Macroeconomia

Populismo deve perder na França, mas há riscos

25 abr 2017

Com as óbvias exceções, o resultado da eleição de domingo na França deixou muita gente feliz. Porém, poucos pareciam tão eufóricos como os mercados de apostas e as empresas de pesquisa de opinião. 

Afinal de contas, depois de duas grandes eleições – Brexit, no Reino Unido, e Trump, nos EUA – em que elas erraram muito, desta vez o seu desempenho foi admirável. Como mostra a figura abaixo, copiada do Financial Times, os erros foram pequenos e podem ser atribuídos a tendências que vinham em curso nos últimos dias, de queda da extrema direita e alta da extrema esquerda. 

Não é pouca coisa, considerando que até a véspera da eleição um quarto dos eleitores se dizia indeciso e havia dúvidas quanto ao grau de absenteísmo eleitoral, que nos últimos anos variou entre 15% e 25% do eleitorado. Sem falar, claro, do atentado semana passada em Paris.

Em que pese os resultados terem confirmado tão de perto as previsões, o mercado financeiro reagiu positiva e significativamente ao resultado, com alta do euro, forte valorização das ações dos bancos e queda dos juros nos títulos da dívida pública francesa. Mundo afora as bolsas subiram, inclusive no Brasil.

O motivo para toda essa valorização dos ativos franceses foi a percepção de que Emmanuel Macron deve vencer com folga o segundo turno das eleições, em 7 de maio, afastando o risco de que a França saia da União Europeia e da Área do euro, como ainda promete fazer Marine le Pen, candidata da Frente Nacional, que também passou para o segundo turno. E, aliás, que também prometia fazer Jean-Luc Mélechon, que concorreu pela extrema esquerda, mostrando que às vezes os extremos de fato se atraem!

A provável vitória de Macron mês que vem deve reforçar a boa dinâmica econômica europeia, que vem se beneficiando de uma aceleração do crescimento e queda do desemprego. A periferia europeia deve ser especialmente beneficiada com a redução do risco de populismo, já sinalizado na eleição holandesa. A própria recuperação global será reforçada, acelerando a normalização monetária, que vai tornar os bancos mais lucrativos.

Ainda assim, há dois riscos que Macron ainda precisa superar:

  1. A vitória de Marine Le Pen não está totalmente descartada e suas chances podem melhorar em caso de um ataque terrorista de grande impacto. Há também o risco de que em vez de votar em Macron, republicanos e socialistas simplesmente se abstenham de votar em grande número.
  2. Macron pode se tornar presidente mas ter dificuldade de governar, se não conseguir formar uma boa base na eleição parlamentar de junho. Não é um risco pequeno, dada a falta de bases regionais do movimento iniciado por Macron, En marche!, apenas um ano atrás. Os Socialistas, pela centro-esquerda, e os Republicanos, pela centro-direita, vão provavelmente ser mais competitivos nessas eleições.

O mais provável, porém, é que Macron consiga não só vencer como também formar uma coalizão parlamentar de centro, liderada pelo seu En Marche! ou pelos Republicanos. Com isso avançará com dois objetivos centrais: promover reformas estruturais para melhorar o ambiente de negócios na França e fortalecer a aliança com a Alemanha em torno de uma União Europeia crescentemente integrada. É um cenário positivo, regional e globalmente.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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