O comércio exterior do Brasil (1997-2024)
A partir da base de dados do Icomex, avalia-se a evolução do comércio exterior do Brasil nos últimos 28 anos: corrente de comércio, saldos de exportação e importação entre os três maiores parceiros e bens comercializados.
Principais resultados
- A corrente de comércio brasileira (exportações + importações) alcançou US$ 600 bilhões em 2024;
- China, Estados Unidos e Argentina representaram 44% da corrente de comércio brasileira em 2024;
- Brasil é superavitário nas trocas com Argentina e China, mas desde 2009, deficitário com os Estados Unidos. Considerando-se em conjunto os seus três principais parceiros comerciais, o Brasil acumula, desde 1997, um superávit de US$ 434,3 bilhões com estes países. O superávit acumulado desde 1997 com o resto do mundo foi de US$ 815,1 bilhões;
- Em 2024, 75% dos bens exportados pelo Brasil eram bens intermediários. Os bens intermediários são compostos por 42% de bens provenientes da indústria de transformação, 26% da agropecuária e 32% relativos a extrativa mineral.
- Desagregando por produtos, destacam-se como principais produtos exportados, em 2024: soja em grão, petróleo e minério de ferro que corresponderam, respectivamente, a 12,7%, 13,3% e 8,9% das exportações totais;
- Os principais produtos importados em 2024 foram: petróleo, óleo diesel, produtos intermediários para adubos e fertilizantes, outros produtos químicos orgânicos, material eletrônico básico, peças e acessórios para veículos automotores e aeronaves – todos classificados como bens intermediários;
- Em 2024, 28% das exportações brasileiras foram destinadas a China; destaca-se a exportação de soja em grão, petróleo e minério de ferro.
- Em 2024, 24% das importações brasileiras foram provenientes da China; destaca-se a importação de outros produtos químicos e orgânicos, material eletrônico básico e automóveis, camionetas e utilitários.
- Em 2024, 12% das exportações brasileiras foram destinadas aos EUA; destaca-se a exportação de petróleo, de semiacabados de aço, e aeronaves.
- Em 2024, 15% das importações brasileiras foram provenientes dos EUA; destaca-se a importação de aeronaves, outros produtos do refino de petróleo, gás natural e outras resinas.
- Em 2024, 4% das exportações brasileiras foram destinadas à Argentina; destaca-se a exportação de automóveis, camionetas e utilitários, caminhões e ônibus e peças e acessórios para veículos automotores.
- Em 2024, 5% das importações brasileiras foram provenientes da Argentina; destaca-se automóveis, camionetas e utilitários, trigo em grão e outros cereais e produtos do laticínio e sorvetes.
Introdução
A base de dados do Indicador do Comércio Exterior (ICOMEX) possibilita que se descreva detalhadamente a evolução do comércio exterior do Brasil nos últimos 28 anos. Essa descrição se inicia com a corrente de comércio brasileira, vis a vis os principais parceiros. Em seguida, avalia-se a relação de saldos de exportação e importação entre os 3 maiores parceiros de comércio do Brasil e discrimina-se os bens comercializados com os 3 maiores parceiros por categorias de usos.
1 - A Corrente de Comércio
A corrente de comércio brasileira com 267 países somou cerca de US$ 600 bilhões e desde 1997 tem sido bastante concentrada: os 20 países que detinham pelo menos 1% dessa corrente em 2024, tinham em 1997 uma participação de 80%, embora, em 2024, essa participação tenha se reduzido para 75%. Pela ordem de participação na nossa corrente de comércio, em 2024, esses 20 países são: China, Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Países Baixos (Holanda), Espanha, México, Rússia, Índia, Chile, Japão, Itália, Coreia do Sul, França, Canadá, Singapura, Vietnã, Paraguai, Indonésia e Reino Unido.
Por sua vez, os cinco primeiros países citados detinham 50% dessa corrente, e ditam a evolução do comércio brasileiro como ilustrado no Gráfico 1. O comércio do Brasil inicia sua forte expansão em 2004 e cresce significativamente até 2014, com pequena redução em 2009 devido à crise financeira mundial; a partir daí segue crescendo, mas tem forte declínio devido à recessão de 2014 até 2016. Com o fim da recessão, o nosso comércio volta a crescer com uma pequena redução no ano da pandemia e a partir daí cresce vigorosamente alcançando em 2024 o valor de 600 bilhões de dólares.
O Gráfico 2 chama a atenção da evolução dos nossos 3 principais parceiros que juntos representam 44% de nossa corrente de comércio. A posição dos 20 países mencionados se altera durante toda a série. A China que atualmente é nossa principal parceira de comércio, aparece, em 1997, em décimo lugar entre os 20 maiores parceiros, com apenas 2% da corrente brasileira de comércio. A partir daí impressiona o desempenho da China que cresce e ultrapassa a Argentina em 2008 e o Estados Unidos em 2009, tornando-se nosso maior parceiro comercial com valor quase o dobro de nossa corrente de comércio com os Estados Unidos.
