Incerteza Econômica do Brasil recua e está entre as dez menores dentre 21 países
Em junho, IIE-Br fechou abaixo dos 110 pontos pela 1ª vez desde 11/2019. No mês seguinte, caiu ao menor nível desde 11/2017, com a melhora das perspectivas do cenário macroeconômico, e redução de incertezas fiscais e políticas.
O Indicador de Incerteza Brasil (IIE-Br) do FGV IBRE recuou pela quarta vez seguida em julho de 2023, atingindo 103,5 pontos, o menor nível desde novembro de 2017. Esta é uma boa notícia dado o histórico persistente de elevado nível de incerteza no país desde 2015. Ao se aproximar da média histórica de 100 pontos, o indicador sinaliza que a incerteza deixa de ser, ao menos temporariamente, um importante fator limitativo à realização de investimentos ou contratações no país.
Desde 2015 o nível de incerteza vinha flutuando em patamar elevado, motivado por uma sucessão de ruídos: crise econômica, política e institucional, impeachment e pelo último governo, marcado por permanente tensão entre os Poderes. Nos últimos meses, o quadro político se estabilizou, a economia tem dado sinais de resiliência, a inflação começou a ceder e o risco de crise fiscal ficou para trás na avaliação de boa parte dos mercados. Esse quadro levou o IIE-Br a registrar nível inferior aos 110 pontos nos últimos dois meses, e a retornar a níveis satisfatórios de incerteza econômica.
Gráfico 1 – Indicador de Incerteza Econômica – Brasil
Fonte: FGV IBRE. Elaboração: Autora
A queda iniciada em abril deste ano tem sido influenciada pelo componente de Mídia, que mede a incerteza através das notícias de jornais. Esse indicador acumulou queda superior a 15 pontos nessa janela temporal, respaldada pela maior clareza sobre a condução da política econômica do governo, pelo desempenho acima do esperado em algumas atividades econômicas e pelo alívio da inflação. Os indicadores de Incerteza Política e Fiscal, calculados com metodologia análoga, mas focando nestes temas, também seguem em queda e atingem, em julho, 97,1 e 103,5 pontos, respectivamente. Esse é o menor nível de incerteza política e fiscal desde o período pré-pandemia.
Já o componente de Expectativa, que mede a dispersão das previsões para as variáveis macroeconômicas no relatório Focus do Banco Central, vinha subindo desde o início do ano, influenciado principalmente pela maior heterogeneidade nas previsões para a inflação e em menor magnitude, pelo câmbio. Em julho, com maior clareza sobre a desaceleração dos preços e sobre o início do ciclo de queda das taxas de juros, o componente apresentou queda, influenciado majoritariamente pela maior convergência em relação à taxa de SELIC para os próximos 12 meses. As incertezas futuras, que podem rondar esse tema e influenciar no componente daqui para frente, seriam, possivelmente, relacionadas ao ritmo de queda das taxas de juros.
Contexto Internacional
No contexto internacional, o Brasil ocupa agora uma posição intermediária no ranking (elaborado pela autora) com dados de 21 países acompanhados pelo Economic Uncertainty Project.
Com informações atualizadas até junho de 2023, o Brasil está classificado em nono lugar. Se considerássemos o resultado do indicador de incerteza brasileiro de julho e os demais níveis constantes, o país pularia duas posições, passando à sétima menor incerteza entre os países. O nível de incerteza brasileiro em junho é inferior ao de importantes economias, como a dos Estados Unidos, alguns países da Europa, como Espanha e Reino Unido, e o Chile, que enfrenta turbulências políticas.
Gráfico 2 – Indicador de Incerteza Econômica – Brasil
*Incerteza medida pelo componente de “mídia” do IIE-Br FGV, para possibilitar
a comparação mundial Índices padronizados para refletirem média 100 e desvio 10 entre jan/2006 e dez/2015
Fonte: Economic Policy Uncertainty Project (EPUP) e FGV IBRE. Elaboração: Autora.
As avaliações recentes da economia dos Estados Unidos feitas pelo Federal Reserve são de que o país possivelmente não entrará em recessão, dada a moderação da inflação e a força do mercado de trabalho. À aparente resiliência da economia contrapõem-se avaliações cautelosas com relação ao futuro, ajudando a manter o indicador variando na faixa moderada-desfavorável de incerteza (acima dos 110 pontos).
