Inflação americana: sinal vermelho

25 nov 2021

Profundidade e a extensão de diversos choques de preços sensibilizaram todas as medidas de núcleo da inflação americana. Alta dos núcleos pode ser entendida como sinal de que processo inflacionário norte-americano já adquiriu vida própria, já tem alguma componente inercial.

Os últimos dados de inflação dos EUA – o índice de preço ao consumidor de setembro – trouxeram muita preocupação.

Como temos tratado, a economia mundial passa por três choques simultâneos. Primeiro, com pico em 2020, foi a elevação da demanda por ração animal da China após a recomposição do rebanho suíno que sofrera em 2019 da gripe suína africana. A recomposição do rebanho em 2020 elevou a demanda por ração animal em 5% aproximadamente. Ração cara significa carnes, laticínios e ovos caros. Levará alguns anos para a agricultura ajustar a oferta de grãos à nova demanda e recompor os estoques.

O segundo choque foi o de matérias primas e insumos industriais em geral, especialmente chips, além do encarecimento da energia e esgotamento das infraestruturas ligadas ao comércio internacional. Desde o segundo semestre de 2020, a economia mundial assistiu a uma recuperação em V forte, mas muito desequilibrada setorialmente. As longas quarentenas geraram demanda por bens. A indústria de transformação tem operado acima dos níveis anteriores à epidemia.

O excesso de demanda e de produção de bens, principalmente de bens de consumo duráveis, é intensivo em: chips, matérias primas metálicas, energia e comércio internacional. Por exemplo, a movimentação de contêineres nos principais portos americanos foi, nos últimos 18 meses, 20% acima do observado nos anos anteriores a 2020.

O terceiro foi o choque da reabertura da economia. Diversos setores dos serviços – hospedagem, transporte aéreos e alimentação fora do domicílio, por exemplo – foram muito duramente afetados pela epidemia. A oferta se contraiu. As empresas reduziram o número de voos, restaurantes foram fechados, os hotéis reduziram pessoal etc. Levará algum tempo para que a oferta se reorganize. Entrementes o preço subirá. Inclusive porque a subida do preço é o mecanismo que estimula a reconstrução da oferta.

O que ocorreu na economia americana é que, devido à profundidade e extensão dos choques, eles sensibilizaram todas as medidas de núcleo da inflação. Ou seja, não só a inflação roda forte e o CPI cheio fechou setembro a 5,4% acumulado em 12 meses, como também o núcleo por exclusão, o de médias aparadas, e o núcleo da mediana fecharam a 4%, 3,5% e 2,8%, respectivamente.

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