Jovens no mercado de trabalho

Situação dos jovens no mercado de trabalho melhorou nos últimos anos. Comparativamente a outros grupos etários, entretanto, estes ainda têm mais dificuldade de inserção e de alcançar melhores oportunidades.
1. INTRODUÇÃO
O mercado de trabalho brasileiro performou acima das expectativas ao longo de 2024, com forte geração de postos com carteira assinada e consecutivas quedas na taxa de desemprego. Contudo, os jovens permanecem com dificuldades para conseguir um emprego. Dentre os diversos desafios enfrentados por esse grupo no mercado de trabalho, destacam-se a falta de experiência profissional, a defasagem na qualificação técnica e a desigualdade de acesso à educação de qualidade. Além disso, muitos precisam conciliar estudo e trabalho, o que pode dificultar o desenvolvimento de habilidades especializadas.
A baixa inserção dos jovens pode impactar o desenvolvimento econômico brasileiro, pois reduz a força produtiva ativa e compromete a inovação e a competitividade do país. Com menos jovens empregados formalmente, há uma diminuição na arrecadação de impostos e contribuições previdenciárias, o que pode afetar o financiamento de políticas públicas e da seguridade social. A falta de oportunidades leva muitos à informalidade, onde há menor proteção trabalhista e salários mais baixos. Além disso, em um contexto de envelhecimento populacional do país, o desperdício dessa mão de obra pode acentuar os desafios da transição demográfica.
Neste estudo são analisados os principais indicadores de mercado de trabalho, comparando o desempenho de dois grupos etários, jovens com idade entre 18 e 29 anos e adultos com idade entre 30 e 59 anos, os colocando em perspectiva com os resultados agregados (nacional)[1].
2. ANÁLISE
A taxa de desemprego do Brasil no 4º trimestre de 2024 se encontrava no menor nível da série histórica tanto para o agregado do país quanto para o grupo de jovens com idade entre 18 e 29 anos, conforme mostra o Gráfico 1. Também se observa que os níveis de desemprego eram historicamente distintos entre os dois grupos etários antes da pandemia e permaneceram diferentes após a pandemia, mesmo com a queda acentuada do indicador nos dois grupos. No quarto trimestre de 2024, a taxa de desemprego dos jovens com idade entre 18 e 29 anos (10,1%) era mais que o dobro da observada no grupo de pessoas com idade entre 30 e 59 anos (4,5%), além de ser mais elevada que a média nacional (6,2%).[2]
Os jovens representam uma parcela expressiva da população ocupada do país, pois dos quase 104 milhões de trabalhadores registrados no 4º trimestre de 2024, cerca de 25,9 milhões (25% do total de ocupados) tinham idade entre 18 e 29 anos.
Gráfico 1: Taxa de desemprego
Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados da Pnad Contínua.
O grupo de 18 a 29 anos cresceu cerca de 4,2% no último trimestre de 2024 quando comparado com o último trimestre de 2019. Contudo, a magnitude foi muito inferior à observada entre os trabalhadores com idade de 30 a 59 anos, cujo crescimento foi de 8,6%. Isto mostra que jovens de 18 a 29 anos, relativamente ao grupo de adultos com idade entre 30 e 59 anos, têm enfrentado mais dificuldades para conseguir um emprego, mesmo em períodos de forte recuperação do mercado de trabalho. Dentre os jovens que conseguem um emprego, muitos estão alocados em ocupações informais. O Gráfico 2 mostra a evolução da taxa de informalidade por grupo etário.
Apesar da redução na taxa de informalidade nos dois grupos etários entre 2019 e 2024, a situação permanece mais crítica entre os jovens de 18 e 29 anos. No 4º trimestre de 2024, a taxa de informalidade dos jovens com idade entre 18 e 29 anos (38,5%) ficou bem próxima da média nacional (38,6%), mas acima da observada entre os trabalhadores de 30 e 59 anos (35,9%).
Gráfico 2: Taxa de informalidade
Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados da Pnad Contínua.
A subocupação entre os trabalhadores jovens também é algo preocupante. Por definição, os subocupados por insuficiência de horas trabalhadas são aqueles que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam e estariam dispostos a trabalhar mais horas. De acordo com o Gráfico 3, cerca de 5,4% (1,4 milhão) dos jovens entre 18 e 29 anos que estavam trabalhando no quarto trimestre de 2024 se enquadrava na categoria de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas. Este percentual foi maior do que o da média nacional (4,8%) e dos com idade entre 30 e 59 anos (4,6%).
Gráfico 3: Subocupação por insuficiência de horas trabalhadas
Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados da Pnad Contínua.
