e Campo Grande/MS (0,468) apresentam os menores níveis de desigualdade.

Tabela 5. Taxas de participação, desocupação e informalidade
no mercado de trabalho (%) – capitais brasileiras (2023)

Capital

Taxa participação

(%)

Taxa desocupação

(%)

Taxa informalidade (%)

Porto Velho (RO)

54,4

(27º)

4,4

(26º)

46,1

(10º)

Rio Branco (AC)

55,2

(26º)

9,3

(11º)

45,5

(13º)

Manaus (AM)

63,6

(15º)

11,7

(4º)

54,0

(4º)

Boa Vista (RR)

66,2

(10º)

7,2

(16º)

45,6

(12º)

Belém (PA)

65,8

(11º)

9,8

(9º)

56,5

(2º)

Macapá (AP)

63,8

(14º)

6,7

(18º)

41,7

(16º)

Palmas (TO)

74,1

(1º)

5,0

(23º)

44,9

(14º)

São Luís (MA)

62,4

(21º)

10,4

(6º)

56,5

(1º)

Teresina (PI)

61,1

(23º)

6,9

(17º)

54,4

(3º)

Fortaleza (CE)

59,9

(24º)

8,7

(13º)

53,1

(6º)

Natal (RN)

55,7

(25º)

10,8

(5º)

44,7

(15º)

João Pessoa (PB)

62,8

(18º)

9,4

(10º)

49,8

(9º)

Recife (PE)

62,6

(19º)

16,1

(1º)

50,1

(8º)

Maceió (AL)

62,0

(22º)

10,0

(8º)

45,7

(11º)

Aracaju (SE)

62,4

(20º)

12,9

(3º)

51,9

(7º)

Salvador (BA)

65,7

(13º)

13,7

(2º)

53,7

(5º)

Belo Horizonte (MG)

69,2

(3º)

8,3

(15º)

37,4

(19º)

Vitória (ES)

63,2

(17º)

6,7

(19º)

39,0

(17º)

Rio de Janeiro (RJ)

63,5

(16º)

8,9

(12º)

37,1

(20º)

São Paulo (SP)

68,9

(4º)

8,6

(14º)

31,5

(25º)

Curitiba (PR)

67,9

(7º)

5,3

(22º)

31,9

(23º)

Florianópolis (SC)

69,5

(2º)

4,4

(25º)

26,4

(27º)

Porto Alegre (RS)

65,8

(12º)

6,0

(20º)

31,9

(24º)

Campo Grande (MS)

67,5

(8º)

3,3

(27º)

34,5

(22º)

Cuiabá (MT)

67,2

(9º)

5,9

(21º)

34,5

(21º)

Goiânia (GO)

68,8

(6º)

4,8

(24º)

38,2

(18º)

Brasília (DF)

68,8

(5º)

10,1

(7º)

29,7

(26º)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

A taxa de participação, que mede a proporção da população em idade ativa que está no mercado de trabalho. Palmas/TO (74,1%), Florianópolis/SC (69,5%), Belo Horizonte/MG (69,2%) e São Paulo (68,9%) são as capitais com as maiores taxas de participação. Por outro lado, as menores taxas de participação são encontradas nas capitais do Norte e Nordeste, como Porto Velho/RO (54,5%), Rio Branco/AC (55,2%), Natal/RN (55,7%) e Fortaleza/CE (59,9%). Vale ressaltar que das 10 piores taxas de participação no país, 6 estão no Nordeste.

A taxa de desocupação é outro indicador que varia substancialmente entre as regiões. As capitais do Nordeste, como Recife/PE (16,1%), Salvador/BA (13,7%) e Aracaju/SE (12,9%), exibem algumas as maiores taxas, refletindo um mercado de trabalho com maiores desafios. Em contraste, Campo Grande/MS (3,3%), Porto Velho/RO (4,4%), Florianópolis/SC (4,4%) e Goiânia/GO (4,4%), têm as menores taxas de desocupação. Das 10 taxas de desocupação mais elevadas entre as capitais brasileiras, 7 estão no Nordeste.

