Economia Regional

Perfil da população em extrema pobreza: diferenças regionais e entre os Estados do Nordeste

22 ago 2024

Considerando a redução de pobreza de 2021-23, este artigo analisa a incidência de extrema pobreza de acordo com a distribuição demográfica, educacional e espacial entre áreas urbanas e rurais, com destaque para o Nordeste.

Estabelecer um perfil da extrema pobreza é útil pois permite a identificação de quais grupos demográficos são mais vulneráveis à pobreza. O fato de que a situação de pobreza não incide sobre todos os grupos demográficos de maneira uniforme e que grupos específicos podem estar mais expostos a riscos socioeconômicos é bastante reconhecido. Além do mais, também é consensual o reconhecimento da existência de desigualdades estruturais baseadas em discriminações, principalmente de sexo e cor, bem como desigualdades regionais, estabelecidas por fatores históricos, econômicos e sociais. Entender como essas desigualdades estão relacionadas com renda e pobreza é crucial para o desenho de políticas públicas e programas de assistência social mais eficientes.

Neste artigo exploramos algumas características demográficas como sexo, cor ou raça e faixa etária. Outros dois aspectos relevantes e que também foram explorados diz respeito à distribuição espacial entre áreas urbanas e rurais e níveis de escolaridade. O propósito de “mapear” estas características é fornecer informações úteis para a compreensão mais profunda das dinâmicas que perpetuam a pobreza extrema no Brasil.

Em consideração ao contexto mais atual dos indicadores de extrema pobreza, realizamos estimativas para os anos de 2021 e 2023. A ideia é construir evidências no contexto da redução nos indicadores de extrema pobreza observadas neste período mais recente. Para realizar esta análise exploramos estimativas de incidência de extrema pobreza e da distribuição de características, o que nos permitiu compor um perfil básico da população em situação de renda mais vulnerável.

Perfil demográfico

A primeira informação da Tabela 1, representa a distribuição por sexo na população total. O objetivo de apresentar esta informação, nesta tabela e nas demais, é fornecer um parâmetro para avaliar a distribuição dessa característica na população em extrema pobreza. Como esperado, a proporção de homens e mulheres na população total se mantém relativamente estável entre 2021 e 2023, tanto a nível nacional quanto regional.

Tabela 1. Incidência de extrema pobreza por sexo e distribuição
por sexo na população total e na população em extrema pobreza.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

homens

mulheres

homens

mulheres

Brasil

48,9

51,1

48,9

51,1

Centro-Oeste

49,3

50,7

49,5

50,5

Nordeste

48,4

51,6

48,2

51,8

Norte

50,6

49,4

50,0

50,0

Sudeste

48,5

51,5

48,8

51,2

Sul

49,6

50,4

49,4

50,6

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

homens

mulheres

homens

mulheres

Brasil

46,6

53,4

47,6

52,4

Centro-Oeste

45,2

54,8

45,9

54,1

Nordeste

47,2

52,8

47,7

52,3

Norte

49,1

50,9

49,1

50,9

Sudeste

44,6

55,4

47,0

53,0

Sul

44,2

55,8

48,1

51,9

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

homens

mulheres

homens

mulheres

Brasil

8,6

9,5

4,3

4,6

Centro-Oeste

3,6

4,2

1,7

2,0

Nordeste

17,2

18,1

9,0

9,2

Norte

13,9

14,7

6,2

6,5

Sudeste

5,0

5,8

2,4

2,6

Sul

2,9

3,5

1,6

1,7

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Por sua vez, a distribuição entre homens e mulheres na população em extrema pobreza mostra uma tendência onde, em média, há uma proporção maior de mulheres em extrema pobreza do que homens. Entre os anos de 2021 e 2023, se observa uma redução dessa diferença, com a maior queda ocorrendo na região Sudeste.

Ao avaliar a proporção de pobres entre os dois grupos, por meio do indicador de incidência de extrema pobreza, se observa maior incidência entre as mulheres. Quanto as aspecto regional, se observa um reflexo direto das diferenças regionais de incidência de pobreza, com as maiores proporção sendo observadas nas regiões Nordeste e Norte.

Na comparação entre 2021 e 2023, um aspecto que foi possível observar é que, em 2021, momento em que os indicadores de extrema pobreza se encontravam em um patamar mais elevado, as diferenças na proporção de pobres entre homens e mulheres eram maiores, e diminui com a redução do índice de pobreza monetária entre os dois anos.

Essas informações reforçam a ideia de que desigualdades de gênero (em relação ao sexo, conforme a informação reportada pelo IBGE) possuem um reflexo importante no perfil da pobreza. O acesso desigual ao mercado de trabalho, as diferenças salariais e a maior responsabilidade em relação aos cuidados familiares, contribuem para a maior vulnerabilidade econômica das mulheres. Embora nesta informação não esteja qualificado o perfil de mulheres chefes de domicílio, outros estudos indicam que domicílios chefiados por mulheres, especialmente aqueles sem a presença de um cônjuge, tendem a ter uma incidência de pobreza mais elevada.

Para a caracterização de cor ou raça declarada, consideramos um grupo denominado como ‘pretos e pardos’ (que inclui também os indígenas) e um denominado por ‘brancos’ (que inclui também amarelos). As informações para este recorte são apresentadas na Tabela 2.

Quando considerada a distribuição relativa à cor ou raça declarada temos um quadro de disparidades ainda mais marcantes. A proporção de pretos ou pardos na população em extrema pobreza é substancialmente maior do que a de brancos, destacando uma vulnerabilidade acentuada neste grupo.

