Mercados e Inflação

Existe espaço para dar início ao afrouxamento da política monetária?

25 abr 2023

Há renovada expectativa de que o BC estaria prestes a dar início a ciclo de corte da taxa Selic. Analisamos considerações relevantes acerca do cenário sob o qual seria viável reduzir a Selic, sem perda de credibilidade do BC.

É fácil detectar o elevado grau de ansiedade que presentemente toma conta de políticos (especialmente os governistas), empresários e participantes do mercado financeiro em torno da possibilidade de o Banco Central dar início a um afrouxamento da política monetária. Como é notório, esta se encontra em território contracionista desde o último trimestre de 2021. São mais de seis trimestres consecutivos de aperto monetário.  

Na margem, a inflação tem recuado, como ilustra, por exemplo, o comportamento da média móvel trimestral do IPCA, estimada com base em dados dessazonalizados e anualizada. Por essa métrica, a inflação passou de um pico recente de 15,0% a.a., no começo do ano passado, para 8,0% presentemente. A média dos cinco núcleos de inflação acompanhados de perto pelo BC recuou de aproximadamente 13,0% em meados de 2022 para 6,1% agora em março. São números animadores, mas o fato é que o aperto da política monetária ainda não rendeu os frutos esperados por todos, em particular pelo Banco Central. Atingir a meta de 3,0% ao ano, de maneira sustentável, é o objetivo das autoridades monetárias.

Embora haja amplo reconhecimento da constatação acima apontada, o elevado nível a que chegaram os juros reais na economia brasileira é notoriamente insustentável. Em algum momento, a política atual terá de experimentar reversão. O drama é que, como já assinalado, o trabalho do Banco Central está longe de concluído e, além disso, eventual afrouxamento da política monetária em desacordo com os protocolos de atuação de um BC praticante do regime de metas acabaria por tornar o quadro inflacionário ainda mais grave, exigindo, mais adiante, a retomada do aperto, possivelmente em escala mais severa – a menos, evidentemente, que optássemos por viver num ambiente de inflação elevada.     

A complexidade desse quadro faz com que muitos mobilizem suas lupas num esforço para vislumbrar sinais de espaço para o Banco Central dar início a uma fase de redução da Selic, sem que isso acarrete a perda de credibilidade da autoridade monetária.

Será que a divulgação da inflação de março, que veio abaixo do esperado e do topo da margem de tolerância da inflação de doze meses, seria um sinal relevante? Até que ponto a boa vontade com que os participantes de mercado têm recebido a proposta oficial do chamado arcabouço fiscal daria respaldo ao BC para reduzir a Selic? E que dizer dos efeitos deflacionários da apreciação do real diante do dólar, verificada em meados deste mês de abril?

Na edição de fevereiro último do Boletim Macro, chamamos a atenção para o fato de que, muito provavelmente, a inflação de doze meses de 2023 apresentaria um formato em U, caindo até meados do ano, e voltando a subir no segundo semestre. O primeiro movimento derivaria da retirada de três elevadas taxas mensais de inflação ocorridas em 2022, a saber: 1,01% em fevereiro, 1,62% em março e 1,06% em abril. O segundo movimento decorreria da retirada do cálculo da inflação de doze meses de três deflações mensais, relativas ao período julho-setembro do ano passado.


Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro de abril/2023.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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