Economia Regional

Estado do Rio é o que menos cresceu desde 1985

30 set 2022

Estado do Rio é o que menos cresceu no Brasil desde 1985, com média anual de 1,5%, ante 2,3% do Brasil. Esse mau desempenho é em parte explicado pela mudança da capital federal para Brasília e pelo cenário político do Estado.

O PIB do estado do Rio de Janeiro (RJ) é o que menos cresceu, em todo o Brasil, desde 1985,[1] de acordo com dados do Sistema de Contas Regionais divulgados pelo IBGE. Enquanto o PIB brasileiro mais que dobrou no período, o do RJ cresceu apenas 66,9% em 35 anos, o que corresponde a uma taxa de crescimento real média de 1,5% ao ano. Já a taxa média de crescimento do Brasil nesse período foi de 2,3% ao ano.

Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais e Sistema de Contas Nacionais; elaboração própria.

O fraco desempenho do PIB do RJ, sendo o que menos cresceu no Brasil, de 1985 a 2019, pode ser, em parte, explicado pela: (i) mudança da capital federal para Brasília e (ii) como reflexo do crítico cenário político do estado.

Com a mudança da capital federal para Brasília, o RJ foi perdendo seu perfil central no país e isso gerou a saída de sedes de grandes empresas e do capital financeiro privado que estavam localizadas no RJ pela condição de capital federal (COSTA, 2010).[2] Segundo o mesmo autor, este “deslocamento dos principais bancos públicos também afeta a capacidade de atração do capital privado para a cidade, levando consequentemente a uma posterior saída das sedes dos mesmos para outras cidades ou regiões agora mais atrativas.”

No fragilizado cenário político fluminense, dos onze governadores que o estado teve no período, seis foram presos ou afastados devido a envolvimentos com esquemas de corrupção. Considerando apenas os governadores eleitos diretamente, são seis governadores envolvidos com corrupção do total de oito. Este cenário mostra uma fragilidade política no estado que se refletiu na economia. Além disso, o RJ apresenta problemas de infraestrutura que afugentam os investimentos para outros estados. A instabilidade política fluminense atrelada a precária infraestrutura influenciou no desempenho econômico do estado. Com outros locais mais estáveis, o ERJ perdeu importância econômica.

Na análise desagregada por atividades econômicas nota-se que, a exceção das indústrias extrativas, o estado do Rio de Janeiro apresentou desempenho pior que o Brasil em todas as demais atividades investigadas.

Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais e Sistema de Contas Nacionais; elaboração própria.

Na análise da evolução anual do PIB do RJ e do Brasil, nota-se que o deslocamento entre as séries se inicia ainda na década de 1980 e se acentua nas décadas posteriores, com o PIB fluminense tendo trajetória abaixo do PIB brasileiro.

Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais e Sistema de Contas Nacionais e Wikipédia; elaboração própria.

Devido ao pior desempenho da economia do RJ frente ao nacional, o PIB fluminense apresentou tendência de redução de participação no PIB brasileiro. A maior participação, da série histórica iniciada em 1947, foi de 15,9% em 1950. Em 2021, o percentual estimado foi de apenas 9,9% (Gráfico 4).


Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais, Sistema de Contas Nacionais, Estatísticas do Século XX e Índice Nacional de Preços ao

Consumidor Amplo; Banco Central - Índice de Atividade Econômica Regional; elaboração própria.

De 2002 a 2019, período em que o atual Sistema de Contas Regionais do IBGE tem dados disponíveis, o PIB do RJ perdeu 1,8 p.p. no PIB do Brasil. No Gráfico 5, é possível observar que, à exceção da atividade de transportes, todas as demais atividades investigadas perderam participação na economia nacional. A maior perda foi nas indústrias extrativas. Embora em 2019 o RJ ainda tenha a maior participação da atividade de indústrias extrativas do Brasil (47,2%), este percentual já chegou a ser de 67,8% em 2006.


Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais, Sistema de Contas Nacionais; elaboração própria.

Como forma de relacionar o desempenho fluminense com o do Brasil, é importante destacar que, segundo a série histórica das taxas reais de crescimento do PIB brasileiro do Ipeadata, com início em 1901, o biênio 2015-2016, durante a recessão brasileira 2014/16, foi o pior da história brasileira. Com exceção desse período, a única vez em que o Brasil apresentou dois anos seguidos de taxa real de crescimento do PIB negativa foi em 1930 e 1931, logo após a Crise de 29. Em 1930 a queda foi de 2,1%, e, em 1931, o recuo foi de 3,3%. Ou seja, a queda do biênio 2015-2016 (-3,4% ao ano, em média) foi maior do que o recuo do biênio 1930-1931 (-2,7% a. a., em média).[3]

E, se o PIB do Brasil apresentou esse desempenho bastante negativo, o PIB fluminense apresentou um resultado pior ainda. Não foram dois, mas três anos de queda consecutiva do PIB em 2015 (-2,8%), 2016 (-4,4%) e 2017 (-1,6%), com um recuo médio de 2,9% da atividade econômica do Estado do RJ. Ou seja, se a atividade econômica do Brasil sofreu nesse período, a economia fluminense mais ainda.