Na comparação dessa distribuição entre 2021 e 2023, não se observa grandes mudanças na composição da população. Por sua vez, considerando o aspecto regional, se observou um aumento na participação relativa de pretos e pardos entre os pobres em duas regiões: Centro-Oeste e Nordeste.

Quanto à incidência, as estimativas mostram que a proporção de pessoas pretas e pardas em situação de extrema pobreza é significativamente maior em comparação com a população que se declara branca, tanto a nível nacional quanto regional.

Tabela 2. Incidência de extrema pobreza por cor/raça e distribuição
por cor/raça na população total e na população em extrema pobreza.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

brancos

pretos ou pardos

brancos

pretos ou pardos

Brasil

43,6

56,4

43,1

56,9

Centro-Oeste

35,2

64,8

37,3

62,7

Nordeste

25,0

75,0

25,6

74,4

Norte

18,1

81,9

20,4

79,6

Sudeste

51,6

48,4

50,4

49,6

Sul

75,6

24,4

71,7

28,3

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

brancos

pretos ou pardos

brancos

pretos ou pardos

Brasil

25,5

74,5

25,2

74,8

Centro-Oeste

30,3

69,7

27,9

72,1

Nordeste

20,5

79,5

18,5

81,5

Norte

11,3

88,7

13,2

86,8

Sudeste

35,9

64,1

38,3

61,7

Sul

61,2

38,8

63,0

37,0

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

brancos

pretos ou pardos

brancos

pretos ou pardos

Brasil

5,3

12,0

2,6

5,8

Centro-Oeste

3,4

4,2

1,4

2,1

Nordeste

14,4

18,7

6,6

9,9

Norte

8,9

15,4

4,1

6,9

Sudeste

3,8

7,1

1,9

3,1

Sul

2,6

5,1

1,5

2,2

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Na comparação entre os dois anos analisados, observa-se uma redução significativa na incidência de extrema pobreza em ambos os grupos. No entanto, a disparidade entre eles permanece. Em 2021, a proporção de pessoas declaradas brancas em extrema pobreza representava 44% da proporção entre as pessoas declaradas pretas ou pardas. Em 2023 essa razão foi de 45%, ou seja, praticamente inalterada. Em âmbito regional até é possível observar uma dinâmica diferenciada, com aumentos nessa desigualdade nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, estabilidade na região Norte, e reduções nas regiões Sudeste e Sul.

Por sua vez, a análise por grupos etários é particularmente relevante, pois diferentes faixas etárias enfrentam desafios distintos e possuem necessidades específicas. Nesse contexto, as crianças são especialmente vulneráveis devido à dependência econômica e à necessidade de acesso a serviços básicos, como educação e saúde. Os jovens, por outro lado, enfrentam desafios relacionados à educação e a inserção no mercado de trabalho, enquanto adultos e idosos podem lidar com questões de desemprego, aposentadoria e saúde. Na presente análise consideramos um recorte etário formando cinco grupos, a saber: de 0 a 14 anos, de 15 a 29 anos, de 30 a 49 anos, de 50 a 64 anos e o último grupo formado por indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos.

Tabela 3. Incidência de extrema pobreza por grupo etário e distribuição
por grupo etário na população total e na população em extrema pobreza.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

Brasil

20,7

23,2

30,1

15,9

10,2

20,3

22,5

30,2

16,2

10,8

Centro-Oeste

22,1

23,9

30,7

14,9

8,4

21,0

23,7

31,1

15,3

8,9

Nordeste

22,3

24,6

29,5

14,3

9,3

21,9

23,3

29,8

15,1

10,0

Norte

25,3

27,1

28,6

12,4

6,6

24,6

25,9

29,1

13,1

7,3

Sudeste

18,8

22,0

30,5

17,2

11,5

18,5

21,3

30,4

17,6

12,2

Sul

19,6

21,6

30,3

17,6

11,0

19,4

21,8

30,2

16,9

11,7

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

Brasil

33,2

25,5

26,7

12,0

2,6

33,6

23,3

26,7

12,4

4,0

Centro-Oeste

30,9

23,1

25,1

16,8

4,1

32,1

21,8

25,3

16,5

4,3

Nordeste

33,6

26,4

28,3

10,2

1,4

34,8

25,0

28,1

10,0

2,0

Norte

36,4

29,5

22,9

9,7

1,5

41,3

24,2

24,2

8,9

1,3

Sudeste

31,6

22,4

26,4

15,0

4,6

28,5

20,1

25,9

17,2

8,2

Sul

29,0

22,2

22,7

18,5

7,6

25,6

18,5

22,2

22,5

11,2

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

Brasil

14,5

10,0

8,1

6,8

2,4

7,4

4,6

3,9

3,4

1,6

Centro-Oeste

5,5

3,8

3,2

4,4

1,9

2,8

1,7

1,5

2,0

0,9

Nordeste

26,6

19,0

17,0

12,5

2,7

14,5

9,8

8,6

6,0

1,8

Norte

20,5

15,5

11,4

11,1

3,3

10,6

5,9

5,3

4,3

1,2

Sudeste

9,1

5,5

4,7

4,7

2,1

3,9

2,4

2,1

2,5

1,7

Sul

4,8

3,3

2,4

3,4

2,2

2,2

1,4

1,2

2,2

1,6

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Ao avaliar a composição etária, de acordo com os grupos definidos, observamos que as faixas etárias mais jovens (0-14 e 15-29 anos) representam uma parcela significativa da população, tanto no agregado quanto na composição de todas as regiões. Essa característica também se reflete no perfil etário da população em extrema pobreza, onde a participação dos mais jovens é ainda mais pronunciada. Apesar de não representarem mais o grupo de maior participação na população geral, as crianças e adolescentes até 14 anos compõem o grupo de maior participação entre os extremamente pobres. Isso é particularmente evidente no indicador de incidência da pobreza.

