Macroeconomia

Inflação abaixo de zero em abril e maio sinaliza chance de IPCA abaixo de 1% em 2020

2 jun 2020

Em abril, a surpresa não foi o número negativo apresentado pelo IPCA, mas sim a intensidade da queda. Abaixo da expectativa do mercado, a inflação de abril registrou bem o freio imposto pelo coronavírus aos preços de bens duráveis, serviços livres e serviços administrados.

Para maio, nossa previsão é de que o IPCA fique próximo a -0,5%. Nosso modelo indica que, se essa taxa se confirmar, poderemos ter inflação abaixo de 1% em 2020.

Ainda que a desvalorização cambial possa contribuir para o aumento dos preços de bens duráveis, a demanda anda tão enfraquecida, refletindo a piora da atividade econômica e seus reflexos sobre a demanda, que os preços destes bens registraram variação média de -0,87% em abril, permitido que a taxa em 12 meses acumulasse queda de 1,6%. Para maio, segundo o Monitor da Inflação da FGV, os preços de bens duráveis devem seguir em queda, ainda que um pouco menos intensa que a observada em abril, desta vez de -0,15%.

Desaceleração semelhante deverá ser observada nos preços dos serviços livres, cuja maioria encontra-se indisponível neste período de isolamento social, sem, portanto, haver a possibilidade de haver qualquer movimento em seus preços. Em abril, a variação média desse segmento foi de 0,25% e, em 12 meses, a taxa acumula alta de 3,01%. Em maio, segundo coleta da FGV, a variação poderá ser de -0,20%.

Já os preços administrados – com reajustes sendo postergados e com a queda de 9,3% no preço da gasolina – registraram queda de 2,06% em abril. Para maio, a expectativa é de que esse grupo não registre queda, pois até o dia 14 foram autorizados dois reajustes nas refinarias, que juntos elevaram os preços da gasolina em mais de 20%. Com esse reajuste, os preços podem subir em média 5% ao consumidor, o que fará a variação de preços monitorados passar de -2,06% em abril para 1,25% em maio.

O recuo da inflação seria mais intenso se não fosse a contribuição do grupo Alimentação e Bebidas, cujos preços subiram em média 2,24% em abril, impulsionados por pressões sazonais, desvalorização cambial e demanda mais aquecida por alimentos. Para maio, segundo o Monitor da Inflação, o aumento médio para esse grupo será de aproximadamente 0,50%.

Bens duráveis, serviços e preços monitorados respondem majoritariamente pelo peso do IPCA e, portanto, tendem a influenciar mais o resultado do índice oficial. Em maio, as fontes de pressão permanecem as mesmas, ainda concentradas em Alimentos e Bebidas e Transportes, mas enquanto a taxa do primeiro item tende a desacelerar, a do segundo acelera, permitindo que o índice acumule nova queda em magnitude similar à do último mês.

Se esse resultado se confirmar, a taxa em 12 meses do IPCA passará de 2,40% em abril para 1,96% em maio. Com isso, a inflação esperada para o ano poderá vir abaixo de 2%, aproximando-se da taxa de 1,65% registrada em 1998, a menor do período de estabilização da inflação.

Este artigo faz parte do Boletim Macro IBRE de maio de 2020. Leia aqui a versão integral do BMI Maio/20.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.