Com a pandemia do Coronavírus e o consequente impacto econômico, pela primeira vez o Brasil e o Estado do Rio de Janeiro entraram numa nova recessão sem ter se recuperado das perdas da recessão anterior. Em 2019, último ano antes da crise sanitária iniciada em 2020, o PIB anual do Brasil estava 2,6% abaixo do nível de 2014.[4] Já o PIB fluminense, nesse mesmo período, estava 7,2% abaixo.

O PIB per capita do RJ era o terceiro maior do Brasil até 2019. Contudo, por ser o estado com menor crescimento do PIB per capita nos últimos 20 anos, a estimativa é que o RJ tenha caído de posição para quarto lugar a partir de 2020.  De acordo com o Gráfico 6, o PIB per capita do RJ foi o que menos cresceu no Brasil entre 2002 e 2019. O PIB per capita do RJ cresceu apenas 6,8% enquanto o do Brasil cresceu 22%.

 
Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais, Sistema de Contas Nacionais; elaboração própria.

O quarto maior PIB per capita estadual era, até 2019, o de Santa Catarina. A partir de 2020, o PIB per capita de Santa Catarina muda de posição com o PIB per capita fluminense e, em 2021, esta diferença aumenta. Em 2002, o PIB per capita de Santa Catarina representava 90% do PIB per capita fluminense, em 2021 a estimativa é que tenha representado 103% (Gráfico 7).

O que mais chama atenção nisto é que o crescimento do PIB per capita de Santa Catarina é apenas o 21º do Brasil, ou seja, 20 estados apresentaram desempenho melhor que o de Santa Catarina e, mesmo assim, o RJ foi ultrapassado por este estado. Não é Santa Catarina que apresentou um desempenho excelente, mas sim o Rio de Janeiro que, há anos, tem apresentado desempenho decepcionante.


Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais, Sistema de Contas Nacionais, Estatísticas do Século XX e Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo; Banco Central - Índice de Atividade Econômica Regional; elaboração própria.

Ainda sobre o PIB per capita, se em 2012, a renda média fluminense era 43% maior do que a brasileira, houve uma tendência de queda nos últimos anos, com um empobrecimento relativo do RJ. Em 2019, o último dado oficial disponível pelo IBGE, a taxa era de 28%.

Em resumo, estes resultados mostram que a economia do RJ apresenta problemas históricos de crescimento. Com raras exceções, o PIB fluminense sempre apresentou desempenho pior que o brasileiro independentemente do governador em exercício, pelo menos desde 1985. A análise por atividades econômicas evidencia que esta dificuldade é generalizada. Em termos de PIB per capita, o RJ já deixou de deter o terceiro maior do país para Santa Catarina.  E vale ressaltar que não é Santa Catarina que apresentou um desempenho excelente, mas sim o Rio de Janeiro que, há anos, tem apresentado desempenho decepcionante. A renda média fluminense era 43% maior do que a brasileira, em 2012, tendo passado para um aumento de 28% em 2019, mostrando um empobrecimento relativo do Estado do RJ nos últimos anos.

Nesse contexto, é urgente a mudança de rota da economia do RJ, já que mesmo com tudo isso, o RJ ainda é a segunda maior economia do Brasil. Um Estado do Rio de Janeiro com mais pujança econômica representa um Brasil com uma economia mais robusta também!

A autora agradece os comentário e sugestões do economista Marcel Balassiano, bem como nos dados da cidade do Rio de Janeiro.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva da autora, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 


[1] De 1985 a 2001 foram utilizadas as informações históricas do valor adicionado total do Sistema de Contas Regionais. De 2002 em diante foi utilizada a série de PIB do atual Sistema de Contas Regionais.

[2] COSTA, P. “O esvaziamento Econômico do Rio de Janeiro e a perda da capitalidade”, UFRJ, 2010.

Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/2338/1/PVCosta.pdf

[4] A recessão brasileira começou no segundo trimestre de 2014, segundo o CODACE. Porém, em 2014, o PIB do Brasil ainda foi positivo, com crescimento de 0,5%.

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