Para este recorte, também é bastante perceptível que a incidência de pobreza diminui conforme avançamos para os grupos de maior idade. Indivíduos adultos tendem a alcançar maior estabilidade no mercado de trabalho, e possuem a oportunidade de acumular maior volume de recursos ao longo de suas vidas. Além disso, a grande maioria dos idosos podem contar com as aposentadorias e outros benefícios sociais que fornecem uma fonte de renda estável. No caso do grupo formado exclusivamente por idosos (65 anos ou mais) a diferença em relação aos demais grupos é significativa. Em 2023, a estatística pontual de proporção de idosos em situação de extrema pobreza para o Brasil foi de 1,63%, e não superou o patamar de 2% em nenhum recorte regional.

Área de residência: urbana e rural

A maioria da população brasileira vive em áreas urbanas. Isso é evidenciado em todas as regiões, embora seja importante destacar que o Nordeste (24,9% em 2023) e o Norte (21,5% em 2023) tenham uma maior proporção de suas populações vivendo em áreas rurais em comparação com as demais regiões. Mesmo que os anos avaliados representem um período muito curto, tem-se uma pequena evidência da tendência de redução da população rural, observada nas últimas décadas. Entre 2021 e 2023, há uma ligeira redução na proporção da população vivendo em áreas rurais em todas as regiões. E foi na região Nordeste que observamos a maior redução relativa (de 1,7 pontos percentuais).

Ao avaliar a população em extrema pobreza, os dados mostram que ela está mais concentrada em áreas rurais quando comparada à população total, indicando que a pobreza extrema é relativamente mais prevalente nas áreas rurais. Se em 2023 a parcela da população vivendo em áreas rurais era de 14,3%, no recorte da população em extrema pobreza essa proporção era de 31,1%. Na região Nordeste, que concentra o maior contingente populacional em situação de extrema pobreza, tem-se que 42,1% dessa população residia em áreas rurais.

 Essa maior prevalência em áreas rurais se torna ainda mais perceptível quando verificamos as estimativas de incidência de extrema pobreza, que é significativamente maior nas áreas rurais em todas as regiões e para ambos os anos considerados na análise.

Tabela 4. Incidência de extrema pobreza por área (urbana e rural)
e distribuição por área na população total e na população em extrema pobreza.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

rural

urbana

rural

urbana

Brasil

14,3

85,7

12,8

87,2

Centro-Oeste

9,0

91,0

7,5

92,5

Nordeste

24,9

75,1

23,2

76,8

Norte

21,5

78,5

20,2

79,8

Sudeste

7,1

92,9

5,9

94,1

Sul

13,9

86,1

12,3

87,7

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

rural

urbana

rural

urbana

Brasil

31,1

68,9

28,7

71,3

Centro-Oeste

6,2

93,8

11,0

89,0

Nordeste

42,1

57,9

37,4

62,6

Norte

39,9

60,1

42,3

57,7

Sudeste

10,1

89,9

7,1

92,9

Sul

13,1

86,9

14,5

85,5

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

rural

urbana

rural

urbana

Brasil

19,7

7,3

10,0

3,6

Centro-Oeste

2,7

4,0

2,7

1,8

Nordeste

29,8

13,6

14,7

7,4

Norte

26,5

10,9

13,2

4,6

Sudeste

7,7

5,2

3,0

2,5

Sul

3,0

3,2

2,0

1,6

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

A redução na incidência de extrema pobreza entre 2021 e 2023 é observada tanto em áreas rurais quanto urbanas, embora a redução seja mais acentuada nas áreas rurais. Se a pobreza extrema em áreas urbanas diminuiu 3,7 pontos percentuais entre 2021 e 2023, em áreas rurais a redução foi de 9,7 pontos percentuais. Na região Nordeste a redução observada em áreas rurais foi ainda mais significativa, de 15,1 pontos percentuais.

Nível educacional

Para construir um perfil segundo níveis de escolaridade, adotamos um recorte etário para indivíduos com 25 anos ou mais de idade. O propósito é considerar ao máximo indivíduos adultos, com idade suficiente para terem concluído as etapas de escolaridade consideradas.

Os dados de 2023 mostram que aproximadamente 80% da população brasileira possui escolaridade até o ensino médio (EM) completo. Contudo, a participação de pessoas que possuem o ensino fundamental (EF) incompleto ainda é muito relevante, em torno de 33%. Com ensino superior completo, temos 20% da população.

Quando consideramos a distribuição segundo o nível de escolaridade na população em extrema pobreza, temos que a maioria (51,1%) das pessoas nessa situação possuem o EF incompleto. O que reforça a ideia de que a pobreza (e extrema pobreza) está fortemente associada à baixa escolaridade. Trata-se na verdade de uma série de efeitos, em que a baixa escolaridade condiciona a forma como os indivíduos vão acessar o mercado de trabalho e auferir renda ao longo de toda a vida. E no agregado, a baixa escolaridade se traduz em baixa produtividade da economia, com efeitos negativos sobre o crescimento e o desenvolvimento econômico.

