Economia Regional

Economia da Região Norte: estimativas para o crescimento do PIB em 2023, 2024 e no 1º semestre de 2025

20 out 2025

Estima-se que o PIB da região Norte cresceu 2,6% no 1º semestre de 2025, alta similar à do Brasil (2,5%), com a agropecuária mais uma vez com papel de destaque, tendo a maior expansão entre as três grandes atividades econômicas.

Na análise para o 1º semestre de 2025, o IBGE divulgou que o PIB brasileiro cresceu 2,5%, em relação ao 1º semestre de 2024. Estima-se que o PIB da região Norte tenha tido crescimento similar no período (2,6%). Conforme apresentado no Gráfico 4, mais uma vez a agropecuária teve papel de destaque, sendo a de maior crescimento entre as três grandes atividades econômicas.

Neste texto, estima-se a evolução real do PIB da região Norte e de suas unidades da federação para 2023, 2024 e o 1º semestre de 2025. Com isso, pretende-se compreender o desempenho recente do PIB da região, tendo em vista que os dados oficiais, divulgados pelo IBGE no Sistema de Contas Regionais (SCR), estão disponíveis até 20221. O texto com análise estrutural completa e detalhada, desde 2002, está disponível no Portal do IBRE. 

As estimativas apresentadas foram elaboradas com base em dados conjunturais, a maioria do próprio IBGE2, aplicados a adaptação da metodologia das Contas Nacionais Trimestrais do Brasil, também publicada pelo IBGE. A despeito da limitação desse esforço, acerca da precisão em relação aos dados oficiais do SCR a serem divulgados futuramente, há ganhos de análise na antecipação da tendência do PIB regional para identificação de quais setores tem influenciado o desempenho econômico no período recente e, contribuir para a tomada de decisão com base em dados mais tempestivos.
 
Este trabalho faz parte da iniciativa do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE (NCN), em curso desde o início deste ano, para ampliar a análise da atividade econômica sob o aspecto regional. Trata-se de um esforço experimental, ainda em avaliação, com objetivo de dar maior visibilidade a aspectos econômicos locais.

1)    Carascterísticas gerais do PIB da região Norte
A economia da região Norte, na média de 2002 a 2022, foi bastante concentrada nos estados do Pará e do Amazonas que, juntos, representaram cerca de 65% do valor adicionado total da região. 

As trajetórias do valor adicionado dessas duas UF na região, entretanto, foram distintas no período. O Gráfico 1 mostra que o Amazonas perdeu 5,6 p.p. de participação na economia regional, entre 2002 e 2022, enquanto o Pará teve aumento de 2,6 p.p. A economia amazonense tem elevado peso industrial, setor que perdeu parcela relevante de participação, notadamente da indústria de transformação e da construção. O Pará, em contrapartida, fortaleceu sua participação, na economia nortista, alcançando, desde 2010, representatividade superior a 40%, por influência da expansão da indústria extrativa, principalmente pelo minério de ferro.

Destacam-se, ainda, os ganhos de participação de Tocantins (2,6 p.p.) e de Rondônia (1,0 p.p.) no valor adicionado regional, durante os 20 anos analisados. Nestes casos, observa-se forte influência da expansão da fronteira agrícola nestes estados que que estão localizados ao sul da região Norte.
 

Gráfico 1 - Participação média das unidades da federação no valor adicionado total da região Norte na média de 2002 a 2022 e ganho de participação entre esses anos. - %

Fonte: IBGE – Sistema de Contas Regionais. Elaboração própria.

2)    Estimativas de PIB para 2023, 2024 e o 1º semestre de 2025
O Gráfico 2 apresenta as estimativas de crescimento real para o valor adicionado dos três grandes setores de atividade e do PIB da região Norte, para 2023 e 2024. Nestes dois anos, destaca-se o forte crescimento do valor adicionado da agropecuária, indicando manutenção da trajetória, já havia sido observada até 2022, pelo IBGE (SCR).

Gráfico 2 – Taxa de crescimento estimada para o PIB da região Norte, em 2023 e 2024, por atividades - %
                                      

                                                                                                                           Fonte: Dados estimados no estudo. Elaboração própria.
 

Com isso, o PIB da região Norte cresceu mais que o do Brasil, em 2023 e 2024, conforme ilustrado no Gráfico 3.
 

Gráfico 3 – Taxa de crescimento estimada do PIB em 2023 e 2024, por regiões e anos - %  
                     Fonte: Dados estimados no estudo. Elaboração própria.

Em 2023, os expressivos crescimentos estimados para o PIB do Acre (7,6%), de Tocantins (7,2%) e de Rondônia (6,5%), foram os responsáveis pelo maior crescimento do PIB nortista.

Em Rondônia, cerca de 70% do crescimento do PIB, em 2023, pode ser associado à agropecuária, com forte influência da produção de bovinos. No Acre além da expressiva contribuição da agropecuária, explicada pela produção de soja e de bovinos, os serviços também foram importantes, com destaque para as atividades de informação e comunicação e de outros serviços.

No Tocantins, o crescimento do PIB, em 2023, foi também motivado pelos setores agropecuários e de serviços, sendo que os destaques no primeiro foi a produção de soja e milho e, no segundo, o comércio, as atividades financeiras e os outros serviços.