As capitais com as maiores taxas de informalidade concentram-se predominantemente no Norte e Nordeste. São Luís/MA é a capital com a maior taxa de informalidade, com um percentual de 65,8%. Belém/PA (56,5%), Teresina/PI (54,4%) e Manaus (54%) também apresentam altos níveis de informalidade. Florianópolis/SC (26,4%) destaca-se como a capital com a menor taxa de informalidade, seguida por Brasília/DF (29,7%), São Paulo/SP (31,5%) e Porto Alegre/RS (31,9%). Na região Nordeste temos 7 capitais entre as 10 com as maiores taxas de informalidade do país.

PARTE 2: UMA ANÁLISE COM FOCO NAS CAPITAIS NORDESTINAS

Renda e desigualdade de renda

Entre as capitais nordestina, em 2023, a maior valor de renda domiciliar per capita média foi estimado para a capital da Paraíba, João Pessoa (R$ 2.714). Após a capital paraibana, Natal/RN (R$ 2.315) e Teresina/ PI (R$ 2.181) completam os três maiores valores deste indicador na região. Por sua vez, os menores valores foram estimados para São Luís, a capital do Maranhão (R$ 1.570), Maceió/AL (R$ 1.597) e Recife/PE (R$ 1.621).

Figura 1. Renda domiciliar per capita média (em R$) – capitais do Nordeste (2023)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Figura 2. Renda domiciliar per capita média (em R$) – capitais do Nordeste (2023)


Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Além de indicadores do nível de renda domiciliar per capita, analisamos o nível de desigualdade para esta mesma medida de renda. Empregamos dois indicadores para essa análise: o Índice de Gini e o Índice de Palma (razão 10/40).

O Índice de Palma, é uma medida de desigualdade relativa obtida a partir da razão entre o rendimento concentrado pelos 10% da população com os maiores rendimentos e o rendimento concentrado pela população com os 40% menores rendimentos.

Observamos que as três capitais com os maiores níveis de renda domiciliar per capita, João Pessoa/PB, Natal/RN e Teresina/PI, também foram as que apresentaram o maior nível de desigualdade. Os menores valores, por sua vez, foram estimados para Maceió/AL e São Luís/MA.

Figura 3. Índice de Gini da renda domiciliar per capita
– capitais do Nordeste (2023)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

O Índice de Gini para João Pessoa, capital com o maior nível de desigualdade dentre as capitais do Nordeste em 2023 (e do Brasil), foi de 0,629. Já a renda acumulada entre os 10% mais ricos foi equivalente a 6,5 vezes a massa de rendimentos acumulada entre os 40% mais pobres.

No contexto regional, Maceió/AL se apresentou como a capital com os menores índices de desigualdade. O Índice de Gini para a capital de Alagoas foi estimado em 0,516. Por sua vez, o Índice de Palma mostra que a renda total dos 10% mais ricos, foi equivalente a 3,4 vezes a renda total dos 40% mais pobres.

Figura 4. Índice de Palma (razão 10/40) – capitais do Nordeste (2023)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Pobreza e extrema pobreza

Os indicadores de pobreza e extrema pobreza, refletem de forma bastante direta os aspectos de renda e desigualdade.

Os menores indicadores de incidência de pobreza foram observados nas capitais de maior renda domiciliar per capita média: Teresina/PI (28,1%), João Pessoa/PB

(29,5%) e Natal/RN (32%). Por sua vez, os maiores indicadores de incidência de pobreza foram observados em Recife/PE (37,8%), São Luís/MA (36,3%) e Fortaleza/ CE (35,6%).

Assim como o indicador de incidência de pobreza, a indecência de extrema pobreza também possui relação direta com os indicadores de renda; embora seja calculada com base em uma linha de pobreza mais restrita, caracterizando o percentual da população em situação de renda mais vulnerável.

Os menores indicadores de incidência de pobreza foram observados em João Pessoa/PB (3%), Teresina/PI (3,2%) e Maceió/AL (3,6%). Por sua vez, as maiores incidências de pobreza foram observadas em Recife/PE (7,1%), Salvador/BA (6,4%) e Fortaleza/ CE (6,2%).