A distribuição em nível regional segue um padrão, mas existem variações importantes. Na região Sudeste a proporção de pessoas com EF incompleto é de 27,6%, enquanto a de pessoas com ES completo é de 23,4%. Na região Nordeste a proporção de pessoas com EF incompleto é de 42,3%, e a de pessoas com ES completo é de 13,2%,

Quando consideramos os indicadores de incidência de extrema pobreza, temos que estes são significativamente maiores entre aqueles com EF incompleto, tanto a nível nacional quanto regional. Há, contudo, uma redução significativa na incidência de extrema pobreza entre 2021 e 2023 em todos os níveis de escolaridade, embora a redução seja mais acentuada entre aqueles com níveis educacionais mais baixos.

Tabela 5. Incidência de extrema pobreza por nível de escolaridade
e distribuição segundo níveis de escolaridade na população total
e na população em extrema pobreza.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

Brasil

33,8

13,0

34,1

19,2

32,8

12,5

34,7

20,0

Centro-Oeste

31,1

13,6

32,8

22,5

29,6

12,4

33,7

24,4

Nordeste

43,5

12,4

31,8

12,4

42,3

12,0

32,4

13,2

Norte

37,1

12,7

35,0

15,1

35,4

12,0

35,7

16,9

Sudeste

28,5

12,8

36,0

22,8

27,6

12,3

36,6

23,4

Sul

32,2

14,5

32,6

20,8

32,2

13,9

33,2

20,7

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

Brasil

51,1

17,9

26,2

4,7

51,0

16,1

27,6

5,3

Centro-Oeste

47,1

17,0

28,3

7,6

39,9

17,0

34,3

8,9

Nordeste

58,3

16,7

22,6

2,4

56,2

15,5

25,3

2,9

Norte

53,9

15,9

26,1

4,1

54,3

14,2

27,9

3,7

Sudeste

38,9

21,2

32,4

7,5

41,4

17,5

31,4

9,7

Sul

43,2

18,3

26,7

11,7

51,6

16,7

25,9

5,9

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

Brasil

10,4

9,4

5,3

1,7

5,2

4,3

2,7

0,9

Centro-Oeste

5,0

4,2

2,9

1,1

2,1

2,1

1,6

0,6

Nordeste

18,2

18,3

9,6

2,7

8,9

8,7

5,3

1,5

Norte

15,1

13,0

7,7

2,8

6,8

5,3

3,5

1,0

Sudeste

5,9

7,1

3,9

1,4

3,2

3,0

1,8

0,9

Sul

3,5

3,3

2,2

1,5

2,5

1,9

1,2

0,4

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

A alta incidência de extrema pobreza entre aqueles com EF incompleto destaca a importância da educação como um fator crítico para reduzir a pobreza. O acesso inadequado à educação limita as oportunidades econômicas individuais. O acesso à educação de qualidade é um dos meios mais eficazes para romper o ciclo da pobreza.

Uma análise mais detalhada para o Nordeste

Considerando a análise realizada acima, nesta seção do artigo dedicamos uma atenção especial à região Nordeste. A região Nordeste concentra 55% da população em situação de extrema pobreza no Brasil (em 2023, 5,2 milhões de pessoas dentre as 9,5 milhões em todo o país). Entre 2021 e 2023, 9,6 milhões de pessoas saíram da situação de extreme pobreza no Brasil, no Nordeste essa redução foi de 4,8 milhões, equivalente a metade da redução observada no país.

Tabela 6. Incidência de extrema pobreza por sexo e distribuição por sexo na população total e na população em extrema pobreza – Estados do Nordeste.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Maranhão

49,1

50,9

48,1

51,9

Piauí

48,8

51,2

48,5

51,5

Ceará

47,7

52,3

48,6

51,4

Rio Grande do Norte

48,6

51,4

48,4

51,6

Paraíba

49,0

51,0

47,9

52,1

Pernambuco

48,6

51,4

48,0

52,0

Alagoas

47,8

52,2

47,6

52,4

Sergipe

48,0

52,0

48,3

51,7

Bahia

48,4

51,6

48,1

51,9

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Maranhão

49,1

50,9

47,6

52,4

Piauí

47,1

52,9

46,0

54,0

Ceará

46,3

53,7

52,0

48,0

Rio Grande do Norte

46,9

53,1

50,2

49,8

Paraíba

47,8

52,2

47,5

52,5

Pernambuco

46,6

53,4

46,8

53,2

Alagoas

47,0

53,0

47,0

53,0

Sergipe

43,1

56,9

45,2

54,8

Bahia

47,5

52,5

45,9

54,1

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Maranhão

22,8

22,8

12,1

12,4

Piauí

15,6

16,7

7,6

8,4

Ceará

15,3

16,2

10,0

8,7

Rio Grande do Norte

14,4

15,4

6,6

6,1

Paraíba

16,4

17,2

7,3

7,5

Pernambuco

18,7

20,3

9,1

9,5

Alagoas

16,1

16,6

8,7

9,0

Sergipe

13,6

16,6

7,6

8,6

Bahia

16,7

17,4

8,4

9,2

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

De uma forma geral, a extrema pobreza se distribui de forma semelhante entre homens e mulheres nos estados nordestino, isso com respeito a distribuição na população. Entretanto, Sergipe tem uma proporção mais elevada na região de mulheres nessa condição, ou seja, 56,9% das pessoas extremamente pobres nesse estado são mulheres em 2021 e 54,8% em 2023. O Ceará e o Rio Grande do Norte são os únicos estados da região onde na distribuição da população em extrema pobreza em 2023 os homens são maioria,

No caso do Ceará, a mudança foi proporcionalmente mais intensa. Vale ressaltar que grande parte das famílias na pobreza são chefiadas por mulheres. Por fim, no Maranhão a redução ocorre mais que proporcionalmente entre os homens, além do que, continua sendo o estado que apresenta as taxas de extrema pobreza mais elevada da região.

