Economia do Rio de Janeiro no 1T20: primeiros sinais da crise do coronavírus
Após quatro anos consecutivos de queda da atividade econômica, em 2019, o Rio de Janeiro voltou a apresentar um crescimento, de 1,5%.[1] Para este ano, as expectativas eram mais positivas, de um crescimento maior do que no ano passado, em linha com as projeções para a economia brasileira em 2020, de algo próximo a 2%.[2] Porém, este cenário era pré-coronavírus. Com a crise atual, uma crise de saúde que tem impactos na economia, as projeções econômicas desabaram, no mundo, no Brasil e também no Rio de Janeiro. Agora, a dúvida é de quanto será a recessão.[3]
O primeiro trimestre foi afetado somente no final com a crise do coronavírus, pois somente na segunda quinzena de março que houve um agravamento da crise de saúde no Brasil. Com isso, o Indicador de Atividade Econômica (IBCR-RJ), divulgado pelo Banco Central, recuou, em termos reais, 1,7%, na comparação com o quarto trimestre de 2019. A produção industrial ainda conseguiu um crescimento positivo, de 1,4%, na mesma base de comparação. Já o setor de serviços, que corresponde a 80% da economia fluminense,[4] recuou 2,8%. Já as vendas no varejo, recuaram 0,7% no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o final do ano passado (Gráfico 1).[5]
Como em janeiro e fevereiro ainda não havia esta crise no Brasil, é interessante observar o desempenho destas quatro variáveis somente no mês de março, em comparação com o mês de fevereiro. A atividade econômica fluminense recuou 5,2% (seis estados apresentaram um desempenho melhor, e os outros seis, pior, dentre os 13 estados com dados do IBCR do BC), sendo a maior queda mensal desde 2002, início da série histórica (Gráfico 2). A produção industrial no Rio de Janeiro apresentou uma queda de 1,3% (segundo menor recuo, dentre os 14 estados com dados do IBGE); o setor de serviços do RJ, -9,2% (quinta maior queda, dentre os 27 estados com dados do IBGE); e nos dados do comércio fluminense, o recuo foi de 4,1% (oitavo menor recuo, dentre os 27 estados com dados do IBGE) – Gráfico 3.[6]
O Estado do Rio de Janeiro estava num processo de recuperação, lenta e gradual, mas de fortalecimento, da atividade econômica. Porém, com esta crise, a economia ainda vai piorar antes de melhorar. Voltar aos níveis anteriores da crise da recessão brasileira de 2014/16 ainda vai demorar algum tempo, infelizmente. No Gráfico 4 há as perdas acumuladas em março de 2020, já com os primeiros efeitos do momento atual, em comparação com os respectivos picos pré-crise[7]. A perda acumulada de atividade econômica estava diminuindo (passou de -9,6% em 2018 para -6,9% em 2019), mas aumentou novamente, com esta nova crise, para uma perda de 11,9% no final do primeiro trimestre de 2020, sempre em comparação com o pico, em janeiro de 2015. No caso da indústria, que cresceu no primeiro trimestre deste ano, a perda acumulada diminuiu de -6,4% (em dezembro de 2019) para -4,8%, em relação á março de 2014. Mas nos setores de serviços e comércio, os gaps aumentaram mais ainda. O setor de serviços, principal locomotiva da economia fluminense, está quase 30% abaixo do pico de junho de 2014. E as vendas no varejo estão 14,6% abaixo do pico prévio de outubro de 2014.[8]
Estes são os primeiros sinais da crise do coronavírus na economia fluminense. E deve piorar bastante, principalmente no segundo trimestre de 2020, com queda da atividade econômica, e aumento do desemprego,[9] antes de apresentar algum sinal de melhora.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] Com as revisões, a taxa real de crescimento passou para 1,5%. Na divulgação de dezembro, a taxa do ano de 2019 era de 1,3%.
[2] Projeções do IBRE/FGV e expectativas de mercado (boletim Focus).
[3] Para o PIB do Brasil, o IBRE/FGV projeta uma queda de 6,4%, número próximo da mediana das expectativas de mercado, segundo o boletim Focus, de -6,25%.
[4] 80,9% do VA (valor adicionado), segundo dados de 2017 (última atualização) das Contas Regionais, do IBGE. No Brasil, o setor de serviços corresponde a 73,9% do VA (dados de 2019, e 73,5% em 2017). Já o peso da indústria na economia do Rio de Janeiro é de 18,6%; e a agropecuária, 0,5%.
[5] As taxas de variação do primeiro trimestre de 2020 em comparação com o primeiro trimestre de 2019 foram as seguintes: IBCR-RJ (+1,9%); produção industrial (+9,8%); serviços (+1,6%); e comércio (+2,3%).
[6] Só para efeitos de comparação, as taxas de variação de março, em comparação com o mês anterior, no Brasil, foram: IBC-Br (-5,9%); produção industrial (-9,1%); serviços (-6,9%); e no varejo ampliado (-13,7%).
[7] Crise não do coronavírus, mas sim da recessão 2014/16.
[8] Em dezembro de 2019, a perda acumulada do setor de serviços estava em -19,8%. No comércio, em -10,5%.
[9] Sobre o mercado de trabalho, de acordo com dados da Pnad Contínua do IBGE, a taxa de desemprego do Estado do Rio de Janeiro no primeiro trimestre de 2020 foi de 14,5%, 2,3 p.p. acima da média nacional, sendo o décimo sexto trimestre consecutivo em que a taxa de desemprego fluminense é maior do que a brasileira (desde o 2T16, portanto). Na comparação com o 1T19, a taxa de desemprego do RJ recuou 0,8 p.p. (15,3% era a taxa no começo de 2019).
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