Macroeconomia

Entrevista: Pablo Guidotti, ex-secretário da Fazenda da Argentina, para Conjuntura Econômica

12 jun 2018

Em entrevista a Conjuntura Econômica, Pablo Guidotti, ex-secretário da Fazenda da Argentina, analisa a situação fiscal do país. Para Guidotti, a negociação do governo argentino com o FMI será a ocasião perfeita para o presidente Macri romper resistências políticas e reduzir o gradualismo do ajuste fiscal. 

Por Solange Monteiro

Na sua opinião, a redução do gradualismo no ajuste fiscal que deverá acontecer a partir do acordo com o FMI deveria ter começado antes?

Obviamente essas são decisões que têm seu lado político. O governo sentia ter limitações políticas para avançar mais rapidamente, e sabia que havia risco nesse caminho gradual. Ficou claro que o mercado de capitais estava ficando nervoso, e as condições externas estavam mudando. Mas o importante é que, quando houve a crise, o governo reagiu muito rápido, de forma contundente ao buscar o FMI, e também mudando sua política fiscal. Na Argentina, há um ditado que diz que há males que vêm para o bem. Essa crise poderia ter acontecido mais tarde, e foi melhor que tenha acontecido agora, pois dá ao governo maior capacidade de reação. Acho que a sociedade entenderá que esse é um governo que responde de forma coerente a suas políticas.

Tal como o Brasil, o governo argentino conta com alta rigidez orçamentária. Como avalia que o governo poderá cortar gastos?

Na estrutura do gasto público argentino, cerca de 70% a 75% são inflexíveis – principalmente pensões e gastos com salários. Então, em geral, os ajustes fiscais recaem sobre essa fatia de 25% a 30% que são mais flexíveis, e em geral estão relacionados a políticas sociais e investimento. Acho que parte dos motivos que fizeram com que o governo buscasse um ajuste gradual era para manter um nível relativamente alto de investimento em infraestrutura e não reduzir desembolsos em programas sociais.

Até agora, o governo concentrou o combate ao déficit na redução de subsídios às tarifas de serviços públicos, que mais ou menos representavam 4% do PIB, pois as tarifas ficaram congeladas por muito tempo. Essa redução ainda trará resultado em 2018, mas em 2019 será preciso encontrar outras áreas em que avançar na redução de gastos. O chamado feito pelo presidente é de que a discussão de como reduzir o déficit seja feita no contexto da lei orçamentária de 2019, para um acordo entre governo e partidos da oposição para encontrar formas de cortar despesas que não sejam investimento em infraestrutura. Novamente será uma discussão muito difícil no nível político, mas de qualquer forma o Congresso é o âmbito correto e natural para se fazer isso.

Continue a ler a entrevista no site da Revista Conjuntura Econômica.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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