Tabela 7. Incidência de extrema pobreza por cor/raça e distribuição por cor/raça
na população total e na população em extrema pobreza – Estados do Nordeste.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

branco

preto ou pardo

branco

preto ou pardo

Maranhão

17,4

82,6

18,1

81,9

Piauí

20,1

79,9

20,7

79,3

Ceará

25,8

74,2

26,1

73,9

Rio Grande do Norte

39,3

60,7

38,1

61,9

Paraíba

32,6

67,4

34,1

65,9

Pernambuco

31,8

68,2

32,8

67,2

Alagoas

28,8

71,2

27,6

72,4

Sergipe

22,2

77,8

23,3

76,7

Bahia

19,2

80,8

19,7

80,3

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

branco

preto ou pardo

branco

preto ou pardo

Maranhão

11,4

88,6

13,0

87,0

Piauí

15,1

84,9

17,8

82,2

Ceará

21,3

78,7

18,5

81,5

Rio Grande do Norte

27,5

72,5

31,6

68,4

Paraíba

29,9

70,1

29,2

70,8

Pernambuco

27,2

72,8

26,0

74,0

Alagoas

28,6

71,4

19,4

80,6

Sergipe

17,3

82,7

11,5

88,5

Bahia

16,8

83,2

13,2

86,8

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

branco

preto ou pardo

branco

preto ou pardo

Maranhão

14,9

24,4

8,8

13,0

Piauí

12,1

17,1

6,9

8,3

Ceará

13,0

16,8

6,6

10,3

Rio Grande do Norte

10,4

17,8

5,2

7,0

Paraíba

15,4

17,4

6,3

7,9

Pernambuco

16,7

20,8

7,4

10,3

Alagoas

16,2

16,4

6,2

9,9

Sergipe

11,8

16,1

4,0

9,3

Bahia

14,9

17,6

5,9

9,5

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Analisando a caracterização da extrema pobreza em termos de cor/raça, a distribuição da extrema pobreza entre pretos e pardos é proporcionalmente maior. Quando se considera a distribuição populacional, Sergipe apresenta na maior diferença proporcional (em 2023, 76,7% de sua população era representada por pretos e pardos, entre os extremamente pobres, este grupo representava 88,5%).

Considerando a redução de 2021 a 2023, em termos relativos ela ocorreu de forma mais intensa entre os brancos nos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia e Ceará. Por exemplo, em 2021, 28,6% dos extremamente pobres em Alagoas eram brancos; em 2023, essa proporção caiu para 19,4%.

Tabela 8. Incidência de extrema pobreza por grupo etário e distribuição por grupo
etário na população total e na população em extrema pobreza – Estados do Nordeste.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

