Macroeconomia

O combate a uma inflação de múltiplas origens

20 ago 2021

Diante de múltiplas pressões inflacionárias – agrícolas, industriais, serviços –, parecem boas as chances de BC acelerar ritmo de alta da taxa Selic e dar continuidade às tentativas de conscientizar o meio político acerca da real ameaça associada com a alta dos preços.   

A variação do IPCA no mês de julho ilustra bem a natureza do problema inflacionário atualmente enfrentado pelo Banco Central. Referimo-nos às contribuições dos três principais componentes da inflação de preços livres para a evolução desse conjunto de preços.

O item serviços revelou preocupante elevação em julho, contribuindo com 46% da variação no período. Os preços industriais, por sua vez, contribuíram com 31% da mesma variação, enquanto a influência da alimentação no domicílio sobre a evolução dos preços livres foi de 23%.

A despeito de tais percentuais corresponderem a dados de um único mês, não parece haver dúvida de que as pressões inflacionárias estão bem disseminadas.

Além disso, três outros fatores merecem destaque. Primeiro, a velocidade do processo. A esse respeito, é ilustrativo o fato de que, desde agosto do ano passado, os participantes da pesquisa Focus têm subestimado as taxas mensais de inflação, com um mês de defasagem, por exemplo, de maneira praticamente sistemática. As expectativas de inflação sobem, mas não no mesmo ritmo da alta efetiva dos preços. Com isto, a despeito dos esforços recentes do BC no sentido de combater a inflação, uma importante medida de juro real de política monetária permanece indicando política acomodatícia. Referimo-nos ao swap prefixado de um ano deflacionado pela inflação esperada (Focus) 12 meses adiante. Quando teve início o ajuste monetário recente, em março último, tal medida revelava juro real ao redor de zero, nível certamente bem baixo para um país com histórico inflacionário como o nosso. Como ilustrado no gráfico abaixo, o juro real tem subido, mas ainda se encontra ao redor de 2,8%, abaixo, portanto, do patamar de juro neutro estimado pelo BC.

Evolução do juro real de um ano no Brasil
(Taxa do swap prefixado de 360 dias deflacionada pela expectativa Focus 12 meses adiante)

 

O segundo fator a ser destacado tem a ver com a persistência da alta de preços. Isso tem concorrido para uma ligeira piora das expectativas inflacionárias. Para 2022, por exemplo, a expectativa Focus encontra-se em 3,9%, para uma meta de 3,5%. Na verdade, porém, a comparação relevante deve ser feita com a meta ponderada pelos pesos que o próprio BC atribui à importância relativa de 2022 e 2023. Pelo critério oficial, no trimestre em curso, tais pesos parecem ser 75% e 25%, respectivamente, para as metas dos anos mencionados. Sendo assim, o objetivo numérico relevante situa-se um pouco abaixo de 3,5%. Seria exagero afirmar que as expectativas estão desancoradas, mas é certo que o BC precisa evitar que isso aconteça. Será muito mais difícil evitar inflação permanentemente mais alta no caso de as expectativas de inflação passarem a jogar contra.

Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.  

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