Macroeconomia

Fôlego cearense

23 out 2017

A saída da recessão econômica deverá chegar com mais vigor no Ceará. A queda da taxa de juros real, que permite barateamento do crédito e retomada do consumo, e as operações da Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), que concluirá seu primeiro ano completo de atividades, são os principais vetores que levam o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), vinculado ao governo do estado, a estimar um crescimento em torno de 1,2% para o PIB do estado em 2017, 0,4 ponto percentual acima do PIB brasileiro projetado pela FGV IBRE no Boletim Macro de outubro.

Em visita ao IBRE, Flavio Ataliba, diretor geral do Ipece, lembrou que a recessão chegou ao Ceará mais tarde do que no agregado nacional. Se observada a evolução do PIB trimestral em relação a igual período do ano anterior, a economia do estado cruzou para o terreno negativo no segundo trimestre de 2015, um ano depois da brasileira. “No entanto, nosso mergulho foi mais fundo”, diz Ataliba, ressaltando que no quarto trimestre de 2015, enquanto a economia brasileira retraía 5,8%, a cearense alcançou os 7,8% negativos. O diretor do Ipece afirma que isso se deveu principalmente ao peso do setor de serviços no PIB do estado, bem como do consumo das famílias. Este ano, entretanto, a capacidade de endividamento dos cearenses está sendo gradualmente retomada. Dados da Fecomércio do Ceará apontam que, na capital, o percentual de consumidores com dívida em atraso caiu de 23% em março para 18,8% em setembro, enquanto o de consumidores endividados subiu de 63% para 66,4% na mesma comparação.

Do lado da oferta, o grande destaque do estado é a atividade da Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), cujas operações começaram em agosto de 2016, com capacidade de produção anual de 3 milhões de toneladas de aço. Para se ter uma ideia, de acordo ao Ipece, do crescimento de 2,17% registrado pela economia cearense no segundo trimestre deste ano em comparação ao primeiro, 0,8 ponto percentual corresponde à atividade da CSP. De janeiro a setembro deste ano, a produção da siderúrgica representou 50,82% do valor exportado pelo Ceará – somando US$ 745 milhões do total de R$ 1,46 bi –, roubando o protagonismo dos calçados. No mesmo período de 2016, a exportação de calçados liderava a pauta exportadora cearense, com 23,7% do total, seguida de couros e peles, com 13,9%. Em 2017, a participação de ambos nas exportações nos nove primeiros meses do ano representou, respectivamente, 14,4% e 5% do total. Com o empurrão dado pela CSP, o Ceará também ganhou alguns pontos na tímida participação dentro das exportações brasileiras, subindo para 0,89%, de 0,59% no mesmo período de 2016.

O desafio para o Ceará, agora, é disseminar esse dinamismo para além de São Gonçalo do Amarante, onde fica a CSP. Fortaleza, por exemplo, ainda é a quarta capital do país com pior saldo de emprego formal, segundo dados do Caged de janeiro a agosto. Para Ataliba, o estado tem trilhado um caminho consistente, que garantirá fôlego na recuperação. Ele cita o anúncio, em setembro, da escolha do Ceará como centro de conexões (hub) da Air-France/KLM – que, entre outros, somará cinco voos semanais de Fortaleza a Europa, com estimativa de início em maio de 2018 – como um importante indutor de novos negócios. “Outro elemento importante é o foco do governo em abrir concessões de equipamentos públicos, como o Centro de Eventos do Ceará e o Centro de Formação Olímpica", cita, dentro de um programa de concessões e parcerias público-privadas anunciado há um ano, focado em estimular uma economia que cresça cada vez mais, com cada vez menos dependência do estado. 

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Renato Gonçalves
IBRE

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