Maranhão

25,9

26,5

28,5

11,8

7,4

24,4

25,4

29,3

12,8

8,1

Piauí

22,5

24,4

27,6

15,9

9,6

20,8

23,6

29,3

15,7

10,5

Ceará

21,9

24,9

29,5

14,0

9,7

21,1

22,9

30,1

15,6

10,4

Rio Grande do Norte

20,7

24,1

30,2

15,7

9,2

21,6

22,5

29,1

15,6

11,3

Paraíba

22,3

23,9

28,8

15,7

9,3

21,9

21,8

30,9

15,0

10,3

Pernambuco

22,2

24,5

30,4

14,3

8,7

21,6

23,0

29,5

15,7

10,2

Alagoas

24,1

25,1

29,4

13,5

7,8

22,8

25,4

29,4

13,7

8,6

Sergipe

22,6

26,3

28,9

15,3

6,9

22,7

24,1

29,7

15,0

8,6

Bahia

20,9

23,6

29,8

14,8

10,9

21,3

22,7

29,9

15,5

10,6

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

Maranhão

36,9

27,7

26,6

7,5

1,3

35,3

27,1

27,0

9,2

1,3

Piauí

36,3

26,5

28,0

9,0

0,1

38,4

25,2

30,1

6,0

0,3

Ceará

32,3

27,3

29,3

10,1

1,0

33,1

24,1

30,7

9,8

2,3

Rio Grande do Norte

35,3

25,9

28,3

10,1

0,4

35,7

24,8

30,0

7,9

1,6

Paraíba

33,8

24,6

32,0

8,6

1,0

34,5

22,1

28,8

10,5

4,0

Pernambuco

32,6

26,4

28,7

10,0

2,3

34,9

24,8

27,7

10,4

2,2

Alagoas

34,0

26,6

26,7

11,4

1,3

36,7

24,5

27,2

9,8

1,7

Sergipe

33,3

28,6

25,8

11,0

1,4

41,1

24,7

23,8

8,7

1,7

Bahia

32,0

25,4

28,4

12,4

1,8

33,5

25,3

27,4

11,5

2,3

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

0-14

15-29

30-49

50-64

65+

Maranhão

32,5

23,8

21,3

14,5

3,9

17,7

13,0

11,3

8,8

2,0

Piauí

26,1

17,6

16,4

9,1

0,2

14,9

8,6

8,3

3,1

0,2

Ceará

23,3

17,4

15,7

11,4

1,7

14,6

9,8

9,5

5,9

2,0

Rio Grande do Norte

25,4

16,0

14,0

9,6

0,7

10,5

7,0

6,5

3,2

0,9

Paraíba

25,4

17,2

18,7

9,2

1,9

11,6

7,5

6,9

5,2

2,9

Pernambuco

28,7

21,1

18,5

13,7

5,1

15,1

10,0

8,8

6,2

2,0

Alagoas

23,1

17,3

14,8

13,8

2,7

14,2

8,5

8,2

6,3

1,8

Sergipe

22,3

16,5

13,5

10,9

3,1

14,6

8,3

6,5

4,7

1,6

Bahia

26,2

18,3

16,3

14,3

2,8

13,9

9,8

8,1

6,5

1,9

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Examinando a extrema pobreza por faixa etária, constata-se que ela está significativamente concentrada entre as crianças e jovens de 0 a 14 anos para todos os estados. Em outros termos, pode-se dizer que a incidência da extrema pobreza nessa faixa etária é mais que proporcional a composição da população nessa idade. Considerado o estado de Sergipe, em 2023, 22,7% da sua população tem de 0 a 14 anos. Entre os extremamente pobres essa proporção é de 41,1%, ou seja, 18,4 pontos percentuais acima.

No outro extrema da distribuição etária, a proporção de idosos acima de 65 anos na distribuição populacional já representava valores próximos dos 10% na maioria dos estados em 2023. Mas a proporção de idosos entre os mais pobres se revelou muito baixa e, em certos casos, residual (a maior proporção foi observada na Paraíba, 4%, e a menor no Piauí, 0,3%). Certamente, o sistema de aposentadoria e pensões, bem como o acesso a programas como o Benefícios de Prestação Continuada (BPC) devem exercer um papel fundamental na mitigação dessa situação entre os mais velhos.

Ademais, um ponto que chama atenção nessa caracterização é que apesar da incidência de extrema pobreza ser maior entre os mais jovens e ter reduzido entre eles, em todos os estados, a representação deste grupo etário entre os mais pobres não ocorreu de forma mais intensa, quando comparada com os outros grupos etários. Em 2021, no estado de Sergipe, 33,3% da população em extrema pobreza era representada pelo grupo de crianças e jovens até 14 anos; mas em 2023, essa proporção passou para 41,1%. A exceção observada foi o estado do Maranhão, em que essa representação dos mais jovens entre os extremamente pobres diminuiu de 36,9% para 35,3%.

Tabela 9. Incidência de extrema pobreza por área (urbana e rural) e distribuição por área
na população total e na população em extrema pobreza – Estados do Nordeste.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

rural

urbana

rural

urbana

Maranhão

28,8

71,2

28,3

71,7

Piauí

34,5

65,5

32,4

67,6

Ceará

22,4

77,6

21,5

78,5

Rio Grande do Norte

20,6

79,4

17,3

82,7

Paraíba

26,0

74,0

22,5

77,5

Pernambuco

18,0

82,0

15,6

84,4

Alagoas

22,9

77,1

21,8

78,2

Sergipe

23,6

76,4

21,4

78,6

Bahia

28,4

71,6

26,7

73,3

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

rural

urbana

rural

urbana

Maranhão

47,6

52,4

49,0

51,0

Piauí

61,7

38,3

57,3

42,7

Ceará

48,7

51,3

35,1

64,9

Rio Grande do Norte

37,0

63,0

28,2

71,8

Paraíba

41,2

58,8

39,5

60,5

Pernambuco

30,4

69,6

23,5

76,5

Alagoas

41,5

58,5

36,5

63,5

Sergipe

31,8

68,2

26,9

73,1

Bahia

42,2

57,8

39,6

60,4

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

rural

urbana

rural

urbana

Maranhão

37,6

16,8

21,2

8,7

Piauí

28,9

9,4

14,3

5,1

Ceará

34,4

10,4

15,2

7,7

Rio Grande do Norte

26,8

11,8

10,3

5,5

Paraíba

26,6

13,3

13,0

5,8

Pernambuco

33,0

16,6

14,0

8,5

Alagoas

29,7

12,4

14,8

7,2

Sergipe

20,4

13,5

10,2

7,5

Bahia

25,3

13,8

13,0

7,3

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Considerando a área de residência da população em situação de extrema pobreza, verifica-se que, em quase todos os estados, o maior contingente reside em áreas urbanas do Nordeste (6 dos 9 estados com proporção acima de 60%); com exceção do Piauí (57,3% residiam em áreas rurais). No entanto, a incidência de extrema pobreza se mostra maior na população residente em áreas rurais. No Ceará em 2023, apesar de 21,5% da sua população residir na zona rural, 35,1% do grupo mais vulnerável residia em domicílios rurais, uma diferença de 13,6 pontos percentuais. Em outra perspectiva, a maior incidência de extrema pobreza, entre os estados do Nordeste, ocorre na zona rural do Maranhão, com 37,5% em 2021 e 21,2% em 2023.

