Construção

MCMV: empresas otimistas com o cenário a frente, mas revelam dificuldades em relação à situação atual

29 out 2025

As empresas que operam com o MCMV mostram percepção mais negativa da situação atual relativamente a um ano atrás. A burocracia tem sido um entrave. Por outro lado, elas estão mais otimistas que média do mercado que não opera com o programa.

A sondagem da construção realizada em setembro apontou que 32% das empresas de Edificações Residenciais operam com o programa, percentual equivalente ao registrado há um ano. Para 50,4% dessas empresas, o principal problema que enfrentam é a burocracia. Essa já era a maior dificuldade na pesquisa realizada no ano passado, mas desde então o percentual de assinalações nesse quesito aumentou 19 pontos percentuais.

Essa não foi a única mudança: a percepção dessas empresas em relação à situação atual de seus negócios ficou mais negativa. Em setembro do ano passado, a maioria das empresas (35,6%) apontava que a situação estava boa, enquanto apenas 6,7% assinalaram uma situação ruim. Agora em 2025, apenas 19,4% disseram que situação está boa, enquanto 21,7% apontaram situação ruim. Elas também indicaram que a carteira de contratos diminuiu: houve queda de 5,6% nas assinalações que indicavam uma situação acima do normal e um aumento de 16,6% pontos em abaixo do normal. Essa mudança sugere queda no ritmo de contratação do programa na comparação com o ano passado.

Na comparação com o grupo de empresas que não operam com o MCMV não há diferença significativa, ou seja, a percepção sobre a situação corrente é igualmente negativa. Uma diferença importante entre os dois grupos ocorre nos quesitos que relacionam as principais limitações aos negócios. Para quem não opera com o programa, a falta de mão de obra qualificada é o item mais assinalado, enquanto para as empresas do programa é o acesso ao crédito, o que provavelmente está relacionado à burocracia para o acesso aos recursos.

No que diz respeito às expectativas em relação à demanda dos próximos meses e à tendência dos negócios, as empresas do programa ficaram mais otimistas na comparação com 2024 e mostram uma avaliação mais positiva do que as empresas fora do programa principalmente em relação à tendência dos negócios.

Empresas de Edificações Residenciais - Principais dificuldades em relação ao programa MCMV*, % de assinalações

Fonte: FGV IBRE

Empresas de Edificações Residenciais - programa MCMV*, % de assinalações

Fonte: FGV IBRE

Empresas de Edificações Residenciais – Tendência dos negócios: empresas do MCMV x empresas fora do programa, % de assinalações

Fonte: FGV IBRE

Enfim, os resultados da sondagem de setembro reforçam que, embora o programa Minha Casa, Minha Vida seja o principal vetor de dinamismo do mercado imobiliário em 2025, a operação das empresas vinculadas ao programa tem enfrentado obstáculos. A deterioração na percepção sobre a situação atual dos negócios, combinada ao aumento das menções à burocracia, sugere que o ambiente operacional se tornou mais desafiador, mesmo diante de um contexto de demanda relativamente favorável.

A ampliação do público-alvo com a criação da Faixa 4 tende a sustentar o crescimento do segmento e explica, em parte, o maior otimismo das empresas quanto à tendência dos negócios. O governo prevê ultrapassar a meta de 2 milhões de novas moradias. No entanto, o descompasso entre as expectativas positivas e as condições correntes indica que o programa avança em um cenário de tensões — em que a expansão depende não apenas de incentivos de demanda, mas também da eficiência institucional.

Assim, os dados da sondagem apontam para um setor dividido entre o potencial de expansão proporcionado pelo MCMV e dificuldades para a materialização desse potencial. A superação das restrições burocráticas permanece, portanto, como condição necessária para que o programa se consolide como um vetor sustentável de crescimento da construção habitacional.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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