Macroeconomia

O desempenho do mercado de trabalho não deve ajudar o governo na eleição de 2018

1 ago 2017

Analistas políticos sugerem que a situação econômica pode, em muitos casos, ser determinante para o resultado de uma eleição. Nos Estados Unidos da América (EUA) a percepção de que o desempenho econômico pode ser relevante em uma disputa eleitoral ganhou notoriedade com a frase “it´s the economy stupid” atribuída ao estrategista político, e chefe da campanha de Bill Clinton a presidência em 1992, James Carville. Supostamente, esta frase foi proferida pelo referido analista político para reforçar a necessidade de Bill Clinton realizar, na disputa eleitoral de 1992, uma campanha focada na crítica ao então presidente George W. Bush pelo fraco desempenho econômico que vinha sendo observado nos EUA desde julho de 1990. A estratégia de ressaltar o crescimento econômico insatisfatório funcionou e Bill Clinton venceu a disputa eleitoral, em novembro de 1992, tornando-se o novo presidente dos EUA.

Dentre os indicadores econômicos o nível de emprego é provavelmente aquele com maior potencial para afetar os resultados de uma eleição. Neste sentido, não surpreende a relevância que o atual governo brasileiro tem conferido ao desempenho do mercado de trabalho. Por exemplo, a elevada preocupação do governo com o comportamento do mercado de trabalho ficou evidente em 16/03/2017. Naquele dia o próprio presidente Michel Temer fez questão de anunciar pessoalmente o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) que registrou a criação, em fevereiro, de 35.612 vagas. O número ganhou bastante destaque justamente por ter representado o primeiro saldo positivo do CAGED em 22 meses.

Neste contexto, a taxa de desemprego observada em setembro de 2018 pode ser determinante para o resultado da próxima eleição presidencial. Por um lado, uma queda acentuada da taxa de desemprego, até a eleição, pode ajudar o atual governo a garantir um sucessor. Por outro lado, uma elevação, ou mesmo manutenção, da taxa de desemprego nos níveis atuais tende a fortalecer candidaturas ligadas à oposição.

Segundo nossas projeções a taxa de desemprego ainda deve oscilar bastante até setembro de 2018. Mais precisamente, acreditamos que a taxa de desemprego deve cair ao longo de 2017, encerrando o ano atual em 12,2%. No entanto, projetamos uma nova elevação da taxa de desemprego no início de 2018, atingindo um pico de 13,7% em março daquele ano. Neste cenário, esperamos uma taxa de desemprego de 12,5%, em setembro de 2018, número este que é bastante semelhante ao patamar observado recentemente (por exemplo, em junho de 2017 a taxa de desemprego atingiu 13,0%).

O mercado de trabalho tem sido caracterizado por elevada instabilidade. Esta alta volatilidade do mercado de trabalho tem dificultado a realização de previsões. Porém, caso a nossa projeção esteja correta, o fraco desempenho do mercado de trabalho até a eleição de 2018, refletido na manutenção da taxa de desemprego em um patamar elevado, semelhante ao verificado nos últimos meses, não deve ajudar o governo atual a eleger um sucessor.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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