Quanto a redução ocorrida de 2021 a 2023, verifica-se que ela ocorreu de forma mais intensa nas áreas rurais, com destaque para o Ceará (redução de 19,2 pontos percentuais, de 34,8% para 15,22%) e Pernambuco (redução de 18,9 pontos percentuais). Em termos da distribuição relativa entre os mais pobres, as áreas rurais perderam participação relativa em quase todos os estados, a exceção foi o Maranhão, onde a proporção de extremamente pobres residindo em áreas rurais aumentou de 47,6% para 49%.

Tabela 10. Incidência de extrema pobreza por nível de escolaridade e distribuição segundo
níveis de escolaridade na população total e na população em extrema pobreza – Estados do Nordeste.

Distribuição (população total)

 

2021

2023

 

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

Maranhão

44,6

14,1

31,4

9,9

42,9

12,7

32,0

12,4

Piauí

49,9

10,9

26,0

13,2

45,5

12,0

27,5

14,9

Ceará

40,9

13,9

32,8

12,3

40,9

14,2

31,8

13,2

Rio Grande do Norte

40,9

11,3

30,9

16,9

40,3

12,0

32,1

15,7

Paraíba

49,2

12,0

25,3

13,6

46,8

11,5

27,5

14,2

Pernambuco

41,2

11,9

33,8

13,1

40,4

11,0

35,3

13,3

Alagoas

46,3

11,9

28,6

13,2

44,5

11,5

29,7

14,2

Sergipe

43,2

12,7

30,5

13,6

42,4

11,5

31,7

14,3

Bahia

43,1

11,8

34,1

11,0

42,3

11,4

34,4

11,9

Distribuição (população em extrema pobreza)

 

2021

2023

 

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

Maranhão

55,7

19,0

23,1

2,2

61,2

15,0

21,5

2,3

Piauí

65,4

14,0

18,1

2,5

60,4

14,9

20,2

4,5

Ceará

58,3

19,9

19,7

2,1

49,2

20,1

27,6

3,1

Rio Grande do Norte

59,7

15,8

22,4

2,0

56,2

19,4

22,4

2,0

Paraíba

66,5

18,2

13,5

1,8

63,3

12,3

20,3

4,0

Pernambuco

56,8

14,9

25,7

2,6

52,2

14,1

30,2

3,5

Alagoas

63,2

14,3

20,2

2,2

65,1

13,9

19,5

1,6

Sergipe

59,7

18,2

18,2

3,8

56,5

15,8

27,0

0,7

Bahia

55,8

15,3

26,1

2,7

56,2

14,4

26,4

3,0

Incidência da extrema pobreza

 

2021

2023

 

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

EF incompleto

EF completo

EM completo

ES completo

Maranhão

21,7

23,4

12,8

3,8

13,1

10,9

6,2

1,7

Piauí

15,5

15,2

8,2

2,3

7,1

6,7

3,9

1,6

Ceará

17,6

17,7

7,4

2,1

8,6

10,1

6,2

1,7

Rio Grande do Norte

16,0

15,3

8,0

1,3

6,2

7,2

3,1

0,6

Paraíba

17,9

20,1

7,1

1,8

7,7

6,1

4,2

1,6

Pernambuco

21,3

19,4

11,8

3,1

8,9

8,8

5,9

1,8

Alagoas

17,5

15,5

9,1

2,2

9,8

8,0

4,4

0,7

Sergipe

15,9

16,5

6,9

3,2

7,2

7,4

4,6

0,3

Bahia

17,0

17,0

10,0

3,3

8,8

8,4

5,1

1,7

Fonte: Elaboração própria com base nos dados
da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Por fim, a última caracterização considera a variável de nível educacional. Considerando o indicador de incidência de extrema pobreza como ponto de partida, verifica-se que ela está relacionada àqueles que possuem o nível de ensino mais baixo, o ensino fundamental incompleto. Considerando o exemplo da Paraíba, em 2023, era o estado com maior percentual da sua população com idade de 25 anos ou mais com ensino fundamental incompleto (46,8%). Ao mesmo tempo, 63,3% das pessoas em extrema pobreza tinham esse perfil educacional.

No outro de extremo da distribuição, as pessoas com ensino superior completo representavam uma parcela média de aproximadamente 14% entre os estados nordestinos. No entanto, representavam percentuais muito mais baixos no recorte de extremamente pobres, com uma proporção média de 2,7%. Isso evidencia, mais uma vez, a importância da educação na redução da pobreza. Noutro aspecto, dentre os estados do Nordeste, o Ceará apresentava a menor proporção de pessoas com ensino fundamental incompleto, tanto na população total, quanto no grupo de extremamente pobres.

Quanto a comparação entre os anos considerados, a redução de incidência de extrema pobreza foi observada em todos estados e níveis educacionais, com destaque para a redução relativa daqueles que possuíam até o ensino fundamental completo. Por sua vez, a representação dos menos escolarizados no grupo dos extremamente pobres apresentou redução na grande maioria dos estados, com destaque para a redução no Ceará (de 58,3% para 49,2%), enquanto nos estados do Maranhão, Alagoas e Bahia essa redução proporcional não ocorreu.

