Macroeconomia

Qual será a meta de inflação de 2019?

28 mar 2017

O Banco Central do Brasil (BCB) puxou a discussão. Até o final do próximo mês de junho é o prazo de que dispõe o Conselho Monetário Nacional (CMN) para definir a meta de inflação para o ano de 2019. Disso os economistas e profissionais de mercado sabiam. O que ainda não estava claro era se o BCB estaria ou não disposto a definir um novo objetivo de crescimento dos preços. O Banco Central avisou que sim. Esclareceu que a discussão está na mesa.

Por certo não se encontra em debate a possibilidade de reduzir a meta de inflação para 3,0%, por exemplo, número que baliza a condução da política monetária em largo número de países. Algo bem mais modesto é provavelmente o que muitos têm mente. Meta de 4,25% ou 4,0% constituiriam as reais opções.

A esse respeito, a questão que se impõe tem a ver com a adequação de tal iniciativa num país onde a meta de 4,5% tem vigorado desde 2005, tendo sido cumprida em apenas um ou dois anos. Na verdade, a taxa média de crescimento dos preços de 2005 a 2016 foi de 5,9%. Esta talvez seja a principal razão pela qual as expectativas de inflação permaneceram desancoradas por tanto tempo. Para que o público acredite no cumprimento da meta é preciso que as taxas observadas de inflação fiquem ora acima, ora abaixo do objetivo oficial. Em poucas palavras, é fundamental que, na média, por período suficientemente longo, a inflação medida esteja bem perto da meta. Sendo assim, o ideal seria observarmos certo undershooting da meta por algum tempo, de maneira a que consolidássemos os 4,5% ao ano como algo realmente factível.

Inegavelmente, o quadro inflacionário atual mostra-se altamente satisfatório. Graças a uma combinação de severa recessão, adoção de medidas de correção do dramático desequilíbrio fiscal de longo prazo e competência do Banco Central no manejo da política monetária, pode-se afirmar que as expectativas de inflação estão ancoradas.

A questão relevante é que em meados do corrente ano o cumprimento da meta de 4,5% em 2017 será apenas uma promessa – o ano não terá acabado. De concreto, o CMN não terá como mostrar que a meta foi cumprida. Por conseguinte, parece prematuro reduzir o objetivo oficial. Ademais, note-se que ainda não deixamos para trás o pior quadro recessivo de nossa história. Em poucas palavras, a política monetária ora em curso tem sido excepcionalmente bem administrada, mas ela ainda não passou por seu teste mais desafiador, de conseguir ancorar as expectativas num ambiente de crescimento econômico e pressão sobre a capacidade produtiva do país.

Mas isso não quer dizer que a meta não será reduzida. São enormes as pressões sobre o governo para apresentar boas notícias. E eventual redução da meta seria vista como tal.

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