Produtividade

Produtividade continua abaixo do nível pré-pandemia

27 jun 2022

Dados divulgados recentemente pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli mostram queda em todas medidas de produtividade do trabalho no 1º tri/2022 ante 1º tri/2021. Tudo indica que haverá queda da produtividade este ano. 

Após dois anos de comportamento errático da produtividade do trabalho, com forte elevação em 2020 e queda em 2021 na maioria dos países, a expectativa de alguns analistas para 2022 era mais otimista. Especialmente no caso das economias avançadas, o aumento na utilização de tecnologias de digitalização durante a pandemia teria o potencial de acelerar o crescimento da produtividade.

No entanto, os dados referentes ao primeiro trimestre não são animadores. Nos Estados Unidos, a produtividade por hora trabalhada teve queda anualizada de 7,3% em relação ao trimestre anterior, refletindo uma queda de 2,3% do valor adicionado e uma elevação de 5,4% das horas trabalhadas. Em relação ao primeiro trimestre de 2021, a produtividade caiu 0,6%, em consequência de um aumento maior das horas trabalhadas (4,8%) em comparação com o valor adicionado (4,2%).

No Reino Unido, a produtividade por hora trabalhada teve queda tanto em relação ao trimestre anterior (-0,7%) como em relação ao primeiro trimestre do ano passado (-0,8%). Os dados mostram que no primeiro trimestre deste ano a produtividade por hora trabalhada estava cerca de 1,8% acima do nível pré-pandemia, o que corresponde ao patamar em que estaria se sua trajetória de crescimento não tivesse sido interrompida pela pandemia.

Para o Brasil, os dados divulgados recentemente pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE mostram queda em todas as medidas de produtividade do trabalho no primeiro trimestre de 2022 em relação ao primeiro trimestre de 2021. Enquanto que a medida que utiliza as horas efetivamente trabalhadas teve redução de 8,2%, os indicadores que consideram as horas habitualmente trabalhadas e o número de pessoas ocupadas tiveram quedas de 7,2% e 6,9%, respectivamente.

Quando comparamos com o trimestre imediatamente anterior, houve queda na produtividade por pessoal ocupado (-0,4%) e na produtividade por hora habitualmente trabalhada (-0,8%). No caso da produtividade por hora efetivamente trabalhada houve um avanço de 0,5% na margem.

Esses resultados indicam que a elevação da produtividade em 2020 foi temporária, tendo sido revertida ao longo de 2021 e no início de 2022, apesar da modesta recuperação da produtividade por horas efetivas.

Este padrão transitório fica particularmente evidenciado quando consideramos a evolução da trajetória da produtividade do trabalho desde o quarto trimestre de 2019. Após um salto expressivo no segundo trimestre de 2020, a produtividade por horas efetivas desacelerou nos trimestres seguintes. Em função disso, no primeiro trimestre de 2022 esta medida encontrava-se 0,7% abaixo do nível pré-pandemia. Na mesma base de comparação, a produtividade por hora habitualmente trabalhada e a produtividade por pessoal ocupado estavam 0,9% e 0,2% abaixo do nível pré-pandemia, respectivamente.

Podemos ainda constatar que no primeiro trimestre deste ano a produtividade do trabalho estava de volta à tendência observada entre o primeiro trimestre de 2017 e o quarto trimestre de 2019. No entanto, é importante ressaltar que durante esse período a produtividade já apresentava uma tendência de queda, que foi temporariamente interrompida pela elevação atípica observada em 2020.

Em resumo, tanto para o Brasil como para as economias avançadas, as evidências indicam que a produtividade do trabalho retornou à tendência pré-pandemia. No caso dos países desenvolvidos, essa não é uma boa notícia, já que a produtividade crescia pouco. Mas no caso do Brasil é ainda pior, pois a produtividade estava em queda.

As perspectivas de curto prazo para o mundo não são boas devido ao agravamento da disrupção nas cadeias globais de valor e o aumento da incerteza decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia. No caso do Brasil somam-se ainda as incertezas fiscais e eleitorais. Tudo indica que teremos nova queda da produtividade este ano.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 24/06/2022.

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