E em setembro, como foi? Câmbio e fatores doméstico e externo
Após a publicação mais recente do nosso exercício de decomposição do movimento cambial (seção em Foco do Boletim Macro de setembro/2018), uma pergunta recorrente foi se o resultado obtido – o grosso do movimento da taxa de câmbio em 2018 veio do mundo – teria se mantido no último mês.
As razões por trás dessa contestação são bastante boas. Apesar do cenário internacional continuar sendo muito instável (Itália, Argentina, guerra comercial, Brexit e preço do petróleo estão aí para nos lembrar disso), a sensação recente foi de relativa estabilização – não exatamente melhora, mas ao menos de uma interrupção da acentuada piora observada no decorrer de agosto.
Já na seara doméstica, ao já conturbado processo pré-eleitoral se juntou o atentado contra Jair Bolsonaro na primeira semana do mês. Uma campanha que já desafiava todos os cientistas políticos se tornou completamente sui generis: o primeiro colocado nas pesquisas se retirou de cena, seus adversários perderam a janela de oportunidade para sua desconstrução, houve atos a favor e contra o candidato espalhados pelo país e, depois disso tudo, ele acabou avançando ainda mais nas pesquisas – a ponto inclusive de se discutir a probabilidade (pequena) do pleito ser decidido ainda no primeiro turno.
Por fim, o diferencial de juros mostrou tendência declinante durante todo esse período, mais intensa na segunda metade do mês do que na primeira – e, depois de muito tempo, incorporando também algum avanço das taxas de juros internacionais.
Deixando de lado os pormenores do modelo (que já foram discutidos outras vezes), vamos partir aos dados e às estimativas. Da combinação dos modelos para o Real e para o prêmio de risco brasileiro extraímos a participação dos fatores externos (o dólar no mundo, os preços de commodities, os juros longos americanos e a componente internacional do risco-país[1]), do diferencial de juros de 1 ano (a diferença entre juros brasileiros e americanos[2]) e de fatores internos (a parcela residual do risco-Brasil, não explicada por fundamentos internacionais[3]) para os movimentos da taxa de câmbio durante o mês de setembro.
As cotações da moeda e de cada variável relevante podem ser observadas na tabela a seguir. Partindo de R$ 4,06/US$ no dia 31 de agosto, a moeda se enfraqueceu até R$ 4,21/US$ no dia 13 de setembro – a cotação mais fraca desde 1994. Desde então, a tendência foi de fortalecimento até R$ 4,05/US$ no dia 28 de setembro. Ponta a ponta, parece que nada ocorreu; mas o mês foi bastante movimentado...
COTAÇÕES RELEVANTES PARA O EXERCÍCIO |
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31-ago |
13-set |
28-set |
Δ.1 |
Δ.2 |
|||
R$/US$ |
4.06 |
4.21 |
4.05 |
3.75% |
-3.72% |
||
CDS (bps) |
397.8 |
379.7 |
349.8 |
-4.54% |
-7.87% |
||
DXY |
95.1 |
94.5 |
95.1 |
-0.65% |
0.65% |
||
CRB |
193.0 |
191.4 |
195.2 |
-0.80% |
1.96% |
||
Treasury de 10 anos |
2.86% |
2.97% |
3.06% |
0.11 |
0.09 |
||
Dif. Juro 1 ano |
5.44% |
5.37% |
5.08% |
-0.07 |
-0.29 |
||
Risco emergente |
5.33% |
5.15% |
4.56% |
-0.18 |
-0.59 |
||
Juro BR |
8.25% |
8.25% |
8.01% |
0.01 |
-0.25 |
||
Juro US |
2.66% |
2.73% |
2.78% |
0.07 |
0.05 |
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DECOMPONDO A ALTERAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO |
|||||
De 31/08 a 13/09 |
De 13/09 a 28/09 |
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Cont (pp) |
Part (%) |
Cont (pp) |
Part (%) |
|
Fatores externos |
3.82 |
102.0 |
-10.60 |
284.6 |
|
Fatores domésticos |
-1.20 |
-31.9 |
3.74 |
-100.3 |
|
Diferencial de juros |
1.12 |
29.8 |
3.14 |
-84.3 |
|
Total |
3.75 |
100.0 |
-3.72 |
100.0 |
|
Dessa forma, manteve-se em setembro a conclusão geral que foi obtida no Boletim Macro – os movimentos da moeda continuam sendo motivados pelo mundo, e, mais interessante, isso se aplica tanto ao enfraquecimento como ao fortalecimento do Real. Cabe destacar, no entanto, que a dinâmica eleitoral parece ter pesado na segunda quinzena do mês, com a componente doméstica operando no sentido de depreciar a nossa moeda. Isso posto, voltamos à conclusão do texto anterior: a discussão relevante não é se as eleições “entrarão nos preços”, mas de que forma isso irá interagir com o ambiente externo e com o diferencial de juros – tudo em constante mutação nesse cenário tão incerto.
[1] Medidos respectivamente pelo DXY, pelo CRB, pela Treasury de 10 anos e pela regressão do CDS Brasil de 10 anos no DXY, no CRB, na Treasury de 10 anos e em uma métrica de risco emergente (BofA High Yield Emerging Markets spread)
[2] Swap pré-DI de 360 dias subtraído da Treasury de 1 ano.
[3] Ou seja, a parcela do movimento do CDS não explicado pela regressão deste em fundamentos externos (e em sua própria defasagem).
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