Inflação de preços livres derretendo
Nos últimos meses a inflação, medida pelo IPCA, está vindo abaixo das projeções de mercado consistentemente. Na última divulgação, o IPCA registrou queda de 0,23%, um valor inferior ao previsto pelo mercado de 0,19% (Bloomberg).
Sem dúvida, a queda dos preços dos alimentos tem ajudado muito, porém, outros fatores têm contribuído para a expressiva desaceleração de preços. O resultado que mais surpreende é o comportamento da inflação de preços livres ex-alimentação (com peso de quase 60% na cesta do IPCA). No primeiro semestre deste ano, a inflação deste grupo atingiu 1,5%, o menor valor para a série histórica desde 1999! Neste grupo temos dois grandes componentes: inflação de serviços e de bens industriais, com pesos de 36% e 23%, respectivamente. Ou seja, o processo de desinflação se difundiu e atingiu os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica.
Com relação ao segundo grupo, a brutal recessão econômica, em conjunto com uma taxa de câmbio muito bem-comportada, levou a inflação para um terreno negativo de 0,03%! E a inflação de serviços fechou o semestre em 2,6%, um valor também recorde na série histórica, considerando a atual metodologia para computar a inflação deste grupo desde agosto de 1999.[1] Para o ano fechado, esperamos uma inflação de 4,7% (Gráfico 1).
Gráfico 1: Inflação de Serviços: anual e no primeiro semestre* (%)
*Metodologia nova.
- : IBGE e Bacen. Elaboração IBRE/FGV
Outra medida que chama a atenção é o índice de difusão por faixa de reajuste dos itens que compõem a cesta de serviços. Nos últimos meses, estamos voltando a um padrão de reajuste de serviços mais próximo ao observado apenas em 2001 e em 2006/2007, quando a inflação no Brasil de fato cedeu fortemente e ficamos abaixo da meta de 4,5% (período Bevilaqua). Por este gráfico, observamos que por quase 10 anos a inflação de serviços mostrou uma forte deterioração. Entre 2013 e 2015, em torno de 70% dos itens eram reajustados acima de 6,5%, ou seja, o topo da meta. E quase metade dos componentes da cesta estavam sendo reajustados acima de 9% ao ano!
Gráfico 2: Reajuste em 12 meses dos itens da cesta de serviços: índice de difusão por faixa de reajuste (média anual)
*Reajuste em 12 meses observados nos meses de abril-junho
- : IBGE e Bacen. Elaboração IBRE/FGV
É claro que estamos pagando uma conta altíssima para atingir este objetivo, mas sabemos que recessão sozinha não reduz inflação. Além do Brasil, outros países confirmam este resultado, como Argentina e Venezuela. De fato, isto só foi possível, pois o Banco Central conseguiu reconquistar a credibilidade, com o apoio de todas as outras políticas adotadas pelo governo. Isto sim é um feito histórico.
Agora não podemos perder esta oportunidade de manter a inflação baixa permanentemente.
[1] Pela metodologia do Banco Central a inflação de alimentação fora de casa não estava no grupo de serviços antes de 2012. Retropolamos a série histórica incluindo este grupo na série que foi divulgada.
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