Refresco da dominância política
Desde o início do mandato de Dilma – rigorosamente desde o dia seguinte à eleição de 2014 –, vivemos em um clima de dominância política.
O motivo é claríssimo: ao longo do processo eleitoral de 2014, foi ficando claro – apesar da campanha eleitoral ter escondido dos eleitores a grave crise fiscal em que nos encontramos – que seria (e será) necessário um forte ajuste fiscal, caso contrário a inflação retornará.
Como o mercado financeiro incorpora no preço dos ativos tudo que consegue enxergar à frente, sempre que o humor da política caminhava na direção de que a casa iria (ou irá) ser arrumada – por exemplo, quando da escolha de Joaquim Levy como ministro da Fazenda de Dilma ou quando ficou claro que haveria o impedimento da presidente após a frustração com sua capacidade política de conseguir construir apoio no Congresso para aprovar as reformas –, os preços dos ativos brasileiros (câmbio, risco país, bolsa e juros futuros) melhoravam (ou melhoram). Quando o humor da política caminhava na direção de que a casa não iria (ou irá) ser arrumada e, portanto, entraremos em algum momento à frente em situação de dominância fiscal e, consequentemente, seremos obrigados a aceitar a aceleração permanente da inflação, o preço dos ativos brasileiros piorava. Ativo brasileiro piorar significa real desvalorizado, risco país para cima, bolsa para baixo e juros futuros para cima.
O ponto da agenda mais importante – mas longe de ser o único – para arrumação da casa fiscal e, portanto, para impedir a volta da aceleração da inflação é a reforma previdenciária. O choque político de meados de maio deixou para mais longe a reforma. Após forte queda dos preços dos ativos brasileiros, o mercado devolveu parte da queda e tem se estabilizado.
Por que motivo o mercado agora não reage da mesma forma que reagiu no segundo semestre de 2015 e janeiro de 2016 (mês em que o câmbio chegou a R$ 4,1)? Além de Temer ter aprovado algumas reformas, ter arrumado muito a casa em diversos setores – marco regulatório do pré-sal, novo FIES, legislação do ensino médio, arrumação na Petrobrás, no BNDES, etc. – o tempo passou. Estamos mais próximos de 2018.
Adicionalmente, houve dois fatos novos positivos. O primeiro foi a forte dinâmica desinflacionária do primeiro semestre de 2017. Em dezembro de 2016, esperávamos no Ibre IPCA de 5% para 2017. Hoje nosso número é de 3%, ou 3,4% se houver a majoração da Cide. A dinâmica fortemente desinflacionária sinaliza que, na travessia até 2019, conviveremos com valores muito baixos para a taxa Selic. O que ajuda na dinâmica da dívida pública.
Adicionalmente houve surpresa desinflacionária positiva de 0,5 pp para a inflação americana no primeiro semestre. O processo de normalização dos juros internacionais continua, mas em ritmo ligeiramente mais lento. O mundo continua nos ajudando e nos dando tempo.
Tudo contribui para que tenhamos certo refresco até o processo eleitoral de 2018. Evidentemente, nos subterrâneos da economia a dívida pública continua a crescer. Se nada for feito, daremos de cara com a dominância fiscal em algum ponto no próximo mandato.
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