Macroeconomia

O haraquiri do PSDB

21 nov 2017

Poder não admite vácuo. Mas o PSDB parece não ter entendido essa regra básica da política.

A frustração dos eleitores do partido vem de longe. Sob a batuta de FHC, o PSDB empreendeu uma obra extraordinária, derrotando uma hiperinflação que havia solapado o país por uma década e meia. Também implantou uma séria de medidas modernizadoras que aumentaram a eficiência econômica do país, reorganizaram as finanças públicas, e reduziram a presença direta do Estado na economia. Nessa empreitada, contaram com o apoio decisivo do aliado PFL, hoje rebatizado DEM.

Apesar de ter sido o responsável pela eliminação da inflação, o PSDB não teve competência para carimbar essa mensagem no imaginário popular. Em política, quando não se defende uma ideia, passa-se a mensagem de que se é contrário a ela. O PSDB foi mais longe: no poder implantou a ideia, na oposição calou-se quando a ideia foi atacada. O PSDB se deixou pautar pelo PT.

O partido chegou à Presidência da República pela liderança de FHC, no embalo do Plano Real. Embora Mario Covas tenha feito do “Choque de Capitalismo” o moto de sua campanha de 1989, o partido nunca abraçou essa causa plenamente. O governo FHC implantou reformas econômicas ousadas, somente comparáveis às implantadas por Castello Branco, mas com a diferença que FHC o fez em regime democrático. Da mesma forma que as reformas de Castello pavimentaram o terreno do milagre econômico dos anos 1970, as reformas modernizantes de FHC pavimentaram os anos de crescimento da era Lula. Mas o PSDB não conseguiu explicar isso ao grande público.

Em 2002, o candidato Serra recusou-se a defender o legado de seu partido. Perguntado sobre se sua gestão seria uma continuação da de FHC, Serra respondeu com o famoso “sou candidato do meu governo”. Enquanto o hábil Lula vilipendiava as privatizações de FHC, Serra foi incapaz de rebater o argumento. Poderia ter lembrado que, antes das privatizações, pobre não tinha telefone, mas teve medo de enfrentar Lula.

A corrida eleitoral de 2002 foi particularmente tumultuada. Desde sua criação no início dos anos 1980, o PT defendera o repúdio da dívida pública. Quando ficou claro que Lula seria eleito, os investidores bateram em revoada gerando uma imensa fuga de capitais. Seguiu-se uma inédita desvalorização cambial que provocou a disparada da inflação. O habilidoso Lula conseguiu botar a culpa da disparada da inflação em FHC, elegendo-se devido à crise que ele próprio havia provocado.  Já presidente, para justificar a recessão de 2003, necessária para combater a pressão inflacionária, Lula criou o mito da “herança maldita”. Que herança era aquela se o superávit primário era de 3% do PIB? Mas como Serra não havia defendido o legado do partido, a versão de Lula consolidou-se junto à população.  

Após a divulgação do Mensalão, em 2005, o PSDB perdeu a grande oportunidade para promover o afastamento do PT. Acreditava que Lula estava morto politicamente, bastando levar o defunto até o fim de seu governo, para não se criar um Getúlio vivo. Estava redondamente enganado. Enquanto Lula negociava com a oposição uma trégua que lhe permitiria chegar ao final de seu mandato, por traz costurava as alianças que o levariam à reeleição.

Em 2006, Alckmin, assim como Serra, acovardou-se toda vez que as privatizações eram mencionadas por Lula. Como Serra, Alckmin foi incapaz de defender o legado de seu partido. Chegou ao ridículo de fantasiar-se de funcionário do Banco do Brasil, numa canhestra tentativa de negar que faria privatizações. Até Lula fizera algumas poucas privatizações, mas o chamado “picolé de chuchu” não tinha a mínima convicção. Conseguiu a proeza de ter menos votos no segundo turno que no primeiro. Patético.

Em 2010, um Serra reeditado fez nova tentativa. Mas já no primeiro dia de sua campanha na TV, apareceu em foto ao lado de Lula durante o movimento das Diretas Já. Sua campanha em vez de levantar questões nacionais, concentrou-se na experiência de Serra como ministro da Saúde. Foi a primeira vez na história das eleições que cirurgia de varizes se tornou assunto de campanha presidencial.

Em 2014, Aécio foi menos ruim como candidato do que os dois ex-governadores de São Paulo. Dilma havia feito um governo desastroso, mas o resultado de sua incompetente gestão ainda jazia invisível para a grande maioria da população. Aécio deveria ter denunciado a crise e a falsificação dos números, indicando que quem quer que fosse eleito seria obrigado a fazer a reforma da previdência, por absoluta falta de alternativa. Se tivesse seguido essa estratégia, em caso de vitória eleitoral teria toda a legitimidade para fazer a reforma; em caso de derrota, teria assistido de camarote sua opositora optar entre fazer a reforma ou ser destruída pela crise que ela negara. Mas Aécio avaliou que se abordasse temas espinhosos, perderia votos. Não chegou ao Planalto, nem tampouco deixou registrado uma mensagem clara. Amargou uma dupla derrota: eleitoral, ao perder a eleição; e política, ao não deixar uma mensagem clara sobre o rumo a tomar.  

Ao longo de todo o governo petista, o PSDB não soube assumir seu papel de oposição. Durante o segundo mandato de Dilma, chegou até a desconstruir parte das reformas de FHC, ao apoiar o fim do fator previdenciário. Posteriormente, a divulgação da gravação feita por Joesley enterrou de vez a imagem de Aécio, presidente do PSDB. Seguiu-se uma guerra fratricida entre tucanos que atordoa diariamente seus eleitores.

Nas últimas quatro eleições presidenciais, o PSDB acomodou-se na confortável condição de herdeiro, no segundo turno, de todos que se opunham ao PT. Mas em 2018, tudo indica que o partido sequer chegará ao segundo turno. Após o colapso do PT, o PSDB deveria estar na condição de grande beneficiário, mas seus erros apenas o colocam como um competidor com alguma chance. 

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