A elevação do custo dos insumos dos bens industriais
Um dos componentes relevantes hoje na dinâmica inflacionária é o custo dos bens industriais. Em junho, a inflação de custos superou 29% em 12 meses. Enquanto os custos e a demanda seguirem pressionados, os preços dos bens industriais não devem arrefecer no curto prazo.
A dinâmica inflacionária hoje é um ponto de atenção, fruto da persistência de alta nos bens industriais, lento arrefecimento dos preços dos alimentos e choque de administrados como combustíveis e energia, tornando o cenário ainda mais desafiador. Ao mesmo tempo, com o avanço da vacinação e a normalização da atividade, os preços de serviços são pressionados e os efeitos secundários dos choques de oferta se intensificam, levando a inflação de 2021 para um patamar superior a 7%. A piora no cenário climático, com frio e seca, deve pressionar novamente os preços dos alimentos.
Um dos componentes a serem monitorados é a evolução dos preços dos bens industriais, pois desde meados do ano passado a variação de preços nestes bens tem sido muito alta. A lentidão da normalização nas condições de oferta de vários produtos e a resiliência da demanda contribuem para manter a inflação desse grupo muito elevada no curto prazo.
De fato, no atacado, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) dos bens industriais que compõe o IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, atingiu no acumulado do ano até junho 20,5%, e em 12 meses, 44,4%. Pelo IPA-M, divulgado no dia 29 de julho, o resultado no mês foi de 1,5% , um valor ainda bem elevado e acelerando em relação ao resultado do mês anterior de 0,9%.
Parte deste aumento já se refletiu nos preços ao consumidor. Em particular no IPCA, este grupo, que representa em torno de 23% da cesta de consumo, atingiu 4,9% no ano e 8,7% em 12 meses. Em julho, pelo IPCA-15, a inflação foi de 0,7% no mês e 9,2% em 12 meses. O Banco Central tem monitorado estes preços e no Relatório Trimestral de Inflação de março de 2021, há um box com o estudo denominado “Repasse de custos na indústria da transformação”.[1] Como destacado na análise, em cada elo da cadeia de produção dos bens industriais, o custo com insumos representa apenas uma fração do preço final, e há possíveis defasagens de repasse na cadeia. Então é importante monitorar os custos setoriais para se avaliar os riscos inflacionários dos bens industriais. O FGV IBRE aplicou o método proposto pelo Bacen, atualizando as séries até junho de 2021.
De maneira resumida, a primeira etapa do procedimento consiste na construção de proxies de custos de produção para as 30 atividades industriais presentes na Matriz Insumo-Produto de 2015 (MIP). Na MIP temos 127 produtos que fazem parte do consumo intermediário destas atividades. Para cada produto, foi definido uma proxy de índices de preços, utilizando as aberturas do próprio IPA, do Índice Nacional da Construção Civil (INCC) e do IPCA. O gráfico abaixo mostra a variação interanual de custos para o agregado da indústria de transformação desde dezembro de 2005.
Gráfico: Inflação em 12 meses dos Custos dos Insumos da Indústria
de Transformação (junho de 2021)
Fonte: IBGE e FGV IBRE. Elaboração do autor.
Em dezembro de 2020, a inflação de custos estava ligeiramente acima de 16%. Porém, em apenas seis meses o valor superou 29%, o patamar mais alto da série histórica. No estudo do Bacen, uma regressão simples que relaciona contemporaneamente as variações interanuais de preços e custos sugere um coeficiente de repasse de 48% (R² de 0,63) para a indústria de transformação. Ou seja, enquanto os custos de produção e a demanda continuarem pressionados, os preços dos bens industriais ao consumidor não devem arrefecer no curto prazo.
[1] RELATÓRIO DE INFLAÇÃO. Banco Central do Brasil, jun. 2018 e mar. 2021 (publicação trimestral). Disponível em: www.bcb.gov.br/?RELINF.
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