Cenários

Produtividade cresce há três trimestres

26 dez 2023

Após a disrupção da pandemia, no final do ano passado a produtividade do trabalho estava de volta à trajetória de queda observada entre 2017 e 2019. Mas em 2023 surgiram alguns sinais de uma mudança positiva na produtividade. 

Após a disrupção resultante da pandemia, no quarto trimestre do ano passado a produtividade do trabalho estava de volta à trajetória de queda observada entre 2017 e 2019. Em 2023, no entanto, surgiram alguns sinais de uma mudança positiva na trajetória da produtividade.

Segundo os dados divulgados semana passada pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE, a produtividade por hora efetiva teve aumento de 2,3% no terceiro trimestre em comparação com o mesmo trimestre de 2022. Isso representa a terceira alta seguida este ano, o que não acontecia desde 2017 (com exceção do período atípico da pandemia), e coloca o indicador 2,6% acima do nível pré-pandemia.

Embora esse bom desempenho tenha resultado em grande medida do crescimento extraordinário da produtividade da agropecuária, nos últimos dois trimestres a indústria e o setor de serviços também registraram aumentos. No caso dos serviços, a variação positiva tem sido modesta, mas contrasta favoravelmente com o desempenho negativo que se verificava desde o primeiro trimestre de 2021.

Uma análise mais desagregada mostra que, em 2023, setores de produtividade mais elevada, como indústria extrativa mineral, intermediação financeira e serviços industriais de utilidade pública, têm apresentado forte expansão, o que contribuiu para o crescimento da produtividade agregada. Esse padrão é bem diferente do observado em 2022, quando setores menos produtivos, como serviços de alimentação e hospedagem, tiveram crescimento elevado.

Os dados também mostram que, após quedas sucessivas desde o quarto trimestre de 2020, a produtividade total dos fatores (PTF) cresceu este ano. No terceiro trimestre, a PTF aumentou 0,5% em relação ao mesmo período de 2022. Embora ainda esteja 3,9% abaixo do pré-pandemia, a melhoria este ano fez com que a PTF se situasse em um nível acima da tendência de queda observada entre 2017 e 2019.

Embora seja prematuro estabelecer se estamos diante de um processo de reversão da tendência de queda da produtividade do período anterior à pandemia, algumas evidências indicam que pode estar ocorrendo uma mudança de natureza mais duradoura.

Primeiro, o fato já mencionado de que os ganhos têm sido relativamente disseminados entre setores, incluindo o setor de serviços, que concentra dois terços do valor adicionado e cerca de 70% das horas trabalhadas. Embora o crescimento da produtividade da agropecuária seja importante, não será possível elevar a produtividade agregada de forma sustentada sem uma contribuição positiva do setor de serviços.

Segundo, embora tenha enfatizado neste artigo as medidas de produtividade que usam horas efetivas, os indicadores que utilizam horas habituais e população ocupada como medida do fator trabalho também têm tido bom desempenho. Além disso, o indicador de PTF do FGV IBRE desconta a contribuição positiva do capital humano, que é mensurado separadamente pelo Índice de Capital Humano (ICH). Isso indica que o aumento da PTF pode estar captando uma melhoria na eficiência da alocação dos fatores de produção.

Terceiro, a formalização do trabalho nos últimos anos pode ter contribuído para o aumento da produtividade. Em outubro, as ocupações formais estavam 8,9% acima do período pré-pandemia (fevereiro de 2020), enquanto as informais estavam apenas 1,5% acima.

Entre os trabalhadores formais, o grupo com maior crescimento foi o dos trabalhadores por conta própria com CNPJ (16,2%). Os trabalhadores com carteira também tiveram crescimento expressivo (9,6%) e, levando-se em consideração seu peso significativo na população ocupada, foram responsáveis pela maior parcela da geração de ocupações neste período.

Esse padrão é muito diferente do observado entre 2017 e 2019, que foi caracterizado por aumento da informalidade e crescimento elevado do número de trabalhadores por conta própria sem CNPJ. Isso ajuda a explicar a queda da produtividade que ocorreu naquele período.

Não está claro se essa melhora dos indicadores de produtividade vai continuar nos próximos trimestres, diante das incertezas fiscais que persistem e da desaceleração da economia que já está em curso. Mas as perspectivas parecem melhores que no final do ano passado, especialmente após a aprovação da reforma tributária.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 22/12/2023.

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