Cenários

Pioram as perspectivas do crescimento global

16 out 2023

Embora a economia global tenha mostrado certa resiliência diante dos diversos choques nos últimos anos, as perspectivas de médio prazo são de baixo crescimento e menor convergência para o nível de renda dos países mais ricos. 

Esta semana foi divulgado pelo FMI o World Economic Outlook (WEO) de outubro. Além da análise de temas importantes para a economia global, foram atualizadas as projeções de crescimento econômico para o curto e médio prazo.

Começando pelas boas notícias, o relatório apresenta evidências de que aumentou a probabilidade de um pouso suave da economia global, com queda da inflação sem sacrifício significativo da atividade econômica.

Segundo as projeções do FMI, a inflação global deve desacelerar de 9,2% em 2022 para 5,9% este ano e 4,8% em 2024. Já o crescimento global deve diminuir de 3,5% em 2022 para 3% este ano, mantendo-se praticamente estável em 2024 (2,9%).

No entanto, as perspectivas para o crescimento global pioraram em relação a janeiro de 2022, quando o FMI projetava crescimento global de 3,8% em 2023 e 3,4% em 2024. O crescimento em 2023-2024 também deve ficar bem abaixo da média entre 2000 e 2019 (3,8%).

As projeções de médio prazo (5 anos à frente) também não são animadoras, situando-se em 3% em 2028. Isso representa uma queda considerável em comparação com as projeções de médio prazo de 15 anos atrás (4,9%). Trata-se de uma queda generalizada, abrangendo as 10 maiores economias e 81% dos países. Da redução de 1,9 pontos percentuais (p.p.), as economias avançadas devem contribuir com 0,8 p.p., enquanto as economias emergentes e em desenvolvimento contribuem com 1,1 p.p.

Embora a redução do crescimento populacional tenha contribuído para o declínio das projeções de crescimento global de médio prazo nos últimos 15 anos, cerca de 3/4 desta queda foi resultado de uma piora nas perspectivas de crescimento da renda per capita.

Para entender melhor os determinantes da queda das projeções de crescimento da renda per capita, o WEO decompõe a projeção de crescimento da renda per capita em variações do capital por trabalhador, produtividade total dos fatores (PTF), taxa de participação da força de trabalho (incluindo mudanças na razão entre a população em idade ativa e a população total) e taxa de emprego (razão entre a população ocupada e a força de trabalho).

Para as economias avançadas, a redução do crescimento da renda per capita nas projeções recentes deve-se principalmente a um menor crescimento da PTF, seguido pela redução da taxa de participação. No caso das economias emergentes e em desenvolvimento, a redução do crescimento da PTF também é o principal determinante, seguido da desaceleração da acumulação de capital por trabalhador.

Além de menor crescimento global a médio prazo, o WEO estima uma redução da taxa de convergência da renda per capita dos países mais pobres para o nível de renda das economias mais ricas. Enquanto 15 anos atrás o FMI projetava que os países mais pobres iriam crescer a uma taxa anual 0,9 p.p. acima dos mais ricos, para os próximos 5 anos essa diferença deve ser de 0,5 p.p.

Isso significa que as economias emergentes e em desenvolvimento levarão 130 anos para reduzir pela metade a distância de renda per capita para as economias avançadas, bem acima da estimativa de 80 anos feita 15 anos atrás.

Essas estimativas dão um peso maior a países mais populosos que têm crescido rapidamente, como China e Índia, o que tende a superestimar o grau de convergência. De fato, os resultados obtidos com base em pesos iguais para todos os países indicam que não haverá convergência no médio prazo.

Em resumo, embora a economia global tenha mostrado certa resiliência diante dos diversos choques nos últimos anos (pandemia, guerra da Ucrânia), as perspectivas de médio prazo são de baixo crescimento e menor convergência.

É possível que a inteligência artificial generativa contribua para uma aceleração do crescimento. No entanto, quando se leva em consideração a maior probabilidade de choques geopolíticos e climáticos, assim como o aumento da dívida pública em vários países, provavelmente teremos muitas turbulências nos próximos anos.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 13/10/2023.

Comentários

Roberto Fonte
Caros, Excelente artigo, gostaria de receber informações mais detalhadas acerca World Economic Outlook (WEO)..., é possível?

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