Macroeconomia

Em 2017, balança tem recorde e aumenta dependência por commodities. E 2018?

4 jan 2018

A balança comercial fechou o ano de 2017 com superávit de US$ 67 bilhões, o maior valor jamais registrado. Diferentemente de 2015 e 2016, quando os superávits foram obtidos pela queda mais acentuada nas importações do que nas exportações, o de 2017 foi acompanhado pelo aumento das exportações em 18% e das importações em 9,6%. Os superávits de 2015 e 2016 foram o resultado da recessão econômica que levou ao recuo das importações, o de 2017 foi liderado pelas exportações. Essa liderança veio acompanhada de um aumento da dependência da venda de commodities e da China como mercado de destino das vendas brasileiras. O que esperar para o saldo comercial de 2018?

As 23 principais commodities exportadas pelo Brasil contribuíram em 77% para o aumento das exportações entre 2016 e 2017. Elas representam 52% do total exportado em 2017 e registraram uma variação de 25% (2016/17). As exportações de não commodities experimentam crescimento inferior ao das commodities, de 8,8%. A expansão das commodities está associada a um aumento de 11% no volume exportado e de 16% nos preços. Esse relativo equilíbrio, porém, não se repete quando se analisa as principais commodities (ver Gráfico). Os casos com maiores diferenças de percentuais entre preço e quantidade são: minério de ferro (preços, 44%% e volume, 3%%); e, o complexo da soja (volume, 27% e preços, -2%). Destaca-se também o caso do item petróleo e derivados, que após um período de queda de preços, registrou variação positiva de 35% e de 25% no volume.

Primeira observação: não se espera que os preços e o volume das commodities registrem aumentos como os de 2017, que representou uma recuperação em relação aos níveis baixos de 2015/2016, em especial para o minério de ferro e o petróleo. O aumento do volume depende do crescimento do comércio mundial, que deverá ser menor em 2018 do que o previsto para 2017 (ao redor de 3,5%), que partiu de uma base baixa (o crescimento entre 2015/16 foi de 1,3%). Logo, para assegurar expansão no valor exportado, as manufaturas deveriam crescer acima do percentual de 9% ocorrido entre 2016/17.

O aumento das exportações de manufaturas foi liderado pelo setor automotivo. As exportações de automóveis, o quinto principal produto da pauta, cresceram 44%. Outros itens como veículos de carga também tiveram bom desempenho, aumento de 37%. Nesse caso, contribuiu a ampliação das cotas negociadas nos acordos com os parceiros sul-americanos e o México, além da recuperação da economia argentina (crescimento esperado de 2,4% em 2017) após queda de 2,2%, em 2016. A Argentina responde por cerca de 70% das exportações brasileiras de automóveis.

Segunda observação: novos acordos foram assinados, como com a Colômbia para aumento das cotas de vendas de automóveis, o que favorece as exportações. No entanto, não se espera que se repitam incrementos da mesma ordem que em 2017, que partiu de um cenário de queda das exportações em 2016. Além de automóveis, outros produtos registraram aumentos de dois dígitos, como máquinas para terraplanagem e laminados. No entanto não se espera que as exportações de manufaturas contrabalancem o menor crescimento das commodities esperado para 2018.

Acompanhando o aumento da dependência das commodities, houve o crescimento da participação da China nas exportações brasileiras, que passou de 20% para 23%, entre 2016 e 2017. Esse percentual supera a participação de toda a América Latina e Caribe (20%, incluindo o México), União Europeia (16%) e Estados Unidos (12%). Além disso, a China é agora o segundo principal mercado de origem das importações brasileiras, após a União Europeia.

Terceira observação: China deverá crescer 6,8%, em 2017 e 6,5%, em 2018. É um crescimento menor, mas deverá manter relativamente estável a demanda de importações do país por commodities, o que reforça o argumento sobre a redução no ritmo de crescimento das exportações para 2018.

O que esperar para 2018?

O saldo da balança comercial deverá recuar pelo aumento das importações associado a um crescimento previsto ao redor de 2,5% do PIB. O comportamento das exportações em valor deverá crescer menos do que em 2017 – o nível de volume exportado e de preços das commodities é mais alto em 2017 do que em 2016 e nada indica um boom de preços.

As exportações de manufaturas dependem de câmbio e demanda mundial. Supondo um cenário político sem turbulências, o câmbio deverá ser estável e a demanda mundial deve crescer a valores próximos de 2017. Se a preocupação é a questão macroeconômica, o setor externo via a balança comercial não será uma restrição. Continuam na agenda pendente, entretanto, os desafios da diversificação da pauta de manufaturas, que está associado às questões de competitividade da indústria brasileira. 

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