Figura 5. Incidência de pobreza (% da população) – capitais do Nordeste (2023)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Figura 6. Incidência de extrema pobreza (% da população) – capitais do Nordeste (2023)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Composição da renda

Assim como em todo o Brasil, os rendimentos do trabalho representam o principal componente da renda das famílias.  A maior participação foi estimada para São Luís/MA (79,9%), seguida por João Pessoa/PB (76,4%).

A estimativa para João Pessoa faz bastante sentido, uma vez que a capital da Paraíba apresenta as menores incidências de pobreza e extrema pobreza da região, bem como o maior valor médio dos rendimentos do trabalho e da renda domiciliar per capita. Na capital da Paraíba, a participação média dos rendimentos de programas sociais é de 2,8% e só não é menor do que a participação observada para Natal/RN (2%).

Por sua vez, é na capital do Maranhão que os rendimentos de aposentadorias apresentaram a menor participação (14,4%). Os rendimentos de programas sociais correspondiam a 3,6% e outras fontes de renda complementaram com 2,1%. Nota-se que, apesar de apresentar uma elevada incidência de pobreza, São Luiz não apresenta uma das maiores participações de programas sociais, correspondendo apenas a sexta maior entre as capitais do Nordeste. Estas informações podem representar uma evidência de insuficiência das transferências em relação ao nível de pobreza estimado para a capital do Maranhão.

A menor participação de renda do trabalho foi estimada em Natal/RN (66,3%). Como apresentado anteriormente, foi na capital potiguar que os programas sociais apresentaram a menor contribuição (2%). Por sua vez, as aposentadorias apresentaram a maior contribuição para renda, de 28,2%, o que corresponde a uma contribuição bem acima do perfil da região e até mesmo no contexto nacional.

Tabela 6. Composição da renda domiciliar per capita média
(participações percentuais, %) – capitais do Nordeste (2023)

Capital (UF)

Trabalho

(%)

Aposentadorias

(%)

Programas sociais

(%)

Outras fontes

(%)

São Luís (MA)

79,9

14,4

3,6

2,1

Teresina (PI)

72,7

20,4

3,5

3,3

Fortaleza (CE)

70,5

21,0

5,1

3,3

Natal (RN)

66,3

28,2

2,0

3,5

João Pessoa (PB)

76,4

16,4

2,8

4,4

Recife (PE)

70,7

21,5

4,5

3,3

Maceió (AL)

71,0

19,5

5,3

4,2

Aracaju (SE)

70,5

19,3

3,8

6,4

Salvador (BA)

70,4

19,7

4,1

5,8

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Mercado de trabalho

Como foi apresentado anteriormente, os rendimentos do trabalho representam o principal componente da renda das famílias. Nesse sentido, compreender o mercado de trabalho é essencial para o retrato que objetivamos apresentar.

As condições de mercado de trabalho nas capitais foram descritas por um conjunto de indicadores. Analisamos o rendimento médio do trabalho e a desigualdade na distribuição deste tipo de renda, pelo Índice de Gini. Aspectos relacionados com participação e emprego foram analisados com as taxas de participação de desocupação e informalidade.

Com base nas estimativas de média dos rendimentos do trabalho, observamos uma relação muito direta com o nível do indicador de renda domiciliar apresentado anteriormente.

As maiores médias foram estimadas para João Pessoa/PB (R$ 4.576), Natal/RN (R$ 3.795) e Teresina/PI (R$ 3.421).  Por sua vez, as menores médias foram estimadas para Maceió/AL (R$ 2.482), Recife/PE (R$ 2.643) e Salvador/BA (R$ 2.729).

Figura 7. Rendimento médio do trabalho (em R$)
- capitais do Nordeste (2023)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Novamente, os maiores níveis de desigualdade estão bastante associados aos maiores níveis de renda. Os maiores valores do Índice de Gini, que caracterizam maior desigualdade dos rendimentos do trabalho, foram estimados para João Pessoa/PB (0,656), Teresina/PI (0,582) e Natal/RN (0,566).

