Novo transporte coletivo: incorporar ou combater?
O Uber lançou na semana passada nova modalidade do seu serviço de transporte de passageiros, o Uber Express POOL. Essa modalidade tem como semelhança ao Uberpool o compartilhamento da corrida entre usuários. A diferença é que, enquanto na modalidade POOL a origem e destino são escolhidos pelo usuário, no Express POOL, após a escolha da origem e destino, o aplicativo determina pontos de embarque e desembarque próximos de forma a otimizar a corrida. É como se fosse um serviço de transporte coletivo com rotas e pontos de parada dinâmicos. De acordo com a empresa, a modalidade Express Pool poderá ser até 30% mais barata que o Uberpool e até 75% menos do que o Uber X. O serviço ainda não é oferecido no Brasil.
À primeira vista, esse serviço parece ser concorrente ao transporte público coletivo atual. Entretanto, isso vai depender de onde virá a clientela: se o serviço conseguir encorajar viajantes solitários a abandonarem seus carros para dividir uma corrida com outras pessoas (no máximo três, por agora) será uma alternativa vantajosa para a comunidade – menos emissões, menos espaço ocupado nas vias e menos tráfego. Vale lembrar que hoje as pessoas se utilizam mais de carro e moto do que modos coletivos para fazer seus deslocamentos.
Esse serviço pode ser também uma alternativa mais eficiente para proporcionar acesso e mobilidade em áreas suburbanas, onde há baixa densidade populacional, ou em horários fora do pico, quando há baixa demanda. Nos dois casos o serviço tradicional de ônibus é deficitário e não consegue oferecer boa qualidade.
Mas a grande oportunidade de complementariedade com o transporte coletivo está em oferecer essa modalidade como o first-and-last-mile da viagem; isto é, ser o elo entre a origem/destino do passageiro e a estação de transporte coletivo mais próxima. Essa é uma maneira eficiente para conectar o transporte privado e público, desincentivar o uso do transporte individual e construir uma cidade melhor para todos.
Portanto, a principal questão sobre todos esses novos serviços de transporte não é (ou deveria ser) se eles se enquadram na legislação vigente, mas sim como incorporá-los ao sistema de transporte de forma a oferecer um melhor serviço a um menor custo. A legislação que deve se enquadrar aos avanços tecnológicos, não o inverso.
Nesse contexto, os legisladores estão enfrentando essa questão por meio da escolha de basicamente dois caminhos: o conflito e a cooperação. A maioria das cidades mundo afora está escolhendo o caminho do conflito, sendo a regulação a principal arma utilizada para criar nichos de mercado e monopólios.
Há, porém, iniciativas no sentido da cooperação. Pesquisa do Shared Use Mobility Center (SUMC) revelou que os sistemas de transporte coletivo poderiam melhorar seu serviço se incorporassem tecnologia para criar rotas dinâmicas sob demanda. Porém, aplicação dessa alternativa requer ajustes mais profundos do que incorporação de tecnologia. É preciso também vontade política.
A cidade americana de Centennial, estado do Colorado, lançou um programa para subsidiar deslocamentos realizados por empresas de transporte por aplicativos que tenham como origem ou destino uma estação ferroviária local. Em Pinellas County, na Flórida, a agência de transporte local subsidia o serviço de transporte por aplicativo que faça o deslocamento do passageiro entre o ponto de ônibus até o destino final. Nos dois casos o objetivo do programa é complementar o transporte coletivo para incentivá-lo.
As empresas de transporte por aplicativo criaram uma nova proposta de valor para os usuários de transporte, o que mudou de forma irreversível as expectativas em relação à qualidade do serviço. Daqui em diante, sobretudo após essa nova modalidade do Uber, qualquer modo de transporte coletivo só será bem-sucedido se for conveniente para o usuário. Porém, é fundamental lembrar que esta tecnologia não pode resolver todos os desafios do transporte coletivo. Cabe aos órgãos gestores de transporte guiar a transformação do combalido modelo atual para um novo modelo que leve em consideração o dinamismo das tecnologias do perfil dos clientes e das cidades.
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