Novas evidências sobre a utilização da inteligência artificial
Desde o surgimento do ChatGPT em novembro de 2022 houve uma grande disseminação da inteligência artificial generativa. Uma nova base de dados ajuda a entender como tem sido utilizada e seus efeitos potenciais na produtividade.
Desde o surgimento do ChatGPT em novembro de 2022 houve uma grande disseminação da inteligência artificial (IA) generativa, o que desencadeou um debate intenso sobre seus efeitos na economia e na sociedade. Muitos estudos têm sido divulgados, com previsões muitas vezes opostas.
De um lado, vários pesquisadores têm argumentado que a IA generativa tem o potencial de gerar grandes ganhos de produtividade, embora com riscos de disrupção significativa do mercado de trabalho. De outro, existe a visão de que, embora a IA generativa possa aumentar a eficiência de algumas atividades, seus efeitos macroeconômicos tendem a ser pequenos.
O impacto da IA generativa na economia depende da resposta a algumas questões. Primeiro, qual a proporção de atividades que pode ter sua produtividade aumentada pelo uso das novas tecnologias? Segundo, em que velocidade a IA generativa será adotada por trabalhadores e empresas?
Uma boa notícia é que novas bases de dados têm sido criadas para entender os efeitos da IA generativa na atividade econômica e no mercado de trabalho. Um estudo recente de Alexander Bick e coautores (“The Rapid Adoption of Generative AI”) apresenta os primeiros resultados de um novo módulo sobre IA generativa da Real-Time Population Survey (RPS), um survey online representativo da população com idade entre 18 e 64 anos nos Estados Unidos.
Em agosto de 2024, 39% da população nessa faixa etária utilizaram a IA generativa. Cerca de 28% usaram a tecnologia no trabalho, sendo que 11% fizeram uso diário da IA na semana anterior à pesquisa. O produto mais usado foi o ChatGPT, seguido do Gemini da Google.
Em seguida, os autores mostram que a adoção da IA generativa tem sido mais rápida que a do computador pessoal (PC) e da internet. Enquanto 39% da população já utiliza a IA generativa dois anos após a introdução do ChatGPT, somente 20% utilizavam PCs três anos após seu surgimento no início da década de 1980. No caso da internet, seu uso se limitava a 20% dois anos após o início de sua adoção em meados da década de 1990.
O estudo também mostra que o padrão de adoção da IA generativa por idade, educação e nível salarial é similar ao perfil dos usuários iniciais dos PCs. Outro dado interessante é que a diferença na velocidade de adoção da IA generativa em relação ao PC decorre do maior uso da IA fora do trabalho, sendo muito similar entre os trabalhadores.
Essa informação pode ser relevante para prever o impacto econômico da IA com base no que ocorreu após a introdução dos PCs. No caso dos computadores pessoais, houve um grande aumento da desigualdade e um aumento defasado, mas significativo, da produtividade.
Bick e coautores também investigaram como os trabalhadores têm utilizado a IA generativa. A maior parte consiste em tarefas que envolvem comunicação escrita, seguida de perto por tarefas relacionadas à busca e análise de informações. O resultado mais interessante é que a IA tem sido usada em um conjunto abrangente de tarefas, o que indica que a tecnologia pode afetar uma parcela expressiva da atividade econômica.
Para calcular o impacto potencial da IA generativa sobre a produtividade do trabalho, os autores combinam duas fontes de informação. Primeiro, com base no survey sobre uso de IA, estimam que entre 1% e 8% das horas trabalhadas nos Estados Unidos envolvem a utilização de IA generativa. Segundo, com base na mediana dos impactos sobre a produtividade em cinco diferentes experimentos aleatórios, estimam ganhos de eficiência em torno de 25% nas tarefas que usam as novas tecnologias.
Com base nesses números, os autores estimam um aumento potencial de produtividade entre 0,2% e 2,1% para a economia americana com base nas taxas atuais de uso da IA generativa. Como a adoção da IA generativa ainda é relativamente baixa, seu impacto pode ser muito maior caso sua utilização continue a se disseminar rapidamente entre as empresas e trabalhadores.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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