Populismo deve perder na França, mas há riscos
Com as óbvias exceções, o resultado da eleição de domingo na França deixou muita gente feliz. Porém, poucos pareciam tão eufóricos como os mercados de apostas e as empresas de pesquisa de opinião.
Afinal de contas, depois de duas grandes eleições – Brexit, no Reino Unido, e Trump, nos EUA – em que elas erraram muito, desta vez o seu desempenho foi admirável. Como mostra a figura abaixo, copiada do Financial Times, os erros foram pequenos e podem ser atribuídos a tendências que vinham em curso nos últimos dias, de queda da extrema direita e alta da extrema esquerda.
Não é pouca coisa, considerando que até a véspera da eleição um quarto dos eleitores se dizia indeciso e havia dúvidas quanto ao grau de absenteísmo eleitoral, que nos últimos anos variou entre 15% e 25% do eleitorado. Sem falar, claro, do atentado semana passada em Paris.
Em que pese os resultados terem confirmado tão de perto as previsões, o mercado financeiro reagiu positiva e significativamente ao resultado, com alta do euro, forte valorização das ações dos bancos e queda dos juros nos títulos da dívida pública francesa. Mundo afora as bolsas subiram, inclusive no Brasil.
O motivo para toda essa valorização dos ativos franceses foi a percepção de que Emmanuel Macron deve vencer com folga o segundo turno das eleições, em 7 de maio, afastando o risco de que a França saia da União Europeia e da Área do euro, como ainda promete fazer Marine le Pen, candidata da Frente Nacional, que também passou para o segundo turno. E, aliás, que também prometia fazer Jean-Luc Mélechon, que concorreu pela extrema esquerda, mostrando que às vezes os extremos de fato se atraem!
A provável vitória de Macron mês que vem deve reforçar a boa dinâmica econômica europeia, que vem se beneficiando de uma aceleração do crescimento e queda do desemprego. A periferia europeia deve ser especialmente beneficiada com a redução do risco de populismo, já sinalizado na eleição holandesa. A própria recuperação global será reforçada, acelerando a normalização monetária, que vai tornar os bancos mais lucrativos.
Ainda assim, há dois riscos que Macron ainda precisa superar:
- A vitória de Marine Le Pen não está totalmente descartada e suas chances podem melhorar em caso de um ataque terrorista de grande impacto. Há também o risco de que em vez de votar em Macron, republicanos e socialistas simplesmente se abstenham de votar em grande número.
- Macron pode se tornar presidente mas ter dificuldade de governar, se não conseguir formar uma boa base na eleição parlamentar de junho. Não é um risco pequeno, dada a falta de bases regionais do movimento iniciado por Macron, En marche!, apenas um ano atrás. Os Socialistas, pela centro-esquerda, e os Republicanos, pela centro-direita, vão provavelmente ser mais competitivos nessas eleições.
O mais provável, porém, é que Macron consiga não só vencer como também formar uma coalizão parlamentar de centro, liderada pelo seu En Marche! ou pelos Republicanos. Com isso avançará com dois objetivos centrais: promover reformas estruturais para melhorar o ambiente de negócios na França e fortalecer a aliança com a Alemanha em torno de uma União Europeia crescentemente integrada. É um cenário positivo, regional e globalmente.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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