Parente pagou o preço do sucesso
Há cerca de dois anos, Pedro Parente assumiu a presidência da Petrobras. À época a empresa padecia de vários males. A situação financeira era precária, a corrupção entranhava em sua imagem... enfim, a insatisfação com a companhia era generalizada. Ao longo desses dois anos, Parente teve o aval para colocar a empresa em novo rumo. E o fez com sucesso. O redirecionamento da empresa é inquestionável.
Ao longo do mesmo período a realidade do país pouco mudou, continua andando aos tropeços. O desemprego ainda muito elevado, a perda de poder aquisitivo da população e a notória deterioração na prestação dos serviços públicos são a tônica. A sensação de piora na qualidade de vida se dissemina. Com as contas do setor público em frangalhos, por seu turno, a necessidade do ajuste fiscal é irremediável. O que torna a equação difícil de ser administrada. Em fim de mandato e sem recursos, a classe política se vê de mãos atadas para criar benesses que revertam o quadro de desalento reinante.
Daí surge a Petrobras. Embora não tenha concluído o equacionamento de suas contas, a empresa desponta como um oásis dentro do setor público. Com ministérios, autarquias e órgão públicos sem dinheiro, a Petrobras passa a ser uma alternativa quase que natural para mitigar o quadro de penúria. Como se pode depreender da declaração do senador Eunício Oliveira, presidente do Senado Federal, quando da saída de Pedro Parente: “O presidente de uma empresa monopolista como a Petrobras precisa reunir visão empresarial, sensibilidade social e responsabilidade política”.
Na verdade, o afastamento de Pedro Parente não deveria surpreender ninguém. Na medida em que a empresa se recuperasse, seria instada a voltar ao processo de barganha política. Está em nosso DNA. Como se vê, a dramaticidade da situação fiscal não cessa de apresentar facetas que levam à desestabilização da ordem econômica.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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