2. O Saldo Comercial com os 3 maiores parceiros comerciais
É útil agora detalhar o nosso saldo comercial com nossos 3 principais parceiros. É interessante notar que o Brasil é deficitário com o Resto do Mundo em apenas 4 anos iniciais da série iniciada em 1997, um montante acumulado de US$ 19,5 bilhões; e, é superavitário nos demais anos num montante acumulado de US$ 815,1 bilhões.
O Gráfico 3 abaixo ilustra o saldo comercial do Brasil com os nossos 3 principais parceiros comerciais. Nos 28 anos abordados o Brasil é deficitário com os Estados Unidos em 19 anos, notadamente nos anos mais recentes. Seu montante acumulado em anos superavitários é de apenas US$ 49,6 bilhões. Com a Argentina tal déficit ocorre em apenas 9 anos sendo, portanto, modestamente superavitário em 19 anos cujo montante acumulado é de apenas US$ 60,3 bilhões. Com a China ocorre o contrário e, apenas em 6 anos, ocorrem déficits, e por sua vez, os superávits são elevados. Os valores superavitários em 22 anos somam US$ 324,4 bilhões.
Vê-se, portanto, que em desde 1997 o Brasil foi superavitário nas trocas com seus três principais parceiros e acumula um superávit de US$ 434,3 bilhões com estes países. O superávit com o resto do mundo é de US$ 815,1 bilhões, 1,9 vezes superior ao obtido com seus três principais parceiros comerciais.
3. Categorias de Usos dos Bens comercializados pelo Brasil
Passamos agora a examinar do que se compõe nossa pauta comercial. No Gráfico 4, abaixo, nota-se que nossas exportações se compõem basicamente de bens intermediários que, em 1997, eram de 67% e em 2024 chegam a 75% do total exportado pelo Brasil.
Cabe destacar que a maior parte dos bens intermediários exportados pelo Brasil são provenientes da indústria de transformação. Os bens intermediários são compostos por 42% de bens provenientes da indústria de transformação, 26% da agropecuária e 32% relativos a extrativa mineral. Destacam-se como principais produtos exportados: soja em grão, petróleo e minério de ferro que corresponderam, respectivamente, a 12,7%, 13,3% e 8,9% das exportações totais em 2024.
Ao longo dos anos a participação da indústria de transformação nas exportações de bens intermediários sofreu uma queda significativa, de 75% em 1997 para 42% em 2024. Nesse sentido, destaca-se que a composição da exportação de bens intermediários se modificou ao longo das últimas duas décadas, com aumento na participação de produtos da indústria extrativa e da agropecuária.
As importações por sua vez são também concentradas em bens intermediários (em 1997, 63% e em 2024, 68%), embora com algumas diferenças, como uma maior participação dos bens de capital. Cabe destacar, no entanto, que diferente das exportações a composição das importações de bens intermediários se concentrou ainda mais ao longo do período analisado, de 1997 a 2024. Os principais produtos importados são: petróleo, óleo diesel, produtos intermediários para adubos e fertilizantes, outros produtos químicos orgânicos, material eletrônico básico, peças e acessórios para veículos automotores e aeronaves – todos classificados como bens intermediários.
As importações de bens intermediários são concentradas em produtos da indústria de transformação, que eram responsáveis por 81% dessa categoria em 1997. Entre 1997 e 2008 a importação de produtos da extrativa ganhou participação entre os bens intermediários. Entre 2009 e 2015 esse padrão se manteve, de certa maneira, estável. Somente a partir de 2016 há uma queda significativa de participação de produtos da extrativa, devido a um elevado crescimento na importação de produtos da indústria de transformação. Em 2024, pode-se dizer que a importação de bens intermediários se tornou mais concentrada, sendo distribuída em 86% de produtos relativos à indústria de transformação, 11% da extrativa e 2% da agropecuária.
No que tange a importação de bens de capital os principais produtos importados são: outras máquinas e equipamentos, geradores, transformadores, motores elétricos, equipamentos para rádio, televisão e estações telefônicas, e aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle.
A análise com nossos três principais parceiros comerciais (China, EUA e Argentina) ajuda a entender melhor a composição das nossas exportações e importações. Em 2024, 28% de tudo que foi exportado pelo Brasil foi comprado pela China, destacam-se as exportações de soja em grão, petróleo e minério de ferro. Como mostra o Gráfico 6, nossas exportações são compostas, basicamente, de bens intermediários (90%) e um pouco de bens de consumo não duráveis (10%).
