O colapso de um modelo
Depois de 11 trimestres de recessão e queda acumulada do PIB de 9% até dezembro de 2016, os dados recentes indicavam o início de uma recuperação cíclica da economia. O resultado do PIB do primeiro trimestre de 2017 de fato mostrou crescimento de 1% em relação ao trimestre anterior, em base dessazonalizada, mas diversas análises põem em dúvida a robustez da almejada recuperação.
Os números do primeiro trimestre confirmaram a projeção de uma recuperação pouco disseminada, muito baseada no crescimento da agropecuária, e bastante lenta, com desaceleração no segundo trimestre.
Porém, a divulgação da delação premiada da JBS caiu como uma bomba e coloca em risco mesmo essa recuperação incipiente.
Tudo que está vindo à tona evidencia o colapso de um modelo de capitalismo de Estado e rent seeking que tem impedido que a renda per capita do Brasil convirja para o nível das economias desenvolvidas.
A ineficiência desse modelo já tinha se manifestado no fato de que nossa produtividade praticamente não cresce desde o início dos anos 1980.
Nesse período ocorreram alguns episódios de aumento da produtividade, associados à abertura e reformas dos anos noventa, e depois às reformas microeconômicas da primeira metade dos anos 2000. No entanto, esse crescimento não se sustentou porque nosso ambiente de negócios não mudou fundamentalmente.
Sua complexidade reflete uma miríade de regimes especiais e tratamento favorecido para diversos setores e empresas. A competição ainda é muito baixa, e muitas empresas permanecem no mercado e crescem graças às suas conexões com o governo.
A estagnação da produtividade foi mascarada pelo bônus demográfico, que fez com que o produto per capita crescesse acima da produtividade por muitos anos. O boom de commodities não só deu sobrevida ao modelo, mas também estimulou o governo a dobrar a aposta, retomando políticas intervencionistas dos anos setenta.
O modelo de substituição de importações durou muitos anos, mas eventualmente entrou em colapso quando a produtividade estagnou e a situação fiscal deteriorou, desembocando na crise da dívida e na hiperinflação.
A encarnação recente do modelo de capitalismo de Estado também resultou em perda de dinamismo econômico e crise fiscal, além de corrupção sistêmica.
A situação só tende a se agravar, já que por razões demográficas a força de trabalho vai crescer menos e o envelhecimento da população terá enorme impacto nas despesas previdenciárias.
Com a delação da JBS, o cenário de crescimento acelerado da dívida entra subitamente no radar. A questão é se o sistema político e as instituições do país conseguirão encaminhar uma solução minimamente organizada para o impasse.
Minha avaliação é de que, embora possam ser adiadas, as reformas eventualmente terão de ser feitas. Se não for por convicção, será por absoluta necessidade.
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