Cenários

Redução dos juros e boas expectativas de crescimento econômico movem expectativas dos consumidores

15 set 2023

Perguntas extras na Sondagem do Consumidor de agosto revelam que otimismo recente dos consumidores é impulsionado, principalmente, pela perspectiva de queda dos juros e boas expectativas de crescimento econômico.

A alta da confiança do consumidor nos últimos meses tem sido motivada tanto pela melhora da percepção sobre o presente quanto pelas perspectivas futuras. Mas enquanto o Índice de Situação Atual ainda registra um nível baixo em termos históricos, o Índice de Expectativas reflete otimismo em relação ao futuro ao atingir em agosto 107,6 pontos, o maior nível desde o início de 2019.

Gráfico 1 – Índice de Confiança, Situação Atual e Expectativas
dos consumidores

Fonte: FGV. Elaboração: Autores

Procurando entender a motivação para esta melhora das expectativas dos consumidores, foram incluídas, na edição de agosto da Sondagem do Consumidor do FGV IBRE, perguntas aos indivíduos que projetaram uma perspectiva favorável para a situação da economia local nos seis meses seguintes.

A primeira pergunta procurou entender quais fatores têm mais contribuído para as expectativas otimistas em relação à economia nos próximos meses, sendo que o entrevistado podia marcar quantas opções desejasse. Os resultados mostram que a maioria dos consumidores tiveram suas projeções alavancadas em função da expectativa de manutenção da tendência atual de queda dos juros (50,6%), fator que foi seguido de perto pelas boas perspectivas de crescimento da economia (48,4%). O resultado, contudo, não é homogêneo entre as diferentes faixas de renda familiar consultadas pela pesquisa.  Para as famílias de renda mais baixa, as faixas 1 e 2[1] do gráfico, as melhores perspectivas de crescimento foi o fator mais mencionado enquanto para as famílias de renda mais elevada (faixas 3 e 4[2]), a principal motivação foi a expectativa de queda dos juros.

Gráfico 2 – Quais fatores têm mais contribuído para
a melhora das perspectivas da economia nos próximos meses?
(Selecione todas as opções que se aplicam)
 

Para as faixas de renda mais baixas, boas perspectivas de crescimento econômico estão associadas a maiores oportunidades de trabalho e aumento da renda, uma vez que esta parcela da população muitas vezes não possui reserva de poupança para enfrentar tempos difíceis. Como o mercado de trabalho tem evoluído bem em 2023, este deve ser um dos fatores a influenciar as respostas deste grupo. Outro ponto favorável do atual quadro econômico com bastante reflexo nas avaliações das famílias de renda mais baixa é a redução da inflação, principalmente dos itens de consumo básico. Não à toa a segunda alternativa mais assinalada pela faixa de renda 1 foi o alívio dos preços dos itens de consumo e para a faixa de renda 2, as melhores perspectivas de mercado de trabalho.

Para melhor entender os fatores que podem estar influenciando a perspectiva mais favorável dos consumidores, foi pedido que os indivíduos escolhessem somente uma opção que refletisse o principal motivo para suas expectativas otimistas. A opção de resposta mais assinalada, em termos agregados, não foi em relação aos juros nem às perspectivas de crescimento, mas sobre uma maior confiança na política econômica do governo, ainda que este fator tenha sido escolhido por uma parcela pequena de consumidores (23,3%) e não tenha sido consensual entre as diferentes faixas de renda.

Gráfico 3 – Entre os fatores elencados acima, qual o principal para
a melhora das perspectivas da economia nos próximos meses?

Essa opção foi a mais citada nas faixas de renda 2 e 3, enquanto para os consumidores de renda mais baixa o alívio nos preços dos itens de consumo foi o fator mais apontado (25%), e para os de renda mais alta, (faixa 4), a expectativa para a queda dos juros tenha sido o maior impulsionador (30,5%) das melhores perspectivas para a economia.

A Sondagem de agosto incluiu também uma pergunta sobre como a perspectiva de queda dos juros nos próximos meses poderá beneficiar a situação financeira da família, neste quesito, o entrevistado também podia marcar quantas opções desejasse.

A opção majoritariamente marcada pelos entrevistados mostra que, na percepção dos consumidores, a queda das taxas de juros poderá influenciar em melhores perspectivas para os empregos e salários, dado o aumento de investimento por parte das empresas, melhorando assim a situação financeira das famílias. Essa opção foi marcada por 61,9% dos entrevistados e é disseminada entre as faixas de renda, superando consideravelmente a opção facilitará a compra de bens a prazo, a segunda mais assinalada, por 39,2% dos entrevistados.

Gráfico 4 – Como você acha que a perspectiva de queda dos juros poderá
beneficiar a situação financeira da sua família nos próximos meses?
(Selecione todas as opções que se aplicam)

Vale mencionar que, levando em conta as demais opções marcadas, as faixas de renda mais baixas veem como um claro benefício da redução da taxa de juros, a redução das despesas em dívidas existentes (38%) e a facilitação da renegociação de dívida(s) em atraso (35%).

A opção de resposta mais citada pelos consumidores das faixas de renda mais altas (3 e 4) foi a que aponta que os juros menores gerarão melhores perspectivas no mercado de trabalho, seguida pela facilitação das compras de bens a prazo.

Em suma, as perspectivas dos consumidores sobre a economia sinalizam otimismo para os próximos meses, com melhora gradual da avaliação sobre o cenário econômico atual. A alta das expectativas vem sendo motivada pelo início da redução da taxa de juros e melhores perspectivas de crescimento. Segundo os consumidores, a queda na taxa de juros vai beneficiar a situação financeira das famílias ao oferecer melhores perspectivas de emprego e salário, dado o incremento de investimento que poderá ser realizado pelas empresas. Vale mencionar, que o Índice de Confiança do Consumidor, apesar da melhora recente, ainda registra nível inferior ao de neutralidade, sinalizando que ainda há um caminho a ser percorrido até que o indicador retorne, e de forma sustentada, ao nível favorável de confiança.


[1] Faixa 1 – renda familiar mensal até R$2.100,00; Faixa 2 - Entre R$ 2.100,01 e R$ 4.800,00

[2] Faixa 3 - Entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600,00; Faixa 4 - Acima de R$ 9.600,01

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Comentários

Vera Lúcia Vice...
Muito bom Geórgia!
Anderson Pellegrino
Parabéns pela análise, Anna Carolina e Geórgia! Essencial para quem deseja interpretar a conjuntura econômica e elaborar cenários de curto prazo. Será muito útil para mim! Como sugestão para o futuro, seria fantástico termos uma análise da possível causalidade (ou até correlação) entre a evolução da expectativa do consumidor e o desempenho do consumo doméstico no país. Saudações!
Sergio Guarinho
O índice de expectativa e confiança refletem uma percepção no curtíssimo prazo sobre a economia, e principalmente o poder de consumo da população. Olhando tecnicamente o cenário de Agosto vinha de uma crescente expectativa de aumento do PIB; e estabilidade no IPCA e SELIC. Seria interessante ter uma pesquisa com a mesma metodologia em Dezembro para entendermos a percepção de otimismo após a entrada do 13o salário, porém com os principais impostos - IPVA, IPTU e IRPF.

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