Cenários

Geração de emprego supera expectativas em junho de 2024

8 ago 2024

Brasil obteve um saldo de 201.705 vagas formais em junho. Esse desempenho superou as projeções dos analistas, mesmo com o RS sendo a única UF a registrar saldo negativo. Demissões a pedido desaceleraram na margem.

Este informativo analisa os microdados mais recentes do Novo CAGED, divulgados pelo MTE, referentes a junho de 2024, levando em conta os ajustes declarados fora do prazo. No mês de junho o Brasil registrou um saldo positivo (admissões superando desligamentos) de 201.705 empregos formais, com 2.071.649 admissões e 1.869.944 desligamentos. Conforme se observa no Gráfico 1A, este saldo revela uma melhora de 29,6% na geração de postos formais se comparado a jun/23 (155.695 postos), mas 29,3% menor do que o reportado em jun/22 (285.186) e 36,6% menor do que o de jun/21 (318.087).

Em relação ao acumulado, o primeiro semestre de 2024 registrou saldo de 1.300.044 empregos. Esse saldo foi 26,2% maior do que o acumulado de janeiro a junho de 2023 (1.030.329 postos), mas 6,4% menor se comparado a 2022 (1.388.609) e 12,2% menor se comparado a 2021 (1.480.590).  Vale lembrar que os anos de 2021 e 2022 foram caracterizados por intensa recuperação da economia após o controle da crise sanitária de 2020.

Gráfico 1 - Admissões, demissões e saldos – 2020 a 2024 – Brasil.


 Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até jun/24.

A fim de compreender em que medida as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul (RS) no segundo trimestre afetaram seu mercado formal, a Tabela 1 apresenta o saldo de contratos formais por setor de atividade. Em junho o RS registrou saldo negativo de -8.569, sendo o segundo mês consecutivo de saldo negativo do ano. Porém, esse saldo foi melhor do que o registrado em maio (-21.990). Portanto, totaliza-se um saldo negativo líquido de 30.559 vagas no terceiro bimestre de 2024. Vale salientar que o mês de junho geralmente não é um dos meses mais fortes para contratações no estado do Rio Grande do Sul, apresentando saldos mais baixos se comparado a outros meses no ano. Porém, o saldo negativo de jun/24 foi maior do que a média observada nos meses de junho dos últimos anos.

A Indústria registrou o pior saldo (-3.981) tanto em comparação com os demais setores em junho deste ano quanto em comparação com o seu próprio desempenho em junho dos anos anteriores. Os saldos também foram negativos para o Comércio (-2.529), Agropecuária (-2.154) e Serviços (-451). A Construção foi o único setor que apresentou saldo positivo (546). O desempenho da Construção está relacionado aos esforços para reconstruir o que foi perdido durante as enchentes, envolvendo obras de saneamento, contenção e drenagem, construção e reparação de casas e edifícios, por exemplo, que impulsionam a construção civil.

Na comparação interanual, os setores mais afetados foram o Comércio, com uma queda de 380,8% em relação a jun/23 (cujo saldo foi -526) e os Serviços, com 108,5% a menos do que jun/23 (5.299). Seguidos um pouco mais de longe, tem-se a Agropecuária cuja queda foi de 86,0% e a Indústria (-20,7%). A Construção, se comparada a jun/23, registrou aumento de 166,3% no saldo. 

Tabela 1 – Saldos Mensal e Acumulado por Setor de Atividade. Rio Grande do Sul.

Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados do Novo CAGED.
Dados com ajustes declarados até jun/24. O total considera os saldos não identificados.

Em relação ao acumulado do primeiro semestre, o resultado foi positivo, com 38.742 postos formais de trabalho (em decorrência dos saldos positivos que foram gerados nos meses de janeiro a abril). Em relação aos setores, somente a Construção apresentou melhora se comparada primeiro semestre de 2023, com um aumento de 533,9%. No sentido contrário, tem-se a Indústria, cujo saldo acumulado foi de 20.578 para 18.695 (-9,2%), os Serviços cujo saldo passou de 30.278 para 20.560 (-32,1%) e a Agropecuária (-118,1%). O Comércio foi o setor mais afetado, com uma queda de 291,0% (cujo saldo passou de 1.914 para -3.655). Dos 38.742 postos gerados no semestre, 53% foram gerados pelo setor de Serviços e 48% pela Indústria.

O Rio Grande do Sul foi o único estado do país a apresentar um saldo negativo de vagas formais em junho de 2024. No Gráfico 2 tem-se a composição estadual do saldo de empregos formais do Brasil nos últimos 3 anos. A participação do saldo do RS no saldo agregado correspondia a 2,8% em junho de 2022 e em jun/23 obteve uma contribuição negativa de 0,3%. Em função da catástrofe, a contribuição negativa em jun/24 foi ainda maior, cerca de - 4,2%.

No acumulado, esta tendência de declínio se repetiu: no primeiro semestre de 2022, o saldo de postos formais gerado no RS correspondeu a 5,4% do total do país, seguido por 5,1% nos primeiros 6 meses de 2023, e por fim, uma queda para 3,0% no primeiro semestre de 2024. Portanto, a contribuição do RS para o saldo nacional mensal e acumulado de empregos formais, que já estava diminuindo nos últimos dois anos, caiu mais fortemente em 2024 devido ao fenômeno das enchentes.

Gráfico 2 – Composição Estadual do Saldo do Brasil – Mensal e Acumulado.

 Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados
do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até jun/24.

O Gráfico 3 apresenta os saldos acumulados do primeiro semestre de 2023 e 2024 por categoria de vínculo empregatício. Em relação à composição, a categoria Geral (87,8%) manteve a maior participação no saldo acumulado do primeiro semestre de 2024, seguida pelas categorias Aprendiz (4,5%), A Termo (3,3%), Intermitente (2,6%) e Temporário (1,8%). Além disso, o saldo acumulado de 1.141.798 postos na categoria Geral foi 27,0% superior ao registrado no primeiro semestre de 2023, que foi de 899.323 postos.

O texto completo pode ser acessado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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