Macroeconomia

Empresas reportam aumento do comércio online e sofrem menos durante a pandemia

25 out 2021

Desde o início da pandemia, as empresas passaram a adotar ou priorizar o comércio online. Utilizando dados da Sondagem do Comércio, foi possível perceber que as empresas que mais adotaram essa estratégia conseguiram minimizar os impactos da pandemia.

Desde o início da pandemia, muitos desafios foram surgindo na operação das empresas. O caráter da crise, que além de econômica também é sanitária, fez com que a circulação de pessoas ficasse muito restrita. As tentativas de conter a disseminação do vírus passaram e ainda passam por medidas impostas por governos e também pela cautela da própria população.

Uma das possibilidades que as empresas do setor do comércio encontraram foi adotar ou intensificar os meios de venda online (e-commerce). Apesar da escassez de dados sobre o tema, é possível notar que há um crescente aumento do número de aplicativos e sites de vendas das empresas do setor. As empresas mais estruturadas parecem ter aproveitado o momento e minimizado o impacto da redução de circulação das pessoas após o início da pandemia.

Para tentar contribuir e analisar melhor o avanço do comércio online, foram aplicados quesitos extraordinários no questionário da Sondagem do Comércio do FGV IBRE. Em julho de 2020, as empresas responderam qual era o percentual de venda online nas vendas da empresa naquele momento e como era antes da pandemia. Novamente, em junho de 2021, as empresas reportaram novamente esse percentual no momento presente. Como mostra o gráfico abaixo, é possível observar um avanço desse percentual em todos os principais segmentos do varejo brasileiro.

Percentual médio de venda online

Fonte: FGV IBRE

O resultado corrobora a hipótese de que as empresas aceleram seu processo de digitalização ao longo da pandemia, principalmente como uma alternativa para minimizar os impactos negativos da queda de circulação de pessoas.

Além disso, parece ter sido uma opção das empresas para aproveitar o bom momento do setor na recuperação em 2020. Vale lembrar que no período houve um aumento dos recursos por parte das famílias com o pagamento do auxílio emergencial e que houve uma concentração da demanda no consumo de bens do que serviços, dado o maior risco associado e a necessidade de distanciamento social.

Essa aceleração da digitalização das empresas ocorreu em todos os níveis de porte no setor. Em média, metade das empresas do comércio não faziam nenhum tipo de venda online antes da pandemia. Esse percentual foi se reduzindo com o passar dos meses e espalhado em todos os portes, mas é possível observar que as pequenas empresas continuam sendo as que possuem a maior participação percentual de empresas com vendas exclusivamente presenciais.

Percentual de empresas com vendas exclusivamente presencial – por porte (dados em %)

Empresas sem nenhuma venda online

Geral

Porte P

Porte M

Porte G

Antes da pandemia

49,7

54,1

51,2

41,7

jul/20

28,4

37,8

28,0

12,9

jun/21

20,2

27,3

21,0

8,3

Fonte: FGV IBRE

A partir desses dados, analisamos se as empresas que estão com mais vendas online se sobressaíram ao longo da pandemia. As empresas foram separadas em dois grupos: as que estão acima da média dentro do próprio segmento, e as que estão abaixo da média. Depois foi comparado o Índice de Situação Atual para esses dois grupos para observar se há diferença no comportamento. É preciso ressaltar, que a escolha da análise com base no ISA deve-se pelo Índice de Confiança incluir as expectativas que tendem a ser mais voláteis em ambientes de crise. Como o objetivo era avaliar o volume de vendas no momento presente, o ISA se torna mais apropriada[1].

Com as considerações feitas, abaixo é apresentado os dois ISA-COM’s: das empresas acima da média em vendas online e das empresas abaixo da média. O ambiente de elevada incerteza e sem a perspectiva sobre o tempo de duração das medidas restritivas inicial impactou de forma disseminada as empresas o 2º trimestre de 2020. Com o passar dos meses, é possível notar que as empresas que avançaram na digitalização conseguiram se sobressair na recuperação ocorrida até o final de 2020, possivelmente por conseguirem atingir um percentual maior de vendas online.

Com a redução dos auxílios do governo e o recrudescimento da pandemia, a virada de 2020 para 2021 foi de queda do ISA nos dois grupos. O segundo momento desse descolamento entre os dois grupos ocorre justamente no novo período de medidas restritivas na virada do primeiro para segundo trimestre de 2021. As empresas com maior percentual de vendas online mais uma vez se sobressaíram e parecem ter sofrido menos nesse período.

Índice de Situação Atual das empresas acima da média em vendas online e abaixo da média – Em pontos, com ajuste sazonal

Fonte: FGV IBRE

Os resultados recentes da confiança do comércio mostram uma piora da confiança no final do terceiro trimestre e que foi mais acentuada pelo grupo de empresas que estão abaixo da média em vendas online. Nesse momento, não é claro se isso foi impacto das vendas online dado que estamos em um momento de flexibilização e com menos medidas restritivas. É válido considerar que seja de fato uma desaceleração do consumo como um todo, mas é preciso esperar os próximos resultados para avaliar a tendência para a virada para 2022.


[1] As séries não estão padronizadas como o índice tradicional porque foram calculadas apenas no período de 2020 em diante.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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