A subocupação, aliada à elevada taxa de informalidade, contribui para que o rendimento dos jovens seja significativamente menor do que o de outros grupos etários. No quarto trimestre de 2024, o rendimento real de jovens com idade entre 18 e 29 anos (R$ 2.297) foi 37,8% menor que os com idade entre 30 e 59 anos (R$ 3.690) e quase 31% menor do que o do Brasil (R$ 3.315).
Gráfico 4: Rendimento médio real habitualmente de todos os trabalhos
Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados da Pnad Contínua.
Embora tenha ocorrido melhora em vários indicadores de mercado de trabalho ao longo dos últimos anos, comparativamente a outros grupos etários, os jovens ainda apresentam dificuldades de inserção e para alcançar melhores oportunidades. Isto fica evidente quando se analisa quais os tipos de ocupações e funções concentram mais trabalhadores jovens. A Tabela 1 apresenta as 20 ocupações que mais empregaram jovens no Brasil no 4º trimestre de 2024. Observa-se que maioria deles estava trabalhando em ocupações de baixa remuneração, pouca qualificação e alta rotatividade.
De acordo com a Tabela 1, há uma elevada concentração de jovens em atividades dos setores de serviços e comércio. Além disso, mais de 40% desses jovens trabalhavam em uma das 20 ocupações listadas abaixo, dentre as quais podemos destacar as ocupações de balconistas e vendedores de lojas e escriturários gerais. Essas ocupações geralmente são consideradas de pouca complexidade, baixa exigência de conhecimento especializado, alto grau de informalidade e baixos salários.
Tabela 1: As 20 ocupações que mais concentram jovens de 18 a 29 anos no 4º trimestre de 2024
Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados da Pnad Contínua.
Em particular, a taxa de informalidade média das 20 ocupações listadas na Tabela 1 foi de 44,6%, superior à média nacional e com um rendimento médio de R$ 1.815.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo analisou a performance dos jovens entre 18 e 29 anos no mercado de trabalho brasileiro. Os jovens, que representam uma parte significativa da população em idade para trabalhar, encontram maiores desafios para se inserir no mercado de trabalho. Os indicadores para esse grupo etário têm melhorado nos últimos quatro anos, mas eles ainda possuem elevadas taxas de desemprego, de informalidade e de subocupação.
Pelo menos quatro fatores podem elucidar os desfechos ruins de muitos jovens no mercado de trabalho:
- Falta de Experiência: Muitas empresas exigem experiência prévia, criando um paradoxo em que os jovens não conseguem oportunidades por não terem experiência, mas precisam de oportunidades para adquiri-la.
- Baixa Qualificação: A maioria das ocupações listadas na Tabela 1 requer pouca ou nenhuma formação especializada, atraindo muitos jovens que abandonam os estudos[3] ou têm dificuldade de acesso a cursos técnicos e ensino superior, fatores esses que poderiam melhorar sua empregabilidade.
- Precarização do Trabalho: Os setores que mais empregam jovens, como comércio e serviços, são conhecidos por oferecer empregos temporários, jornadas instáveis e baixos salários. Isso dificulta o desenvolvimento de uma carreira sólida.
- Concorrência com Profissionais mais Experientes: Em um mercado cada vez mais competitivo, profissionais mais velhos e experientes acabam se adequando melhor às vagas ofertadas do que os jovens.
Diante disso, é imprescindível pensar em estratégias que ajudem os jovens a acumularem as habilidades e conhecimentos demandados pelas vagas de emprego. Os investimentos em educação e em políticas públicas com foco em capacitação técnica são fundamentais para atenuar o quadro atual dos jovens no mercado de trabalho e impulsionar suas trajetórias profissionais. Por meio de programas de capacitação, requalificação e políticas de primeiro emprego, a inserção do jovem poderá acontecer de forma mais efetiva e duradoura.[4]
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] As faixas etárias de 17 anos ou menos e 60 anos ou mais não foram incluídas por possuírem dinâmicas e desafios muito diferentes dos dois grupos de interesse.
[2] Outro dado interessante diz respeito ao fato de que, dentre os 6,8 milhões de desempregado no Brasil no último trimestre do ano passado, cerca de 2,9 milhões (ou 42,5% do total de desocupados) eram jovens com idade entre 18 e 29 anos.
[3] De acordo com um estudo do IBGE de 2024, cerca de 9,1 milhões de jovens de 15 a 29 anos de idade já haviam abandonado a escola sem concluir a educação básica em 2023. Entre os jovens de 15 a 29 anos que deixaram a educação básica incompleta, a maioria (63,7%) não chegou a atingir o ensino médio incompleto, sendo que 39,4% não concluíram o ensino fundamental e 24,3% concluíram esse nível. Acesse o link do estudo: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/42083-educacao-infantil-cresce-em-2023-e-retoma-patamar-pre-pandemia
[4] Para uma detalhada análise regional, acesse o artigo publicado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/performance_dos_jovens_no_mercado_de_trabalho_-_final.pdf
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