Em demais casos, como alguns outros países da Europa, há algum alívio recente no nível de incerteza, refletindo certa estabilização da guerra Rússia-Ucrânia, a resiliência de alguns setores e o controle da instabilidade financeira após a turbulência bancária em março.
A desaceleração econômica mais temerária se dá na Alemanha, que alcançou níveis inéditos de incerteza em 2022 e ainda enfrenta considerável instabilidade este ano. O indicador alemão, como o terceiro maior nível de incerteza, espelha as ramificações decorrentes de sua significativa dependência do setor industrial, em conjunto com a presente fragilidade no consumo devido à inflação e às taxas de juros elevadas.
Junto à Alemanha, o nível de incerteza da China que, desde 2018, gira em patamar insatisfatório, recebeu um acréscimo de ruído, devido ao crescimento econômico morno, atípico para o país, e ao enfrentamento de problemas no setor imobiliário, que podem ocasionar efeitos negativos de transbordamento para além das fronteiras. Na Rússia, a maior incerteza em junho deste ano reflete a guerra e suas consequências.
Na maioria dos países da lista, a incerteza vem sendo pressionada por fatores como as pressões inflacionárias, aperto monetário, desaceleração econômica, atividade mais fraca na China e impactos da prolongada guerra na Ucrânia. Por outro lado, devido à capacidade de recuperação observada na atividade econômica durante o primeiro trimestre, o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a revisar para cima as projeções de crescimento da maior parte dos países em seu relatório World Economic Outlook de julho.
Comparando a posição do Brasil no ranking ao longo do tempo, de 2010 a 2014 o país estava, em média, entre as cinco menores incertezas da lista de 21 países. A partir desse momento, até 2022, passou a assumir posições mais altas no ranking, em torno da 15ª posição, ou seja, permanecendo entre os níveis de incerteza mais altos do grupo de nações. De março de 2022 a 2023, a posição do Brasil voltou a girar, em média, mais próxima da 10ª posição, sugerindo uma melhora moderada em relação aos últimos anos.[1]
Gráfico 3 – Colocação do Brasil no ranking de incerteza entre 21 países
Fonte: Economic Policy Uncertainty Project (EPUP) e FGV IBRE. Elaboração: Autora
Em suma, a redução do nível de incerteza no Brasil é resultado de um conjunto de fatores interligados, que abrangem desde a estabilidade política até a resiliência de alguns setores econômicos. A agenda de reformas, aliada à melhora do quadro macroeconômico e ao retorno do Brasil aos debates em nível internacional, parece também desempenhar papel relevante. Os resultados merecem destaque positivo, porém com alguma dose de cautela, dado que ainda há muito o que melhorar e muitos desafios pela frente. Para diversos países no mundo, a inflação e o aperto monetário ainda estão muito presentes, o que ajuda a segurar o nível de incerteza mais alto, mas com alguma melhora, dados os resultados mais positivos do que o previsto no consumo, setor de serviços e mercado de trabalho. No geral, a economia mundial tem experimentado a gradual recuperação da pandemia, agora oficialmente encerrada, e do impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia. As redes de suprimento globais regressaram aos níveis pré-pandêmicos, e a atividade econômica no decorrer do primeiro trimestre deste ano revelou-se resiliente.
É importante reconhecer que a dinâmica da incerteza é complexa e pode continuar a evoluir conforme os países enfrentem desafios em constante transformação. Embora o Brasil ainda esteja no meio do ranking de incerteza mundial (mais especificamente, dos 21 países mencionados acima), a jornada de redução contínua traz indícios positivos de maior estabilidade e confiança na economia.
Referências:
https://www.imf.org/en/News/Articles/2023/07/25/tr072523-transcript-of-world-economic-outlook-update
Esta é a seção Em foco do Boletim Macro Ibre de agosto/2023
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva da autora, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] Vale ressalvar que o período de conversão da base - média 100 entre 2005 e 2016 - pode influenciar em parte na magnitude dos indicadores relativos.
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