Macroeconomia

Expectativas com o MCMV se reduzem

23 jan 2019

Semestralmente, desde junho de 2015, a Sondagem da Construção tem introduzido alguns quesitos especiais para as empresas participantes dos programas governamentais Minha Casa Minha Vida (MCMV) e Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com esses quesitos, é possível avaliar a evolução dos negócios e as perspectivas, assim como diferenciar a percepção dessas empresas daquelas que estão fora dos programas. Ou, em última análise, apontar se os programas estão contribuindo para melhorar o cenário setorial.

Vale lembrar que a Sondagem mostrou que, ao longo do ano passado, a percepção referente à situação corrente dos negócios (ISA) das empresas da construção cresceu muito devagar, mas quase continuamente, atingindo em dezembro patamar equivalente ao de abril de 2015. Em contrapartida, o indicador referente às expectativas (IE) oscilou bastante durante o ano, acusando queda expressiva após a greve dos caminhoneiros ocorrida em maio. Ao final do ano, o IE recuperou o patamar anterior à greve, sinalizando expectativas menos pessimistas dos empresários para os primeiros meses de 2019.  Assim, no último mês de 2018, a confiança setorial fechou em alta – o indicador alcançou o maior nível desde dezembro de 2014.

A abertura desses indicadores a partir do envolvimento nos programas confirma a importância do MCMV e do PAC na dinâmica setorial. Mas a pesquisa realizada em dezembro mostra que houve uma mudança do cenário no que diz respeito ao MCMV.

Até junho do ano passado, as empresas que operavam com o MCMV e o PAC registravam maior Índice de Confiança da Construção (ICST). Na comparação interanual até junho de 2018, o ICST das empresas do MCMV teve maior elevação, refletindo expectativas mais altas e também melhor percepção quanto aos negócios correntes.

Em dezembro de 2018, a confiança das empresas do MCMV teve queda expressiva. Vale notar que, impulsionado por expectativas melhores, o ICST das empresas do PAC melhorou tanto quanto a confiança das empresas fora dos programas.

A alta da confiança repercutiu favoravelmente na intenção de contratar novos trabalhadores.  O indicador de emprego previsto das empresas do PAC e fora dos programas superou o das empresas do MCMV, invertendo a tendência anterior.

É importante observar que o MCMV tem participação expressiva no mercado imobiliário. De acordo com pesquisa divulgada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), no terceiro trimestre de 2018, o programa respondeu por 51% das vendas do período. Até novembro, as contratações do programa no ano tinham alcançado cerca de 500 mil unidades em todo o país.

De fato, as empresas do MCMV reportam carteira de contratos mais elevada, o que explica uma percepção mais favorável em relação aos negócios correntes, ou um ISA maior em dezembro.

Porém, a despeito de os números continuarem expressivos, os sinais do novo governo em relação ao MCMV não são muito claros, o que trouxe incertezas em relação à sua continuidade, especialmente no que diz respeito às faixas que mais dependem da oferta de subsídios – as faixas 1 e 1,5 do programa. Assim, a Sondagem de dezembro expressa as expectativas mais pessimistas dos empresários do programa habitacional.

Em contrapartida, indicações de uma possível retomada de obras paradas do PAC, assim como a elaboração de uma agenda voltada aos investimentos em infraestrutura, reforçou o clima menos pessimista entre as empresas do PAC.

De todo modo, mesmo que esse movimento se confirme, ainda levará algum tempo para repercutir na atividade setorial. Ou seja, em 2019, o MCMV continuará a ter forte influência na dinâmica setorial. Essa dinâmica deverá ser fortalecida pela melhora do mercado imobiliário voltado para a média e alta renda.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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sergio siqueira

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