Macroeconomia

Perda de dinamismo da indústria brasileira se intensifica

17 jan 2019

De acordo com a Pesquisa Mensal da Indústria (PIM-PF), divulgada pelo IBGE, a produção industrial brasileira registrou queda de 0,9% em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2017 (AsA), o que corresponde a um ligeiro crescimento de 0,1% em relação a outubro (MsM). Esse resultado foi composto por um crescimento da extrativa mineral de 3,3% AsA (-0,6% MsM) e por uma queda de 1,5% AsA (0,0% MsM) da indústria de transformação.  A análise da pesquisa por categorias de uso mostrou que apenas os bens de capital exibiram crescimento positivo na variação interanual (3,4% AsA). Os bens intermediários e os bens de consumo, que representam cerca de 90% da pesquisa, registram quedas de 1,4% AsA e de 0,9% AsA, respectivamente.

A expectativa para o crescimento da indústria em dezembro desanima. Os principais indicadores antecedentes do setor indicam nova retração no mês passado: o fluxo pedagiado de veículos pesados nas rodovias, medido pelo índice ABCR, recuou 4,1% AsA, a produção de papelão ondulado (ABPO) caiu 3,2% AsA e a produção de veículos, segundo dados da ANFAVEA, exibiu queda de 16,8% AsA. À luz desses resultados, nossa projeção para a indústria no mês de dezembro é de queda de 5,2% AsA (-0,7% MsM).

As exportações de veículos no mês de dezembro sinalizaram que o principal fator que contribuiu para o péssimo desempenho do setor automobilístico no mês foi o caos econômico no qual a Argentina, nosso grande parceiro comercial de manufaturados, se encontra. Os dados da ANFAVEA mostraram que as exportações de veículos recuaram 48,1% AsA em dezembro, sendo o oitavo mês de queda consecutiva na comparação interanual. Por outro lado, a demanda interna tem sido responsável por parte da absorção da produção, uma vez que as vendas de veículos nacionais ao mercado interno cresceram 10,3%.

A indústria brasileira exibiu forte redução do ímpeto de crescimento no segundo semestre de 2018, comportamento que é explicado por um conjunto de fatores. O primeiro fator negativo foi a greve dos caminhoneiros no mês de maio, que desorganizou a cadeia produtiva e abalou a confiança de empresários e consumidores. O segundo foi a crise econômica na Argentina que começou a impactar de forma significativa a nossa indústria de transformação. Soma-se a esse cenário, já conturbado para o setor, a incerteza política e eleitoral característica de 2018 e a recuperação demasiadamente lenta do mercado de trabalho.

Para vislumbrarmos um cenário de crescimento robusto para a indústria este ano é necessário que haja continuidade do processo de recuperação do mercado de trabalho, maior ímpeto de crescimento do crédito e da renda das famílias, o que garantiria uma expansão mais forte da capacidade de consumo doméstica. Ainda assim, tudo isso pode não ser suficiente para sustentar um crescimento mais forte da indústria em um cenário de queda da demanda internacional por nossos manufaturados.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

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