Mercado de trabalho continua fragilizado e a lenta recuperação do emprego ainda é uma grande preocupação
No mês de abril, embora tenha ocorrido um crescimento interanual de 2,3% no emprego, seu nível ainda se encontra 8,1% abaixo do nível observado em fevereiro do ano passado. Ou seja, apesar do forte crescimento interanual, o emprego ainda não se recuperou de forma robusta.
Os eventos associados à pandemia da Covid-19 elevaram de forma extraordinária o nível de incerteza em relação ao desempenho da economia e tiveram impactos negativos sobre a atividade econômica e em especial sobre o mercado de trabalho brasileiro. O objetivo deste texto é fazer uma atualização desses impactos, tomando como referência a recente divulgação, feita pelo IBGE, dos dados da Pnad Contínua que agrega os principais indicadores de mercado de trabalho, permitindo assim uma análise completa do atual momento do emprego no país[1].
Começo a análise mostrando a queda sem precedentes do emprego iniciada em março de 2020. O Gráfico 1 mostra a evolução da taxa de crescimento mensalizada, em relação ao mesmo mês do ano anterior, da população ocupada no Brasil.[2]
Gráfico 1: Taxa de crescimento da população ocupada
(em % e em relação ao mesmo mês do ano anterior) – Brasil
Elaboração do FGV IBRE com base nos dados da Pnad Contínua/IBGE (dados mensalizados).
Podemos notar, pelo Gráfico 1, que, ao longo da recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 e que durou até o quarto trimestre de 2016, houve forte redução do emprego no Brasil, principalmente no final de 2016, quando as quedas observadas na população ocupada foram de quase 3%, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Desde então, a população ocupada no Brasil estava crescendo a taxas robustas, chegando a apresentar um crescimento de 2,9% em maio de 2019.
Podemos notar, no entanto, que após esse longo período de expansão da população ocupada, houve, a partir de março, forte retração do emprego no país. Após crescer 1,8% em fevereiro de 2020, em relação ao mesmo mês do ano anterior, a população ocupada no Brasil apresentou queda de 2,5% em março, 9,2% em abril, 10,7% em maio, 12,1% em junho, chegando ao patamar de queda de 14,2% em julho, a maior já observada ao longo da série histórica mensalizada, superando largamente as quedas observadas ao longo da recessão de 2014-2016.[3]
Desde então, temos observado uma recuperação ainda muito lenta do emprego. Em março de 2021, por exemplo, a queda do número de pessoas ocupadas foi de 4,9%, em comparação com o observado em março de 2020. Já em abril, como era de se esperar, houve forte reversão na dinâmica interanual da taxa de crescimento de modo que, nesse mês, o emprego cresceu 2,3% em comparação com abril de 2020. Esse resultado, no entanto, deve ser interpretado com cautela, tendo em vista a base de comparação muito desfavorável.
Outra forma de analisar a dinâmica do emprego é a partir dos dados dessazonalizados, cujo crescimento toma como base o mês imediatamente anterior. O Gráfico 2 apresenta a taxa de crescimento mensal da população ocupada a partir dessa métrica.
Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro.
[1] O Banco Central publicou recentemente uma análise no Box do Relatório de Inflação de junho de 2021 mostrando alguns desafios pelos quais tem passado a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) por conta da mudança na forma de coleta de informações de presencial para telefone em decorrência da pandemia, que pode estar gerando uma redução da taxa de respostas, especialmente nos grupos com indivíduos nas primeiras entrevistas a partir do segundo trimestre de 2020. Na análise, cujo objetivo era identificar os efeitos da redução da taxa de respostas da PNAD Contínua em importantes indicadores econômicos da pesquisa, concluiu-se que o possível viés de seleção em variáveis observáveis ligadas à demografia não parece ter implicado mudanças relevantes em estimativas agregadas de ocupação e participação no mercado de trabalho. O estudo pode ser acessado através do link a seguir: https://www.bcb.gov.br/content/ri/relatorioinflacao/202106/ri202106b4p.pdf
[2] Diante do atual cenário de elevadas distorções causadas pelo avanço da pandemia do coronavírus, as informações de alta frequência são cada vez mais relevantes para que possamos entender os seus desdobramentos na economia brasileira. Em função disso, diversos pesquisadores tem estudado formas de mensalizar os indicadores da Pnad Contínua, de modo a terem informações mais precisas do atual momento do mercado de trabalho brasileiro, eliminando, assim, os efeitos da média móvel presentes nas divulgações oficiais do IBGE e obtendo fatos estilizados para cada um dos meses. Dentre esses trabalhos, podemos citar o artigo proposto por Hecksher (2020), pesquisador do IPEA e o trabalho proposto no Box do Relatório de Inflação de junho de 2020, divulgado pelo Banco Central, que, embora usem métodos diferentes, encontram resultados similares. Dada a relevância do atual cenário de elevada incerteza, faz-se necessário o esforço de desenvolvimento de técnicas que possam capturar os impactos mensais da pandemia no mercado de trabalho brasileiro.
[3] Vale ressaltar que os resultados observados, entre março e julho, na série de emprego que considera a média móvel trimestral foram atenuados devido à inclusão de meses cujo crescimento da população ocupada havia crescido de forma mais robusta ou caído menos. Nessa série original, por exemplo, houve baixo crescimento do emprego em março de 2020, algo próximo a 0,4% em relação ao mesmo trimestre móvel do ano anterior, e quedas de 3,4%, 7,5%, 10,7% e 12,3% em abril, maio, junho e julho, respectivamente. Já no trimestre móvel terminado em abril de 2021, a queda do emprego foi de 3,7%, quando comparada com o trimestre móvel terminado em abril de 2020. No ano de 2020, o recuo do emprego no Brasil foi de 7,9%.
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