IPCA de maio abaixo de expectativa ainda não é alívio efetivo no front inflacionário
Apesar da desaceleração do IPCA de maio (0,47%) divulgado hoje ter ocorrido em magnitude acima da prevista pelo mercado, ainda estamos longe de uma inflação menos disseminada e do caminho de cumprimento da meta de Inflação.
As âncoras que influenciaram o recuo da taxa do IPCA de maio foram energia elétrica e gasolina. Sem a ajuda dos energéticos, a variação média do índice ficaria em torno de 0,8%, mais próxima da taxa de abril (1,06%).
O preço da energia recuou pelo fim da cobrança da bandeira de escassez hídrica, que resultou em queda de 13,7% na contas de energia, dividida entre os meses de abril e maio. Já para a gasolina, o distanciamento do último reajuste começa a desacelerar sua taxa de inflação.
No entanto, o comportamento do preço do petróleo não nos favorece. A defasagem em relação ao preço internacional está crescendo e outros reajustes poderão ocorrer na agenda de 2022.
Diante de tal pressão, o governo vem tentando reduzir os impostos dos energéticos para mitigar os efeitos inflacionários causados pelos aumentos. Efeitos que podem ser decompostos em diretos, reajuste na bomba e nas contas de energia, e indiretos, quando esses custos pressionam a cadeia produtiva influenciando reajustes de bens duráveis e serviços.
Efeitos sazonais e o conflito entre Rússia e Ucrânia também inflaram os preços de alimentos importantes. Os alimentos in natura e os laticínios seguem pressionando a inflação dos alimentos, bem como os derivados do trigo sustentam aumentos expressivos em pães, massas e biscoitos.
O índice de difusão, que mostra o percentual de produtos e serviços com aumento de preço, sustenta-se em patamar elevado, acima de 70%. Entre os alimentos, o percentual reduziu-se de 78% para 69%, mas entre os demais itens, manteve-se estável em 78%. Isso mostra que a desaceleração da taxa do IPCA não ocorreu pelas mãos da política monetária, mas sim pela trégua oferecida pelos energéticos.
O monitor da Inflação antecipa que a inflação de junho seguirá acima do patamar esperado para meta de inflação de 3,50%. Espera-se para este mês inflação de 0,6%, o que nos faz crer que pode ocorrer inflação em torno de 9% no ano de 2022, especialmente se não no final das contas não houver interferência nos impostos sobre os energéticos (não estamos dizendo que não haverá, mas apenas computando no cálculo o que já é certo e garantido).
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