Macroeconomia

Desempenho do PIB dos países em 2020-21 e no médio prazo

24 nov 2021

Segundo paper do FMI, políticas econômicas que buscaram em 2020 prover liquidez para empresas e famílias foram mais efetivas nos países mais rigorosos na contenção do vírus. Já políticas de impulso à demanda funcionaram melhor em países com contenção da pandemia mais branda.

Em um paper publicado no começo de novembro (“The effects of fiscal measures during Covid-19”, WP 21/262), economistas do FMI avaliaram os impactos sobre a atividade econômica das diversas medidas de suporte fiscal adotadas por 52 países ao longo de 2020. Os autores utilizaram a chamada abordagem narrativa, levando em conta os efeitos estimados dos anúncios desses pacotes. A vantagem dessa abordagem é que ela permite que também sejam captados alguns efeitos expectacionais associados a essas medidas (incluindo questões relacionadas à sustentabilidade fiscal, que podem contrabalançar ou mesmo neutralizar o efeito “keynesiano” de medidas de estímulo fiscal).

Segundo eles, considerando apenas o ano de 2020, os anúncios de pacotes de suporte fiscal foram efetivos em estimular a atividade, impulsionar a confiança e reduzir o desemprego, com resultados distintos a depender do tipo de política e das medidas administrativas adotadas pelos países para conter a pandemia. Políticas que buscaram prover liquidez para as empresas e famílias foram mais efetivas naqueles países que foram mais rigorosos nas ações administrativas implementadas para conter o vírus, ao passo que as medidas que buscaram impulsionar a demanda foram mais efetivas nos países em que as medidas de contenção da pandemia foram mais relaxadas.

Assim, o trabalho deles sugere que a frustração de crescimento do PIB no ano passado – isto é, a diferença entre a expectativa para a variação do produto formulada no final de 2019 e a variação efetivamente observada em 2020 – poderia ter sido maior do que a frustração média de cerca de 7,7 p.p. efetivamente observada no ano passado (levando em conta uma média simples de 183 países; a mediana foi de 6,9 p.p.). Vale notar que, no caso brasileiro, essa frustração foi de 6,1 p.p., próxima daquela observada nos EUA (5,5 p.p.), mas pior do que aquelas verificadas na China (3,5 p.p.) e Coreia do Sul (3,1 p.p.) – países que adotaram pacotes de suporte fiscal menos agressivos, mas que tiveram mais êxito em conter o espraiamento do vírus em seus territórios. O grande destaque negativo, dentre os principais países, foi a Índia, com uma frustração de PIB de pouco mais de 14 p.p.

Não obstante o resultado do trabalho dos autores sugerindo efetividade da política fiscal em 2020, o tamanho do multiplicador fiscal estimado por eles para 2020 foi relativamente baixo: cada 1 p.p. de suporte fiscal (acima e abaixo da linha, incluindo a concessão de garantias) gerou um impacto de 0,2 p.p. sobre o PIB. Trata-se de algo já apontado por outros estudos, sendo justificado pelo fato de que as medidas sanitárias de contenção da pandemia limitaram o impacto econômico desses pacotes, gerando inclusive como efeito colateral uma forte elevação da poupança em boa parte do mundo.

A retirada gradativa dessas medidas administrativas ao longo de 2021 sugere que parte dos efeitos dessas políticas fiscais emergenciais poderia emergir justamente neste ano, com defasagem maior do que ocorreria em outras situações. Nesse contexto, é interessante analisar também o desempenho esperado para as economias dos países no biênio 2020-21.

A figura abaixo compara a frustração observada em 2020 com a projeção de crescimento para o PIB no acumulado do biênio pandêmico. Nota-se uma relação razoavelmente forte e negativa: quanto maior a frustração em 2020, menor o crescimento do PIB no acumulado do período 2020-21. Ou seja: políticas fiscais e de contenção da pandemia que foram efetivas em conter os danos econômicos em 2020 também ajudaram a minimizar esses impactos no biênio.

Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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