O mercado de trabalho está ‘bombando’?
Mercado de trabalho brasileiro foi boa surpresa em 2022, mas ainda há fragilidades em termos de renda, trabalhadores subutilizados e taxa de participação. Com fim do ciclo eleitoral, taxa de desemprego pode subir de novo.
O mercado de trabalho brasileiro surpreendeu em 2022. A forte redução da taxa de desemprego de 11,1% em dezembro de 2021 para 8,9% em julho de 2022 foi maior do que a prevista no início do ano.
Após um início de recuperação da COVID-19 em que o PIB cresceu mais fortemente e o mercado de trabalho demorou a responder, este ano os papéis se inverteram. Tínhamos uma economia na qual o crescimento econômico se recuperava de forma acelerada mas o emprego não vinha. A recuperação tinha começado em setores com menor necessidade de “distanciamento social”. Esses setores de maior produtividade e menos intensivos em mão de obra criaram uma “jobless recovery”.
Em 2022, vivemos o outro lado da moeda. Os setores nos quais o “distanciamento social” era mais difícil somente se recuperaram de forma mais consistente este ano. Com isso, tivemos uma recuperação forte do emprego com um desempenho do PIB mais modesto. Ou seja, vivemos a fase final da recuperação da COVID-19 no mercado de trabalho.
A grande geração de emprego este ano ocorreu em setores intensivos em mão de obra e relacionados a um maior contato humano. De forma geral, tivemos forte expansão dos serviçospessoais, educação e alojamento e serviços, por exemplo.
O emprego, que tinha sua dinâmica majoritariamente informal desde a crise de 2015, apresentou crescimento formal mais forte em 2022. Observamos que 57% dos empregados contratados este ano tinham carteira, representando 1,6 milhão de empregos com carteira. Caso utilizemos uma medida mais ampla de formalização incluindo trabalhadores por conta própria e empregadores com CNPJ, o total de vagas formais sobre para 66%, representando 2,4 milhões de novos postos de trabalho. Ou seja, a recuperação foi forte e com maioria de postos formais de trabalho, quebrando a dinâmica iniciada após a crise de 2015.
O CAGED (Cadastro Geral de Empregados e desempregados) complementa a informação da PNAD no que tange a formalização do emprego. Entre janeiro e agosto, o CAGED mostra geração de 1,8 milhão de postos formais de trabalho. Aparentemente, caminhamos tranquilamente para uma geração de mais de 2 milhões de vagas formais este ano.
A projeção para o restante do ano continua sendo positiva, com o ciclo eleitoral postergando os impactos recessivos da política monetária contracionista que visa trazer a inflação de volta para a meta. Dessa forma, espera-se que a taxa de desemprego deva continuar em queda neste fim de ano.
No entanto, ainda existem sinais de fragilidades do mercado de trabalho.
A renda, que sofreu forte queda durante a pandemia, mostra sinais de recuperação. Mas ainda se encontra em nível substancialmente menor do que previamente à pandemia. O salário real habitual que era de R$ 2.860 em março de 2020, atingiu seu menor valor, de R$ 2.586, em dezembro de 2021, e já se encontra em R$ 2.713. Ainda assim, a perda que ainda resta mostra as marcas da crise da COVID no salário real.
O número de trabalhadores subutilizados chegou em agosto a 23,9 milhões de pessoas, bem abaixo do nível pré pandemia de fevereiro de 2020 de 27,1 milhões de pessoas. No entanto, esse resultado ainda permanece elevado. Em dezembro de 2015, havia somente 18,6 milhões de pessoas subutilizadas. No trimestre entre janeiro e março de 2017, o total de subutilizados atinge 26,6 milhões de subutilizados, resultado da crise de 2015/16. Este número permaneceu na faixa dos 26,5 milhões até dezembro de 2019. Logo, apesar da recuperação atual, o número ainda é elevado.
A taxa de participação continua abaixo do nível pré-pandemia, mostrando que ainda não incorporamos mais de 1 milhão de pessoas em relação à taxa de participação de fevereiro de 2020. A entrada no mercado de trabalho desse contingente elevaria a taxa de desemprego para a faixa dos 10%, em vez dos atuais 8,9%.
De qualquer forma, o ano de 2022 no mercado de trabalho tem sido muito positivo. No entanto, devemos ter em mente que muito provavelmente, terminado o ciclo eleitoral, ocorreránova elevação da taxa de desemprego. Adicionalmente, a alta da taxa de participação para a incorporação de mais de 1 milhão de pessoas e a redução da subutilização para níveis próximos aos observados em 2014 devem ser os objetivos. O mercado de trabalho brasileiro ainda não se “curou” dos impactos da crise de 2015/2016. Somente retornar aos níveis pré-pandemia não acaba com as fragilidades existentes no mercado de trabalho.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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