Em 2024, os crescimentos das unidades da federação foram mais homogêneos, variando de 2,8% no Amazonas, até 5,0% no Amapá. Além do Amapá, Rondônia e Acre também apresentaram taxas elevadas (acima de 4,5%). Nos casos de Rondônia e do Acre, cerca de metade de seus crescimentos foi explicada pelo setor de serviços, enquanto no Amapá, este mesmo setor foi responsável por cerca de 70% do PIB.

Na análise para o 1º semestre de 2025, o IBGE divulgou que o PIB brasileiro cresceu 2,5%, em relação ao 1º semestre de 2024. Estima-se que o PIB da região Norte tenha tido crescimento similar no período (2,6%). Conforme apresentado no Gráfico 4, mais uma vez a agropecuária teve papel de destaque, sendo a de maior crescimento entre as três grandes atividades econômicas. Estima-se que todas as unidades da federação da região Norte contribuíram positivamente para este desempenho, sendo que apenas os estados de Rondônia, Pará e Tocantins foram responsáveis por cerca de 80% do crescimento dessa atividade na região.
 

Gráfico 4 – Taxa de crescimento estimada para o PIB e o valor adicionado por atividades da região Norte no 1º semestre de 2025 - %

Fonte: Dados estimados no estudo. Elaboração própria.

 

Na indústria, o modesto desempenho deveu-se a taxas de crescimento baixas na maioria dos estados e, principalmente, a retração estimada no Amazonas, influenciada pela queda de sua indústria de transformação. De acordo com dados da Pesquisa da Indústria Mensal do IBGE (PIM-PF), setores relevantes para o estado, como de fabricação de bebidas, o de produção de derivados do petróleo e biocombustíveis, e o de fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, tiveram retração no 1º semestre de 2025, o que se refletiu no total da indústria amazonense.

A principal contribuição positiva da indústria foi a do Pará, com crescimento nos quatro segmentos industriais (extrativas, transformação, eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, e construção). Entretanto, o destaque foi o forte desempenho na indústria de transformação, explicado, segundo a PIM-PF, pelo bom desempenho do setor de metalurgia, de fabricação de produtos de madeira, de produtos alimentícios, e de bebidas.

No setor de serviços, estima-se que todos os estados tenham registrado crescimento de valor adicionado no 1º semestre do ano, com destaque para o Amazonas, que respondeu por cerca de 40% desse crescimento, com forte influência das atividades de comércio e de outros serviços.

Na análise por UF, apresentada no Gráfico 5, notam-se estimativas acima da média regional (2,6%) e nacional (2,5%) para quatro estados: Tocantins (5,0%), Roraima (3,1%), Rondônia (2,9%) e Pará (2,9%).

Gráfico 5 – Taxa de crescimento estimada para o PIB no 1º semestre de 2025 por regiões e anos - %


Fonte: Dados estimados no estudo. Elaboração própria.
 

No Tocantins, mais da metade do crescimento deveu-se a agropecuária e, grande parte do restante, aos serviços. Em Roraima e em Rondônia, a agropecuária foi crucial para o forte crescimento do PIB. No Pará, embora a agropecuária também tenha sido a principal atividade a contribuir para o PIB, foi menor que nos demais estados mencionados; e, o setor industrial e de serviços tiveram maior relevância no seu desempenho do que a observada nos demais estados.

No Amazonas, a estimativa de fraco crescimento nos serviços, a contribuição negativa da indústria, somada à contribuição praticamente nula da agropecuária, explicam o crescimento de seu PIB abaixo da média regional. No Acre, estima-se que todas as atividades contribuíram positivamente para o PIB, embora a taxas modestas. Já no Amapá, praticamente apenas o setor de serviços contribuiu positivamente.

3) Conclusão

Embora todos os estados da região tenham tido evolução do PIB acima da média nacional, existem particularidades nas estruturas econômicas de cada UF que tornam relevante a análise individualizada do crescimento de seus PIB. O Pará, o Tocantins e Rondônia, por exemplo, aumentaram suas participações na economia regional, enquanto o Amazonas que tem o maior PIB foi o estado que mais perdeu participação.

No caso do Pará, o bom desempenho das indústrias extrativas, com expansão da mineração, contribuiu para esta trajetória. Já nos casos de Rondônia e do Tocantins, que ficam localizados ao sul da região Norte, nota-se forte crescimento associado a agropecuária, refletindo a expansão da fronteira agrícola do Centro-Oeste em direção ao Norte do país. Em contrapartida, no Amazonas, o desempenho da indústria de transformação e da construção, atividades com grande relevância na economia do estado, explicam a perda de participação do estado na economia regional, desde o final da década de 2010.

Nota-se, com isso, que o forte crescimento do PIB da região Norte, cada vez mais, tem sido influenciado por sua maior inserção na produção de atividades primárias, como a agropecuária e as indústrias extrativas. Essas atividades tendem a ter baixa associação aos ciclos econômicos e estão mais associadas a existência de recursos naturais ou condições geográficas e climáticas adequadas para a sua realização.

Notas:
[1] O IBGE, produtor do Sistema de Contas Regionais divulga os dados oficiais com defasagem de cerca de dois anos, tempo necessário para que o instituto tenha todas as informações estruturais para a completa elaboração do SCR de forma precisa.
[2] LSPA, PIM-PF, PMC, PMS, PNAD Contínua, entre outras.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

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