Por sua vez, entre as capitais nordestinas, os menores níveis de desigualdade de rendimentos do trabalho foram estimados para Maceió/AL (0,486), São Luís/MA (0,489) e Aracaju/SE (0,515).

Figura 8. Índice de Gini dos rendimentos do trabalho
- capitais do Nordeste (2023)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2023).

Salvador/BA foi a capital do Nordeste com a maior inserção de sua população em idade para trabalhar, no mercado de trabalho, compondo a força de trabalho. A taxa de participação estimada para a capital baiana foi de 65,7%. Seguida da maior participação, a capital da Bahia também apresentou uma das maiores taxas de desocupação (13,7%) e a terceira maior taxa de informalidade (53,7%).

A menor taxa de participação foi estimada para Natal/RN (55,7%). Também foi em Natal/RN que se obteve a menor estimativa da taxa de informalidade, 44,7%. Dado o perfil destes indicadores, a capital do Rio Grande do Norte apresentou uma taxa de desocupação relativamente elevada, de 10,8%.

A maior taxa de desocupação foi observada em Recife/PE. Das pessoas que estavam compondo a força de trabalho da capital pernambucana em 2023, 16,1% estavam desocupadas. A taxa de participação na capital de Pernambuco foi de 62,6%. Por sua vez, a taxa de informalidade se apresentou em patamar mediano, para o perfil da região, 50,1%.

Algumas capitais, apresentaram taxas de participação relativamente baixas, assim como as taxas de desocupação. São os casos de Fortaleza/CE e Teresina/PI. A taxa de participação na capital cearense foi estimada em 59,9%, enquanto a taxa de desocupação foi registrada em 8,7%. Por sua vez, a capital do Piauí apresentou uma taxa de participação de 61,1% e a taxa de desocupação mais baixa das capitais nordestinas, 6,9%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises realizadas sobre as capitais nordestinas e brasileiras revelam um panorama marcado por disparidades econômicas e sociais significativas. No Nordeste, nosso estudo confirma que maiores níveis de renda domiciliar per capita tendem a ser acompanhados por altos índices de desigualdade, refletidos nos elevados valores do Índice de Gini e do Índice de Palma, particularmente em João Pessoa/PB, Natal/RN e Teresina/PI. Essa relação ressalta que, apesar do aumento da renda média, a distribuição dessa riqueza permanece desigual, concentrando-se nos segmentos mais altos da população.

Em termos de pobreza, capitais como Recife/PE e São Luís/MA destacam-se pelas maiores incidências, o que sugere que políticas públicas precisam ser reforçadas, principalmente no que diz respeito à transferência de renda e à criação de oportunidades de trabalho formal. A elevada dependência de programas sociais em algumas capitais nordestinas também reflete a fragilidade econômica dessas regiões, indicando certa urgência de iniciativas que promovam a inclusão produtiva e a redução da vulnerabilidade social.

No contexto nacional, as capitais das regiões Sul e Sudeste, como Florianópolis/SC e Vitória/ES, apresentam os melhores resultados, combinando altos níveis de renda com menores índices de desigualdade e pobreza. Esse contraste reforça as desigualdades regionais e destaca a necessidade de políticas públicas adaptadas a cada realidade local, enfatizando a necessidade de dinamizar o mercado de trabalho nas capitais do Norte e Nordeste.

O mercado de trabalho é um fator-chave, sendo evidente a correlação entre o rendimento do trabalho e a renda domiciliar per capita. Capitais com maiores rendimentos tendem a apresentar menores índices de pobreza e extrema pobreza, evidenciando a importância de fortalecer o emprego formal e a qualificação da força de trabalho. As taxas de informalidade mais elevadas nas capitais do Norte e Nordeste indicam a necessidade de políticas que incentivem a formalização e melhorem as condições de trabalho para combater a precarização.

Em suma, os resultados mostram um Brasil de múltiplas realidades, onde as desigualdades persistem e exigem uma abordagem regionalizada na formulação de políticas públicas. Ações voltadas para a redução da desigualdade de renda, a promoção de empregos de qualidade e o fortalecimento da rede de proteção social são essenciais para a construção de um futuro mais inclusivo para as capitais nordestinas e para o país como um todo.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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