Macroeconomia

A estagnação da produtividade em 2018

26 mar 2019

A recuperação cíclica da economia brasileira, que é a mais lenta já registrada após uma recessão, continua a decepcionar. Além da divulgação de um crescimento do PIB de apenas 1,1% em 2018, repetindo o resultado de 2017, vários indicadores mostram que este desempenho ruim continuou neste início de ano.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado esta semana, teve retração de 0,4% em janeiro em relação a dezembro. Os dados da PIM-PF indicam que a produção industrial caiu 0,8% na mesma comparação, enquanto a PMS revelou que os serviços tiveram queda de 0,3%.

Embora os investimentos tenham subido 1,3% em janeiro em comparação com dezembro, segundo o Indicador de Formação Bruta de Capital Fixo do IPEA, este aumento deveu-se à mudança no regime do Repetro, que passou a incluir plataformas de petróleo já em operação no país no cálculo do investimento, sendo contabilizadas como importações de plataformas. Excluindo esse efeito contábil, o investimento recuou 2,2% em janeiro em relação a dezembro.

Um novo indicador mostra que a produtividade do trabalho já tinha parado de crescer em 2018. Com base na recente divulgação, por parte do IBGE, das Contas Nacionais Trimestrais e dos dados da Pnad Contínua, o IBRE/FGV calculou a taxa de crescimento da produtividade trimestral por hora trabalhada, acumulada em quatro trimestres, para o agregado da economia e para os grandes setores (agropecuária, indústria e serviços), desde o quarto trimestre de 2013 até o quarto trimestre de 2018.

Os números mostram que, depois de aumentar 1% em 2017, a produtividade por hora trabalhada ficou estagnada em 2018. Ou seja, embora o crescimento do PIB tenha sido igual em 2017 e 2018, o comportamento da produtividade foi bem diferente. Se a quantidade de horas trabalhadas não tivesse crescido em 2018, o PIB teria estagnado ano passado.

A taxa de crescimento da produtividade por hora trabalhada da economia brasileira apresentou forte redução entre o quarto trimestre de 2013 e o primeiro trimestre de 2016, período ao longo do qual passou de alta de 2,2% para queda de 2,5%. Nos trimestres seguintes, houve uma retomada gradual da taxa de crescimento da produtividade agregada, que atingiu 1,0% no quarto trimestre de 2017. No entanto, entre o quarto trimestre de 2017 e o quarto trimestre de 2018, houve desaceleração do crescimento da produtividade agregada para 0,0%.

A baixa taxa de crescimento da produtividade agregada nos últimos anos decorre principalmente do fraco desempenho da produtividade do setor de serviços, que concentra cerca de 70% da alocação setorial de horas trabalhadas no país, e que tem apresentado taxas negativas de crescimento desde o terceiro trimestre de 2014.

Embora o crescimento do valor adicionado do setor de serviços em 2018 (1,3%) tenha sido superior ao da indústria (0,6%) e ao da agropecuária (0,1%), a produtividade de serviços teve queda neste ano (-0,6%), ao passo que indústria e agropecuária tiveram crescimento positivo da produtividade (1,3% e 1,1%, respectivamente). Enquanto a produção de serviços aumentou menos que o número de horas trabalhadas no setor, indústria e agropecuária tiveram elevação do valor adicionado mesmo com queda das horas trabalhadas.

Atualmente, a produtividade por hora trabalhada está no mesmo nível do quarto trimestre de 2012, e 2,7% abaixo do pico atingido no primeiro trimestre de 2014. Se considerarmos a produtividade por trabalhador ocupado, a redução de produtividade no mesmo período foi ainda maior, com queda de 5%.

Um fator que contribuiu para a queda da produtividade desde o início da recessão foi o aumento da informalidade. As empresas formais no Brasil são, em média, 4 vezes mais produtivas que as informais, devido ao uso mais intensivo de capital físico, maior capital humano de empreendedores e trabalhadores, e uso de tecnologias mais avançadas. Em consequência, um aumento da parcela de mão de obra empregada no setor informal, como tem acontecido nos últimos anos, representa uma realocação do trabalho para firmas menos produtivas, resultando em queda da produtividade.

Estimativas do IBRE/FGV indicam que cerca de metade da queda de produtividade desde o início da recessão deveu-se ao aumento da informalidade. Esse efeito foi particularmente forte em setores intensivos em mão de obra e caracterizados por informalidade elevada, como construção e transportes. Setores mais intensivos em capital, como a indústria de transformação, foram menos afetados pelo aumento da informalidade e tiveram recuperação mais rápida.

No curto prazo, a aprovação da reforma da previdência é a medida mais urgente para assegurar uma recuperação mais forte da produtividade, por meio da retomada do crescimento e maior geração de vagas no setor formal.

Para que o crescimento da produtividade seja sustentado, no entanto, são necessárias reformas que tornem o ambiente de negócios mais favorável para a geração de emprego nas empresas mais produtivas, principalmente nas áreas tributária, trabalhista e creditícia.


Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 22/3/19.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

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