No que tange a composição das exportações de bens intermediários, cabe notar que essa se modificou significativamente nas últimas duas décadas. Atualmente, a composição da exportação de bens intermediários para a China é bastante diversificada, sendo 34% de produtos da agropecuária, 44% relativos a produtos da extrativa e 21% correspondente a produtos da indústria de transformação.
As importações de produtos da China correspondem a 24% do total das importações brasileiras em 2024. Os principais produtos importados foram produtos químicos e orgânicos, material eletrônico básico e automóveis, camionetas e utilitários. O Gráfico 7 apresenta a composição dessas importações, compostas basicamente de produtos intermediários, com 41% em 1997 e 61% em 2024. Cabe notar que as importações de bens intermediários da China são todas relativas aos produtos da indústria de transformação. Entre os produtos importados da indústria de transformação destacam-se, entre os bens intermediários, outros produtos químicos orgânicos e peças e acessórios para veículos.
A importação de bens de capital chineses também é significativa na análise comercial entre Brasil e China. Em 2024, 22% dos bens importados do país são bens de capital, com destaque para a importação de geradores, transformadores e motores elétricos. Cabe salientar que a importação de bens de capital do país vem crescendo e aumentando sua participação na pauta importadora do Brasil com a China. Por sua vez, a importação de bens intermediários, semiduráveis e não duráveis apresentam queda de participação em quase toda série (1997-2024). Ressalta-se, no caso da importação de bens duráveis um crescimento significativo em 2024, principalmente devido a importação de automóveis, caminhonetas e utilitários.
Para os EUA, nossas exportações compõem-se basicamente de bens intermediários, mas com participação relevante de bens de capital. Cabe notar que 12% do total das exportações brasileiras foram destinadas aos EUA em 2024, destacam-se as exportações de petróleo, semiacabados de aço e aeronaves. Em suma, os produtos exportados para os EUA são compostos por 15% de bens de capital, 11% de bens não duráveis e 71% de bens intermediários. Os bens intermediários são compostos, em sua maioria, por produtos provenientes da indústria de transformação. Esse padrão se modificou desde 1997, com ganhos de participação dos produtos da extrativa, principalmente devido a exportação de petróleo.
As importações dos produtos oriundos dos EUA corresponderam a 15% do total de produtos importados pelo Brasil em 2024 e são compostas basicamente de bens intermediários (77%), com participação relevante de bens de capital (16%). Os principais produtos importados dos EUA são aeronaves, outros produtos do refino de petróleo, gás natural e outras resinas. No que tange a importação de bens intermediários, são importados produtos da extrativa (15%) e produtos da indústria de transformação (85%). Entre os produtos da extrativa, o principal importado é gás natural, seguido de petróleo e carvão mineral. Quanto aos produtos da indústria de transformação, os principais são aeronaves, outros produtos de refino do petróleo, e outras resinas. Os bens de capital, por sua vez, são majoritariamente produtos da indústria de transformação. Destaca-se a importação de aeronaves, aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle, outras máquinas e equipamentos e motores, bombas e compressores.
Nossas exportações para a Argentina, embora preponderantemente de bens intermediários (42%), são mais diversificadas com forte participação de bens de consumo duráveis (17%) e bens de capital (14%). As exportações de bens intermediários são compostas, principalmente, por produtos da indústria de transformação (64%), produtos da agricultura (25%) e produtos da extrativa (10%). As exportações para a Argentina totalizaram 4% do total das exportações brasileiras em 2024, e os principais produtos exportados são automóveis, camionetas e utilitários, caminhões e ônibus e peças e acessórios para veículos automotores.
A exportação de bens intermediários é majoritariamente (92%) de produtos da indústria de transformação, principalmente de peças e acessórios para veículos automotores. Nos bens de consumo duráveis, destaca-se a exportação de automóveis, caminhonetas e utilitários. No que tange aos bens de capital, as exportações de caminhões e ônibus são as que se sobressaem.
Nossas importações da Argentina são fortemente baseadas em bens intermediários (42%); mas tem participação substancial de bens de capital (25%), de bens de consumo duráveis (18%) e bens de consumo não duráveis (16%). Entre os bens intermediários, destaca-se a importação de trigo em grãos e outros cereais e de petróleo. No caso dos bens de consumo duráveis, os principais produtos importados são os automóveis, caminhonetas e utilitários. Os não duráveis destacam-se a importação de produtos do laticínio e sorvetes. As importações da Argentina totalizaram 5% do total dos produtos importados pelo Brasil em 2024, e os principais produtos são automóveis, camionetas e utilitários, trigo em grão e outros cereais e produtos do laticínio e sorvetes.
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