De uma forma geral, o que se observa nas evidências levantadas sobre a caracterização da extrema pobreza para os estados do Nordeste entre 2021 e 2023 é que seu perfil está relacionado com mais intensidade entre o seguinte grupo da população: mulheres, pessoas pretas e pardas, crianças e jovens, residentes em áreas urbanas (apesar da maior intensidade ser observada nas áreas rurais, existe uma maior concentração populacional nas áreas urbanas) e que possuem baixo nível educacional. Por outro lado, quando se examina essa caracterização em termos daqueles que saíram dessa condição no período analisado, percebe-se que não existe um padrão homogêneo na dinâmica dessa redução, ou seja, o perfil de quem saiu da extrema pobreza acaba sendo distinto entre os estados. Esse aspecto representa uma sinalização a respeito da importância de políticas públicas adequadas para cada localidade, que se adequem as dinâmicas regionais e ao padrão de redução de cada estado e grupo populacional.

Perfil da extrema pobreza em modelo estatístico

De forma a complementar a análise apresentada aqui, realizamos um exercício estatístico com finalidade exploratória de reforçar algumas associações estatísticas observadas. Para isso, realizamos a estimação de um modelo de regressão logística (um modelo logit), que é adequado para este tipo de análise uma vez que nos permite identificar quais variáveis possuem uma associação estatisticamente significante com a probabilidade de ocorrência de evento binário – no nosso caso, a probabilidade de um indivíduo estar em extrema pobreza. O exercício consiste em modelar as chances de um domicílio estar em situação de extrema pobreza em função do conjunto de variáveis que analisamos ao longo do artigo.

Para a estimação deste modelo estatístico fizemos alguns ajustes nas variáveis de forma a adequar melhor a modelagem, considerando características como sexo, cor/raça, idade e escolaridade do chefe dos domicílios ao qual os indivíduos da amostra pertencem. Consideramos variáveis regionais e a localização em área urbana ou rural. Também adicionamos uma variável para verificar a associação da situação de extrema pobreza com a presença de crianças e adolescentes até 14 anos nos domicílios da amostra, uma vez que, como vimos, trata-se de uma característica importante para a incidência de extrema pobreza.

Outra característica importante deste modelo para a análise aqui realizada é que podemos transformar cada coeficiente do modelo (de interpretação pouco didática) em uma medida conhecida como razão de chance (odds ratios), que possui uma interpretação mais intuitiva. A Figura 1 abaixo apresenta as estimativas das razões de chance para as variáveis consideradas.

Figura 1: Razões de chance do modelo logit para extrema pobreza

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE (2021 e 2023).

Todas as variáveis consideradas neste modelo foram estatisticamente relevantes ao nível de significância de 1%.

Vamos interpretar estas estatísticas. A razão de chance é sempre calculada tomando uma categoria da variável avaliada como referência. Por exemplo, a razão de chance para as mulheres tem como categoria de referência as chances dos homens. Assim, uma razão de chance de 1,56 para a variável “Mulher” significa que domicílios chefiados por mulheres têm 56% mais chances de estar em extrema pobreza quando comparados com os domicílios chefiados por homens (mantendo todas as outras características constantes entre os dois grupos).

Considerando os nossos resultados, razões de chance maiores do que a unidade, significam que a categoria avaliada possui maiores chances de estar em situação de pobreza, sempre em relação à categoria de referência. Como é o caso das mulheres reportado acima. Por sua vez, razões de chance menores do que a unidade, sinalizam que as categorias avaliadas possuem chances menores de estar em situação de pobreza, do que a categoria de referência. Por exemplo, nas nossas estimativas, ter ensino fundamental completo ou médio incompleto apresenta uma razão de chance de 0,81. Podemos assim, afirmar que domicílios cujo chefe completou o ensino fundamental ou tem o ensino médio incompleto reduz as chances de estar em extrema pobreza em 19% em comparação aos domicílios em que o chefe sequer completou o ensino fundamental. E nossos resultados mostram que quanto maior a escolaridade do chefe de domicílio, menores são as chances de extrema pobreza.

Dentre os resultados do nosso modelo, a maior razão de chance foi calculada para a variável “Domicílios com crianças (0-14anos)”, estimada em 1,6. Isso significa que domicílios com crianças de 0-14 anos têm 60% mais chances de estar em extrema pobreza em comparação a domicílios sem crianças.

De forma resumida, domicílios chefiados por mulheres, indivíduos pretos ou pardos, jovens (15-29) e os domicílios com crianças têm maiores chances de estar em situação de extrema pobreza. Assim como aqueles que se localizam na região Nordeste do país e em áreas rurais. Por fim, os domicílios que são chefiados por pessoas de maior escolaridade, estão associados a menores chances de estar em extrema pobreza.

Considerações finais

O artigo apresenta uma análise detalhada da extrema pobreza no Brasil, com um foco especial na região Nordeste. A análise inclui aspectos demográficos, educacionais, raciais, etários e regionais. As evidências obtidas são complementadas e reforçadas com os resultados de um exercício estatístico utilizando um modelo de regressão logística para explorar as associações entre essas variáveis e a incidência de extrema pobreza.

Os dados apresentados neste artigo permitem desenhar o perfil da população em extrema pobreza no Brasil sendo caracterizado por uma combinação de fatores demográficos, educacionais e regionais. A análise evidencia a persistência de desigualdades estruturais que afetam desproporcionalmente mulheres, pessoas pretas ou pardas, e residentes em áreas rurais, especialmente no Nordeste. O papel da educação na mitigação da pobreza se mostrou como central, e políticas públicas focadas na melhoria do acesso à educação de qualidade, bem como intervenções específicas para os grupos mais vulneráveis, são essenciais para avançar na redução da pobreza extrema no Brasil, em especial na região Nordeste.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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